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Uma canção que expressa o nosso racismo ordinário

 



Nas últimas Copas do Mundo de Futebol masculino, 2018 e 2022, o canto “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” deixou de ser a principal canção que embala a torcida brasileira nos estádios de futebol.

A nova música deixou de falar do povo e passou a reconhecer os protagonistas das conquistas nos mundiais de futebol masculino. Tal reconhecimento merece destaque ao apontar o perfil socioeconômico dos torcedores que frequentam essa competição, uma classe afortunada acostumada com os privilégios da branquitude e seu desprezo pelas classes populares.

Entretanto, os privilegiados cantam, dançam e enaltecem jogadores pretos. O trecho da música diz que: “em 58 foi Pelé; 62 foi o Mané; 70 o Esquadrão; 94 Romário e 2002 Fenômeno.” Atletas pretos e pardos, reconhecidos pelo protagonismo de seus feitos futebolísticos, parecendo não questionar a cor da sua pele. Quando contextualizamos o cenário social brasileiro, esse fato é relevante, em razão dos vários discursos legitimadores do racismo expressos em variadas ações discriminatórias.

O mito da democracia racial, um racismo assimilacionista, justifica essa aceitação dos atletas pretos e pardos. No entanto, precisamos destacar que a nova canção é a expressão do racismo ordinário vivenciado no país.

Racismo ordinário, como adjetivo, é assim identificado por fazer parte da ordem do dia, um processo repetitivo, corriqueiro, habitual, regular, que está presente em todos os momentos, naturalizado como algo normal e sem questionamentos. No sentido figurado, é obsceno, mau-caráter e indecente. O racismo se faz ordinário por meio de práticas legitimadas em narrativas históricas, científicas, sociais, culturais, religiosas e políticas, que continuam a dar conformidade às relações pessoais e interpessoais na sociedade brasileira.

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A magia da bola em uma noite de iniciação



Meu filho começou a participar de um projeto de iniciação ao futebol e nossa noite de segunda-feira, agora, é de treinamento. O primeiro dia foi agitado, ou melhor, cheio de ansiedade até o horário marcado, e eu acompanhei seu nervosismo.

Tudo que ele sabe aprendeu com o pai no quintal de casa (meus amigos irão contestar o nível do aprendizado), jogando com colegas na escola, assistindo televisão e até no videogame, observando jogadas e depois procurando imitar.

Ir até o local do treino, envolveu muito medo e receio, sentimentos normais relacionados ao início de uma nova atividade. Sair de casa para jogar bola exigiu, deixar o videogame de lado e pegar a chuteira, meião, calção e camisa, como se diz no Rio Grande do Sul, vestir o fardamento.

Ao entrar no campo, o temor desapareceu, encontrou alguns amigos da sala de aula e, além disso, a bola é encantada, isto é, possui um poder mágico para promover a interação entre estranhos. As diferenças econômica, racial e de idade, desaparecem, enquanto outras começam a ser destacadas e essas estão relacionadas a familiaridade com a bola, condição física, técnica e tática, que mesmo na iniciação esportiva é comum ser reconhecida como “visão de jogo.”

Em nosso caso, a atividade é desinteressada, é uma atividade física para uma criança sedentária. Quando comparo nossas infâncias, a minha teve a rua como um grande playgrand a ser explorado. As brincadeiras e jogos diversos envolviam práticas corporais. Sem contar os espaços que ocupávamos, qualquer terreno baldio em condições mínimas para receber as marcações e traves, quando não praças e outros locais públicos, serviam de campo para imaginação, logo, contribuía para um maior desenvolvimento motor.

Atualmente, as crianças estão restritas ao acesso a quadras fechadas e privadas. Essas, por sua vez, são em sua maioria quadras de grama sintética, piso ou areia. Não são mais de terrão ou gramados irregulares cheios de buracos, poeira e lama. O famoso “morrinho artilheiro” deixou de fazer parte do jargão do futebol infantil. Não posso negar que ainda há gramados ruins mesmo no cenário profissional, mas o morrinho perdeu sua posição, principalmente, na iniciação.

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