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Texto apresentado na banca de tese Estudante-trabalhador e a socialização profissional: contradições da Lei do Jovem Aprendiz na região da Grande Florianópolis/SC

 



Quero antes de mais nada agradecer a presença de todos, saibam que os bons fluidos e energias trazem conforto e acolhida. Identificar novos amigos e ver os rostos familiares é um alento, porém, também aumenta minha responsabilidade.

Familiares e amigos, muito obrigado por estarem aqui.

Professores e professoras, membros da banca, que alegria compartilhar esse momento com vocês. É uma mistura de sentimentos, euforia e insegurança, essa última não quero atribuir a vocês com quem tive a oportunidade de conviver nos últimos 13 anos, com maior ou menor envolvimento, mas não posso negar quer ser avaliado gera sempre certa preocupação. 

Não se preocupem, pois, a insegurança é ainda um resquício do meu processo de socialização familiar e escolar, com tantos “nãos”, por exemplo: - não é pra ti!; - não acredito que foi você que fez; - não adianta tentar; ou, - não faz, tu não vai conseguir!

Mensagens que continuam ecoando e são acionadas em momentos como esse, algumas vezes paralisam, intimidando, outras, quando questiono servem para encorajar, mas nem sempre é fácil. Pessoalmente, estou me desconstruindo como homem, negro, esposo e pai, alguém que mesmo com alguns temores é muito feliz por ter tentado.

Chegar até esse momento da minha formação foi possível devido às políticas de ações afirmativas, sou fruto e resultado concreto dessa proposta de transformação que é prospectiva, que pensa o futuro e não se resume a uma reparação com o passado.

Agradeço a todos que lutaram e lutam para criação e manutenção dessa política. Sou feliz por estudar em uma universidade pública e de qualidade, lutemos por ela, ela é nossa!

Professor Alexandre acompanhou essa caminhada e sabe que procurei na universidade cursar sempre uma ou duas disciplinas a mais do que exigido por semestre, sempre quando foi possível e às vezes quando não. O desejo não era acelerar a formação para antecipar a conclusão, era sim para aproveitar ao máximo as oportunidades de aprender em uma universidade pública e de qualidade. 

Faço essa abertura pensando desmistificar um certo vitimismo ou, por outro lado, a exaltação do mérito pessoal. Na verdade, é um sentimento que quer dizer, não foi fácil, mas estou aqui e, penso, estou melhor que quando comecei.

Os membros da banca são avaliadores extremamente qualificados para discutir o resultado da pesquisa que envolve os jovens aprendizes. Que grande honra contar com a participação de cada um, por aceitarem ler e contribuir com esse trabalho. 

Professor Alexandre foi um orientador incansável, um facilitador, incentivador e solícito.

Professora Marisol, representa os professores e professoras que me receberam na graduação em Ciências Sociais.

Professora Ione, representa os professores e professoras que pude conhecer na pós-graduação. Eu fui um entusiasta “aluno repente”, explico, que essa é uma expressão utilizada para designar os alunos que participam mais de uma vez das muitas disciplinas ofertadas pela professora.

Professora Márcia, representa os novos vínculos e amizades que vou desenvolvendo ao ampliar a rede de contatos. Sua acolhida foi extraordinária.

Professor Matheus, representa os colegas de graduação que se afirmam como novos pesquisadores e intelectuais brasileiros.

Professor Cristiano, é um parceiro de escrita e alguém para dividir as agruras da vida acadêmica, sempre rigoroso, compreensível e um incentivador. 

Professora Danielle, representa os colegas do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea - NEPESC. Recentemente, tive a oportunidade de dizer ela que seu exemplo e de todos os outros, serviu para impulsionar o meu desejo de cursar a pós-graduação.

Professor Fábio, igualmente, representa um grupo de professores que possuem grande generosidade intelectual, estão sempre dispostos a dar conselhos ou orientações que fazem grande diferença. 

Professores, mais uma vez obrigado por participarem da minha formação. 

Estendo esse agradecimento aos servidores do Centro de Ciências da Educação e da Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Educação.

Agradeço aos jovens e as instituições, entidades qualificadoras que participaram da pesquisa.

Aproveito para agradecer ao Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina Pós-Graduação - UNIEDU/FUMDES, que proporcionou um apoio fundamental para realização da pesquisa e para formação desse pesquisador.

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A pesquisa surge de uma vivência e de uma inquietação, a primeira por realizar atividades profissionais ligadas a aprendizagem, oportunidade que acontece em 2012, e a segunda, os estudos que realizei durante a graduação e mestrado que envolveram a escolarização do estudante-atleta despertavam aproximações e comparações com o estudante-trabalhador. 

Assim, nos últimos anos foi dedicada atenção ao estudante-trabalhador, especificamente, o jovem aprendiz. Jovens que se inserem no mercado de trabalho por meio da Lei da Aprendizagem (10.097/2000), um dispositivo que obriga empresas de médio e grande porte a contratarem jovens com idade entre 14 e 24 anos na proporção de 5% a 15% do seu quadro funcional.

A Lei como política para juventude possui objetivos específicos, proporcionar renda, experiência profissional, continua escolarização, condições de trabalho adequadas e erradicação do trabalho infantil. Portanto, visa proporcionar, ao jovem formação profissional e inserção no mundo do trabalho, ações que supostamente garantam uma maior empregabilidade e sua autonomia. 

A Aprendizagem, nesta ótica, parece ser um dispositivo capaz de promover mudanças significativas na trajetória de vida dos jovens, uma vez que o contato com o mercado de trabalho e as experiências provenientes, podem ensejar novos campos de possibilidades. Em suma, a aquisição de capitais cultural, social e econômico, favorecem o acesso a conhecimentos que ampliam as oportunidades de futuro, podendo o jovem reorientar ou construir novos projetos pessoais a partir das experiências na empresa contratante. 

O tema do estudante-trabalhador possui relevância quando pensamos sobre as transformações nas relações de trabalho e nos meios de produção. Portanto, possibilita observar uma nova experiência de vida em meio a um mundo globalizado, com relações de trabalho flexíveis e precarizadas. 

Ao mapear os jovens inseridos em programas de aprendizagem, pode-se atestar ou refutar a hipótese de que a lei amplia o campo de possibilidades, bem como, proporciona mudança e transformação social de um grupo populacional identificado como protagonista de suas ações no Século XXI. A pergunta norteadora da pesquisa questiona: como a Lei da Aprendizagem, uma política pública voltada para juventude, tem contribuído para mudanças de perspectivas sociais, econômicas e mesmo culturais dos jovens aprendizes? Em outras palavras, a socialização profissional desenvolvida por meio da Lei de Aprendizagem (Lei 10.097/2000) promove transformações na autonomia do jovem?

Para responder essa questão identificamos algumas contradições que são inerentes ao objeto e que procuramos tensionar: (1) condições de trabalho x entrada antecipada; (2) experiência profissional x força de trabalho barata; (3) reconhecimento social x endividamento precoce; (4) status de trabalhador x posição inferior na hierarquia empresarial; (5) respeito ao desenvolvimento físico, moral e emocional x adultização; e, (6) escolarização contínua e concomitante x jornada de trabalho.

Essas contradições são dilemas vivenciados pelos jovens durante seu itinerário formativo, tal constatação reforça a importância da investigação sobre os impactos da Lei da Aprendizagem. As contradições afetam diretamente o aprendiz em seu momento de maior transformação pessoal – posterior à infância e anterior à vida adulta – e durante o processo de socialização profissional. 

Os dados foram produzidos a partir das discussões presentes no Fórum de Aprendizagem Catarinense e da aplicação de 669 questionários preenchidos pelos jovens aprendizes vinculados a entidades qualificadoras na grande Florianópolis que aceitaram participar da pesquisa (total de 11 instituições).

A construção histórica e social da Lei da Aprendizagem representa lutas e conquistas dos trabalhadores. O texto foi dividido em sete partes, uma apresentação e seis capítulos. 

No primeiro capítulo, apresentamos os principais componentes históricos e sociais que permitiram a regulamentação da Lei da Aprendizagem, os motivos ou incentivos para sua criação. 

O capítulo dois traz a relação do pesquisador com o campo, desde a escolha do tema até os meandros metodológicos na construção do objeto. 

O terceiro procura evidenciar parte do debate sobre juventude e políticas públicas que envolvam trabalho, renda e escolarização. 

O capítulo quatro, apresenta os dados produzidos por meio do questionário preenchido pelos jovens aprendizes e uma análise descritiva. 

No quinto capítulo, os dilemas presentes na Lei da Aprendizagem são confrontados com as informações produzidas nos questionários para contextualização das implicações na vivência dos aprendizes vinculados às entidades qualificadoras e empresas da Grande Florianópolis. 

O capítulo final sistematiza as observações e resultados obtidos com o estudo proposto, assim como, traz as considerações finais do pesquisador.

Os dilemas que fazem parte da Lei da Aprendizagem representam uma relação dialética que constitui o sujeito contemporâneo. Uma contínua necessidade de ter sua individualidade reconhecida em meio às afirmações da sociedade que impõe e espera uma postura de acordo com seus princípios. Sociologicamente, falamos da eterna tensão entre indivíduo e sociedade.

Ao procurar compreender o estudante-trabalhador, especificamente, o jovem aprendiz, sujeito que se encontra entre os 14 e 24 anos, que se insere no mercado de trabalho formal através de um contrato especial, entendemos ser possível desvelar os desafios de uma transição para a vida adulta que passa pela formação pelo trabalho. Em meio a essa metamorfose pessoal, o jovem necessita aprender o que é ser trabalhador, conforme o modelo idealizado na vida produtiva.

As incertezas de um mundo no qual a linearidade não mais condiz com aquela vivenciada por gerações anteriores provoca medos e angústias. As muitas encruzilhadas que são apresentadas para o jovem que inicia sua carreira profissional dizem respeito à sua estabilidade e futura aposentadoria, isto é, enquanto a geração dos seus responsáveis vislumbrava uma profissão almejando que em algumas décadas estaria “descansando”, o jovem não tem mais essa projeção de maneira cristalina, ele precisa deslocar seu interesse para questões imediatas, como a sobrevivência e se possível seu bem-estar. Ações que no contemporâneo são identificadas como uma condição de autonomia do sujeito, uma busca constante por liberdade para fazer escolhas e direcionar a própria vida. 

Tal condição perpassa pela gestão de si, o sentimento de melhorar sempre deve ser sua principal característica, servindo para retroalimentar um sistema que ressignifica o modelo do trabalho e do perfil profissional. O trabalhador precisa ter autonomia como profissional, saber contextualizar sua empresa, produtos, serviços e a si mesmo, almejando conquistar seu protagonismo através da atividade profissional. O mundo do trabalho se beneficia desse empenho e desejo, prometendo reconhecimento e uma suposta valorização, o que acaba permitindo intensificar os resultados produtivos do empreendimento. Podemos afirmar que a Lei da Aprendizagem simboliza um movimento de atualização do capitalismo, refletido no perfil do novo trabalhador.

Ser um jovem aprendiz está associado à condição de juventude como um tempo de construção. Sua facilidade de adaptação em uma sociedade repleta de incertezas e a valorização de sua idade plástica, orientam para antecipação de uma formação pelo trabalho. Uma jornada repleta de sonhos, crenças e desafios, em um cenário competitivo e excludente, de autoexploração. 

Destacar a juventude e sua representação social parece permitir no presente vislumbrar o futuro. Possibilita fazer conjecturas sobre o futuro modelo da sociedade. A juvenilização iniciada no século XX deixou de estar restrita à indústria cultural e invadiu as muitas esferas do social. O trabalho não ficou indiferente, seu impacto pode ser observado nas características e no perfil profissional idealizados no presente, com características associadas a representação de juventude, e projetadas para um cenário de maiores incertezas.

Identificar essa mudança, parece contribuir para desvelar as ações que transformam o modelo capitalista, seus discursos e narrativas sobre a autonomia do sujeito. Ser um empreendedor é a afirmação da escolha do mérito e da competição como norteadores das relações em uma sociedade cada vez mais individualizada e individualista.

A partir das observações e análise dos questionários preenchidos por 669 aprendizes na região da Grande Florianópolis/SC, podemos dizer que as argumentações até aqui apresentadas são experienciadas em maior ou menor grau, isto é, os jovens expressam satisfação com a oportunidade de trabalho e de formação. No entanto, também enfrentam dificuldades de adaptação ou de conciliação dos muitos afazeres ainda em tenra idade.

Podemos dizer que a Lei cumpre com seus propósitos, sejam a possibilidade de oportunizar aos jovens uma experiência profissional, incentivar a escolarização, gerar renda, garantir condições de trabalho adequadas e ampliação do campo de possibilidades. Ou, ainda antecipação da adultização, inclusão na sociedade de consumo e formação voltada para o novo cenário do mundo do trabalho. 

As contradições presentes nesse processo indicam que a Lei possui importância como dispositivo capaz de movimentar as relações e tensionar a representação de juventude, formação profissional e trabalho. Ao compreender suas incongruências podemos desvelar mais uma camada do tecido social que tem na juventude uma relação de amor e ódio, enquanto os jovens desejam tornar-se “meninos de verdade” (um paralelo que realizamos com a As aventuras do Pinóquio e seu desejo de ser menino de verdade).







As Olimpíadas e a mudança na maneira de assisti-la


 


Os Jogos Olímpicos da Era Moderna recomeçam com o atraso de um ano, com incertezas e inúmeros procedimentos sanitários que alteram seus rituais, pré e pós competições. Há expectativa de novos recordes, campeões e a afirmação de atletas que demonstraram nos anos anteriores serem promessas de bons resultados.

Diferente dos últimos Jogos, convivemos com uma situação inusitada, a ausência de público durante as competições, algo que se tornou comum no mundo em razão da pandemia de COVID-19. Alguns países com número elevado de vacinados (imunizados) flexibilizaram suas regras de isolamento, exemplo dos Estados Unidos da América e outros no continente europeu, como observado durante a Eurocopa 2021, competição vencida pela seleção de futebol masculino da Itália.

A presença do público embeleza o cenário das competições e sua ausência tem um efeito anímico, permitindo conjecturas que discutiremos, por um bom tempo, como acontece em relação ao Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino da Série A 2020, o quanto a torcida poderia contribuir para que a taça de campeão ficasse em outras mãos?

Debates que perduram em muitas rodas de conversa, no entanto, assistir aos Jogos mudou, pois, com o silêncio das arquibancadas escutamos todos os sons produzidos pelos corpos na execução dos movimentos, quedas, trombadas, bloqueios, chutes, lançamentos etc. Sem contar a poética dos eventos com as mensagens de incentivo, cobrança, críticas, xingamentos, provocações, justificações, euforias e tristezas. Houve momentos em que o soluço dos atletas em prantos de dor ou de pesar, foi ouvido para além da imagética de um quadro congelado ou mesmo em movimento.

Na transmissão dos Jogos Olímpicos esse cenário estará ampliado, imagens de corpos e dos sons produzidos por eles, estarão nas telas dos diversos dispositivos telemáticos, assistidos por um público apartado dos seus heróis e ídolos. Os veículos de mídia irão alimentar o interesse dos torcedores por determinadas modalidades, definindo as prioridades de transmissão de acordo com a compatibilidade da grade televisiva. Aqueles privilegiados que podem contratar canais de televisão privados ou plataformas streaming terão acesso aos conteúdos durante as 24 horas do dia e da noite. Portanto, as imagens ampliam-se na mesma magnitude da visibilidade dos corpos e seus feitos esportivos.


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https://ludopedio.com.br/arquibancada/as-olimpiadas-e-a-mudanca-na-maneira-de-assisti-la/

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https://drive.google.com/file/d/1do3iGtaPjACQm43q1jQi3SiEoW0js6Oz/view?usp=drivesdk

Qualquer filho(a) é digno(a) de ter oportunidades educacionais

 



Nos últimos tempos estamos nos acostumando com grosseria e falta de empatia explícita. Meu orientador, Professor Alexandre Vaz, diz que alguns comentários dos atuais líderes governistas como que dispensam análise sociológica. Não há meias-palavras ou argumentos para analisar, simplesmente, falam aquilo que pensam sem necessidade de interpretação, apenas com compreensão é possível entendê-los.

O Ministro da Economia Paulo Guedes recentemente comentou que uma das políticas públicas de financiamento estudantil pagou a graduação do “filho do porteiro” que tirou zero na prova do vestibular. Que atrocidade é essa afirmação do Ministro! Ela me fez recordar que em 2007 quando a Universidade Federal de Santa Catarina aderiu às políticas de ações afirmativas, no vestibular para ingresso no ano seguinte, eu fui aprovado para a graduação em Ciências Sociais.

Realizar a matrícula não foi simples. Não que tivesse algum problema com minha documentação, mas havia ações judiciais que queriam embargar o processo, pois, segundo a alegação que traziam, as cotas estavam reduzindo as vagas no nível superior. Um argumento muito mesquinho e falho, já que as políticas públicas ampliaram o número de vagas, essas direcionadas para as ações afirmativas, sem impactar nas que já existiam. Durante o imbróglio e as incertezas que eram discutidas e apresentadas pela mídia local, um colunista de um dos principais jornais de Santa Catarina fez um comentário bem estruturado, mas injusto, sobre o assunto.

O jornalista embasou sua observação acionando o mérito e a disparidade das avaliações, atestando ser aquele processo seletivo um absurdo e defendendo que aqueles que o contestavam judicialmente estavam certos. Seus argumentos não convenceram e estimularam minha resposta, enviada por correio eletrônico. Meu primeiro contato foi respondido com brevidade, ele apresentava a mestiçagem como uma questão subjetiva para qualquer definição, voltando a afirmar a importância do mérito pessoal. Alegava, seu autor, inclusive, que no condomínio em que vivia, localizado em uma área nobre da cidade, um dos moradores era médico e negro. Seu comentário foi: “Ele conseguiu sozinho, todos os outros conseguem!”

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http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/qualquer-filhoa-e-dignoa-de-ter-oportunidades-educacionais/