Seja bem-vindo!

Total de visualizações de página

O Bra-Pel não é só mais um derby, ele é rivalidade contabilizada em emoção




Nem todos os clássicos podem entrar no grupo seleto dos confrontos centenários. Entre eles, alguns estão em um grau de rivalidade que exacerba o campo de jogo, influenciando o comportamento dos seus torcedores e de toda uma cidade.

Nesse grupo seleto, dos clássicos centenários, que são verdadeiras batalhas dentro e fora de campo, quero citar o derby do interior gaúcho, o clássico Bra-Pel. Em 2008, a Revista Trivela[1] indicou como o 22º confronto mais importante no país. Em 2016, o Globo Esporte[2] apresentou-o como o 30º embate mais lembrado entre torcedores brasileiros.
(...)

CONTINUAR LENDO EM:

As VÁRias regras no futebol e o seu efeito na VÁRzea



O futebol é uma das modalidades esportivas mais conservadoras. Mudanças em seu regulamento acontecem de tempos em tempos após muito debate e resistência. A alegação está centralizada VARiavelmente no objetivo de minimizar a interferência na dinâmica das partidas. Isso aconteceu com o tiro de meta (1869), a inclusão dos árbitros (1874), o tempo de jogo com 90 minutos (1877), a introdução dos pênaltis (1891), a criação das áreas (1902), a delimitação dos goleiros às áreas e o uso de uniforme diferente (1912), o número obrigatório nas camisetas (1939), as substituições em caso de lesão (1958), a utilização de cartões punitivos e dos pênaltis para decidir uma partida empatada (1970), o recuo de bola para o goleiro pegar apenas com os pés (1992) e a permissão para até 3 substituições (1995). Nos últimos anos, também temos a autorização de intervalo durante o tempo de jogo em condições extremas, como calor excessivo. No contemporâneo, falamos da utilização do Video Assistant Referee (VAR), também chamado de vídeo-árbitro ou árbitro assistente de vídeo.
(...)

CONTINUAR LENDO EM:


Goleiros, não só a bola decide sua divindade


A extraordinária magia do futebol
O futebol possui o apelo de ser o jogo dos deuses, momento em que terra e céu se aproximam. As marcações no campo o comprovam! As figuras geométricas podem ser um suporte para os rituais mágicos, são simbólicas, e no campo de futebol podemos destacar o círculo que significa o céu (universo, totalidade, perfeição) e o quadrado a terra (passividade da matéria, os quatro elementos). No tabuleiro esportivo o futebol promove o encontro entre o celeste e o terreno, fazendo-se local propício para que os atletas semideuses duelem.
(...)

CONTINUAR LENDO EM:

A carnavalização da ação política em hashtags (#)



Durante a pandemia, o acesso à rede mundial de computadores cresceu vertiginosamente, as pessoas assistem filmes, compram produtos, realizam cursos, trabalham em home office, participam de lives musicais, educacionais e debates. Concordo com a chamada de um comercial que diz ser este um momento de transformação, pois estamos aprendendo a ver o mundo das janelas de nossas casas e das janelas dos dispositivos móveis. O impacto disso tudo na sociabilidade contemporânea ainda não podemos identificar plenamente, mas sabemos que ele acontece e vai crescer, de maneira que apenas dentro de alguns meses ou nos próximos anos poderemos avaliar com mais clareza o quadro que ora se desenha.
(...)

CONTINUAR LENDO EM:

As cores das manifestações, uma ausência sentida e a necessidade de educar nossa ação




Ao observar o embate que cada vez mais acirra uma polarização, percebo que muitos símbolos e sinais acabam surgindo ou ressurgindo com força, marcando espaços de poder. Sou sincero em dizer que muitos acabam por me assustar, digo isso independentemente do lado. Meu atual desconforto está relacionado ao uso ou desuso de uma cor que sempre simbolizou e sensibilizou as mobilizações e manifestações. Tenho observado que a cor branca passou a ser pouco utilizada em protestos, cartazes, vestimentas e mesmo em discursos ou pronunciamentos. Faço referência à cor branca que no mundo está relacionada à paz e ela deu significado a grandes manifestações como ponto de união e convergência dos interesses.
(...)

CONTINUAR LENDO EM;

Ku Klux Klan e a intolerância, uma história que deve ser lembrada



Quando falamos de racismo, podemos facilmente também acionar os termos preconceito e intolerância. Essas expressões, podem ser exemplificadas na Ku Klux Klan. A sigla “KKK”, pode parecer engraçada, mas infelizmente, não é! A história dos Estados Unidos, cheia de lutas e conquistas, guarda uma mancha de ódio, prepotência e intolerância. O fim do regime escravista colocou o desejo de liberdade dos Estados do Norte em oposição aos interesses dos Estados do Sul. A disputa era pela condição de continuar a tratar como propriedade, inúmeros negros que trabalhavam nas fazendas do Sul, contados como bens de produção que representavam o prestígio das famílias que os possuíam. Somado a esses interesses, também tínhamos o pensamento presente na época de um evolucionismo social, o qual idealizava a sociedade dividida em civilizados, bárbaros e selvagens. Portanto, os negros eram selvagens que precisavam ser domesticados, ou melhor, civilizados. O respaldo de tal pensamento, foi encontrado em algumas orientações religiosas que atribuíam aos civilizados a capacidade de ensinar e proporcionar a salvação para aqueles que não conheciam o Deus ocidental.
(...)

CONTINUAR LENDO EM:

Entre Pedros o Brasil que virou ‘Pedreira’


https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/entre-pedros-o-brasil-que-virou-pedreira/

Durante minha infância e adolescência, o programa Escolinha do Professor Raimundo alegrou tardes e noites no país que tinha na televisão sua principal fonte de entretenimento. Chico Anísio sempre com humor satírico, hilário e, muitas vezes, crítico, liderou uma turma com personagens que, se supunha, representavam a diversidade brasileira e expressavam traços de supostas identidades culturais presentes no povo. A Escolinha exaltou a caricatura de alunos, em muitos momentos, desinteressados, individualistas, irresponsáveis e sem compromisso de aprender. O “jeitinho” ou a malandragem também nortearam o reconhecimento de alguns personagens que eternizaram chavões, por vezes, depreciativos da condição humana.

A propósito dos ataques a Taison e Dentinho



M-A-C-A-C-O
MA-CACO
MACA-CO
MA-CA-CO

Um agrupamento de letras carregado de ideologia. Não é só o beabá? Ah, se pudéssemos dizer isso sem medo do peso que a expressão carrega (!), ainda mais considerando a história de uma diáspora e de como os negros foram, outrora como hoje, tratados em terras brasilianas. No momento em que alguém se dirige a um negro (pessoa determinada) chamando-o de MA-CA-CO, o xingamento é estendido a todos os negros. Mas não é apenas a representação de um animal? Para o cidadão de bem, criacionista, não parece ser, já que para ele existe a necessidade de confirmar uma suposta posição de superioridade. A odiosa manifestação do preconceito, aliás, é proferida em público. A verbalização acontece em expediente jocoso, debochado e irônico, que promove tanto a exaltação do agressor como a humilhação da vítima.
(...)

CONTINUAR LENDO EM:

A minha manifestação sobre um manifesto

O texto “Manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade racial aos deputados e senadores do congresso brasileiro” (2006), procura mobilizar as pessoas para que pensem sobre a desigualdade racial no Brasil. A primeira questão apontada, no manifesto, é a ênfase de ordem econômica que justifica o preconceito, sendo uma situação de grande relevância por ser aquela que caracteriza a desigualdade. Embora, saibamos que não só a questão econômica pode pautar o preconceito, principalmente, quando pensarmos que em outros locais mesmo quando a população possui uma semelhança de cor, ainda assim, os preconceitos estão presentes, infelizmente, apenas mudando os atores. Isso, acontece, pois, envolve sempre uma condição que se vincula a uma relação entre dominador e dominado.

No Brasil, devido ao contexto histórico em que toda uma população negra foi submetida a um sistema que não só expropriava seu trabalho, mas sua condição humana, e que mesmo após sua ‘liberdade’ permaneceu sedimentada numa hegemonia que se faz dominante impossibilitando seu desencilhamento. Os muitos veículos de informação, em sua maioria, pertencentes a uma elite dominante e crente em sua hegemonia, reforça e conforma estereótipos que acabam por ser internalizados pelos membros da sociedade que passam a aceitar como naturais algumas questões, inclusive, os negros assumem o discurso e acabam professando não ter capacidade de galgar posições de prestígio nos estratos sociais superiores. 

Durante o início de século XX, o debate no mundo foi intenso a respeito da questão racial, a partir da metade final, os órgãos internacionais de maior reconhecimento deixam de realizar denúncias e passam a contribuir para alteração do quadro de discriminação no mundo. O Brasil, como difundido, é uma nação ímpar, pois as relações se comportam de maneira distinta do restante do mundo, pelo menos no imaginário que envolve o racismo. No entanto, não podemos fugir das máscaras que criamos e pintamos com cores carregadas de preconceito e que acabam escondendo a própria postura preconceituosa. Talvez por essa razão, as pesquisas mostram que somos preconceituosos ao preconceito, isto é, 97% das pessoas afirmam conhecer alguém preconceituoso, mas na mesma proporção não se consideram preconceituosas. Nesse exemplo, a máscara do racismo à brasileira se apresenta sublime no salão, bailando ao som da música sem qualquer criticidade. 

Algumas medidas, já no século XXI, são formuladas para promover uma mudança, quem sabe estrutural, e estão relacionados ao cenário global com interesses que permitam ao país continuar a usufruir dos acordos internacionais. Sendo assim não partem de um desejo sublime em transformar a realidade social, são imposições internacionais que tendem a permitir o país permanecer no jogo econômico global. 

Uma das possibilidades que surgiram, no debate, foi a implantação do sistema de cotas, as reconhecidas políticas de ações afirmativas. Esta é apenas uma peça movimentada no grande tabuleiro da mudança social. Seu simples movimento gerou um embate gigantesco no país, principalmente, por alterar o quadro referente à hegemonia dos privilégios da classe dominante.

 

As cotas passam a ser um mecanismo de incluir novos integrantes no carrossel da educação, o que proporciona maior prospecção dos postos de trabalho, incentivo a ocupação de espaço até então hegemônicos e, consequentemente, um incentivo efetivo à mobilidade social. Seu efeito é a médio e longo prazo, visando não só colocar indivíduos ‘segregados’ em posições de prestígio, mas mudar o imaginário presente e realístico da situação do olhar do negro sobre si mesmo e dos outros sobre o negro. Seu resultado deve estar associado a uma nova perspectiva do local em que ele pode estar e deve chegar ou, possivelmente, superar.

O objetivo do manifesto é suscitar e apresentar um pouco da discussão que se tem prolongado por décadas no país e que ainda não foi aceito por grupos restritos da população brasileira. Penso, que o manifesto cumpre seu propósito de mobilização social em prol das indiferenças, desigualdades e preconceitos que perduram por séculos e foram forjados em meio a barbárie da desumanização.


*Confira a íntegra do manifesto a favor das cotas, disponível em: https://www.geledes.org.br/confira-a-integra-do-manifesto-a-favor-das-cotas/. Acesso em: 24 de jul. de 2020. 

Texto produzido na disciplina de Estudos Afro-Brasileiros – ANT 7701, Ciências Sociais/UFSC, 2011.

O caso do acaso

      Que caso envolve o acaso sendo que o imprevisto é sua melhor descrição? Como entender o inesperado, o desconhecido e o furtivo? O acaso, no imaginário se relaciona a fenômenos inexplicáveis e que se justificam por si só. O medo e o receio, criados para justificar tal atitude, passam representam eras e que continuam a atemorizar a humanidade.

        A ciência em sua busca constante por conhecimento, em alguns casos nega sua existência, justificando que a crença no suposto milagre só é evidenciada por não saber sua causa aparente. O conceito que atribui toda consequência sendo originária de uma causa é verdadeiro, na medida, em que as reações esperadas correspondem ao que se quer encontrar. Mas, muitas vezes, a sede por ver os resultados almejados pode cegar o olhar, mesmo cauteloso, sobre o resultado do acaso.


     O acaso pode em algum momento ser encarado como aquilo que é novo. Infelizmente, a novidade traz temor e desconhecimento, tudo que causa insegurança se justifica pelo inesperado. Então a causa do acaso é o caso? Talvez o momento de uma variável não pensada, por menor que seja, que possibilita um resultado ou uma ação diferente daquilo que se espera encontrar.

     As diversas leis da natureza desvendadas pela humanidade ainda não dão conta das infinitas probabilidades possíveis. Como lançar uma flecha no espaço, facilmente identificaremos sua causa, e concluímos um efeito ou resultado prático através de cálculos diversos sobre a força do lançamento, peso da flecha, curvatura de lançamento, velocidade etc... Isso é o que esperamos na lógica causa-efeito, mas no momento em que outro corpo atravessar sua trajetória, interromper seu curso, muitas vezes acreditaremos que seja o acaso. Talvez para muitos que trabalham fechados em sua redoma do possível, justificam como sendo um simples erro cálculo ou uma violação da sua experiência. Um procedimento que necessita ser revisto, pois se considerar o acaso do choque entre os dois objetos perceberá ser apenas mais uma variável não presumida anteriormente.

        O acaso mais do que o novo e desconhecido, pode ser dito ser aquilo que sempre existiu, ou melhor, sempre esteve presente, porém não computado. O medo da humanidade é descobrir que o acaso sempre “esteve ali”, o que simboliza nossa mísera capacidade de dar conta do todo. Em outras palavras, nada mais do que nossa inadequação em lidar com o imprevisível e o imponderável que não podemos controlar.


*Texto produzido na disciplina de Estatística Aplicada às Ciências Sociais – INE 5127 (UFSC/2013).

Escrever e o desejo de manter as recordações de uma vida

           Quando penso em tudo que estou realizando como indivíduo e de como posso manter o registro de grande parte das realizações e das reflexões que faço, sejam delírios idealistas, ensaios criativos ou ponderações com uma adequada argumentação. Lembro que minha condição é distinta de meus ancestrais que, em razão da ênfase de uma cultural oral ou por falta da oportunidade de instrução, não puderam produzir registros deixando suas histórias como lembranças. Uma pequena parte de suas vidas permaneceu por anos e mesmo décadas na memória de familiares, mas que com o tempo se perderam acompanhadas da morte daqueles que ainda mantinham algumas recordações.
       
        Suas vidas foram impedidas de se tornarem imortais, histórias que foram esquecidas e que perderam a conexão com os descendentes, pois não deixaram recordações, sejam elas: imagens, objetos ou escritos. Quem são eles? O que fizeram? O registro de suas vidas se foi, porém, sua existência terrena ainda ecoa ao permitir que eu, nesse momento, pense sobre eles. Desejo, deixar meu apreço mesmo não os conhecendo, talvez muitos de seus sonhos eu, hoje, represente uma certa concretização. Pode parecer prepotência, no entanto, quando se constrói uma história que não só foi invisibilizada como também foi esquecida, posso rogar por alçar um legado que valoriza e reconheça todos que vieram antes de mim.

        Minha história só é possível, devido às histórias que existiram antes. Hoje, como resultado, uma certeza eu tenho, cada palavra de meus escritos registram não dados de pesquisas ou conhecimentos adquiridos sobre um determinado tema. A escrita que aqui deixo, perpétua minha própria existência. Isto é, o escritor sempre deixa algo de si nas linhas que publica. Logo, estou nesse texto e em outras publicações, deixando um pouco da minha personalidade, mesmo que em pequenos fragmentos. Ao escrever expresso por meio da escrita alguns pensamentos, representações de uma dada visão de mundo, reflexões sobre a vida e a sociedade na qual tive a oportunidade de viver. Assim, entendo que deixo uma recordação para que no futuro os interessados (descendentes) possam reconstruir parte de quem eu sou. Portanto, escrevo para não ser esquecido e, quem sabe, conquistar a dita imortalidade.

        Nossa existência, quando já não estamos presentes, é recontada por meio das recordações, enquanto elas estiverem materializadas serão fragmentos para que alguém sempre possa lembrar e dizer que estivemos por aqui. Escrever garante no futuro um diálogo com o leitor que acessar as páginas escritas ou, pelo menos, permite continuar sussurrando conselhos quando o que restar forem apenas palavras que representam recordações.




Ser negro e o padrão de ser duas vezes melhor

Quem nunca escutou a expressão que diz: "negro precisa fazer as coisas sempre duas vezes melhor que os outros". Muitos não gostam dessa frase, alguns não entendem e outros crescem escutando como uma oração que não deve sair da mente, enquanto se aventuram pelo mundo.

Caso tenha percebido, essa situação desencadeia um estado de alerta mental que se constitui muito estressante, agonizante e que exige muita resiliência pessoal.

Temos a obrigação de perceber que negros e negras mesmo fazendo coisas semelhantes a outros indivíduos brancos, sejam ações positivas ou negativas, no momento do reconhecimento, o elogio não será tão grande, pois não fez mais que a obrigação e, principalmente, quando existir falha ou demérito se está fadado a adjetivações pejorativas e ao castigo em praça pública.

O pelourinho apenas deixou de estar localizado no centro da cidade para estar nas janelas dos mais variados dispositivos digitais. Infelizmente, ainda conta com uma plateia atônita e satisfeita, pois para ela apenas se confirma uma suposta natureza.

Se, agora, você simplesmente não entender essa realidade, nunca vai saber o motivo de tanta luta!!!!



A trajetória de vida entre a hipocrisia e a verdade

O mundo se mostra cada vez mais sórdido e nosso país revela diariamente uma nova aberração. Tal situação permite entender por que Renato Russo (Legião Urbana) perguntava: que país é esse? Nos últimos anos, uma horda se ergueu evocando como mantra um escrito bíblico que diz: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32). Realmente, afirmo ser verídica essa premissa, embora, também conhecer a verdade em alguns momentos podem ser uma maldição.

Infelizmente, quem professa pode ser identificado por outra escritura: “aí de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas” (Mateus 23:27). Ser liberto das mentiras é o desejo de um governo que se constrói na base da hipocrisia aberta, pois aquilo que deseja como lema parece se apresentar como sua maior fraqueza, a mentira sistemática. Um comportamento que se faz endêmico, seus frutos carregam a árvore e caem podres, cheios de falsas verdades. Os exemplos se acumulam, a partir do grande orientador da ideologia demagógica, para não dizer hipócrita, que autointitulado se diz ser filósofo, mas frequentar a sala de aula, nem pensar; também temos título de mestrado realizado em escola dominical; autoplágio em escritos científicos; plágio ou apropriação de autoria indevida; além de mestrado não realizado nos EUA. A última mentira no Curriculum Vitae do primeiro escalão brasileiro, isto é, na trajetória de vida do indivíduo, avançou um nível, agora temos doutorado não concluído e, logo, pós-doutorado inválido (a menos que seja possível realizar sem o pré-requisito da titulação anterior).

Para muitos isso não espanta, já que no Brasil 7 em cada 10 currículos são melhorados propositalmente para destacar supostas vantagens na seleção profissional. Um atrevimento que não podemos entender como aceitável e nem dizer que se restringe a determinado partidarismo, ideologia ou momento histórico. O que entristece, é perceber que esses profissionais realizaram palestras, aulas e consultorias recebendo honorários com base em títulos inexistentes.

Pergunto, podemos identificar como uma postura tipica do ‘cara de pau’? Talvez, no entanto, mostra que os insucessos são difíceis de serem admitidos. Na trajetória de vida em que o mérito é o princípio norteador, apenas sucessos cabem no resumo da história, mesmo eles fundamentados em mentiras. A necessidade de ser alguém importante, impede a possibilidade de ter a maior e a melhor graduação, ser estimado por falar a verdade.

Eu sou o chão...


O que falar do chão? Uma base firme ou movediça capaz de atolar. Que chão posso falar? O de terra batida na casa da avó. O de tijolos alinhados como ladrilhos na casa do avô. O de tacos de madeira da casa por onde andei com pátio de areia. Da estrada de terra, caminho de casa. Da rua de paralelepípedo, caminho da escola, ou das avenidas cobertas de asfalto que levam para longe em direção ao centro da cidade.

O importante é saber que esse chão acumula poeira, recebe chuva, permite a formação de inúmeros buracos para mostrar que a perfeição da reta e a sinuosidade da curva podem ser quebradas. Os passos neste chão são cuidadosos, alguns mais próximos à natureza com insegurança, inocência e sentimento. Outros, com mais racionalidade, proteção e segurança. Alguns são passos rápidos e velozes para não se perder atrás ou à frente da modernidade. Muitas vezes, passos lentos que acompanharam a experiência e o resultado do tempo.

A grande pergunta é onde quero chegar? O momento vivido recorda cada um destes chãos, pois não sou apenas um agora. Sou todos, articulando um caminho e uma direção que se faz com passos. Passos no chão de partida e de uma nova chegada a todo instante. Se há um chão maior ou menor, não pode ser dito, pois, a melhor base é o chão no presente. Cada pedra, poeira, buraco e lama serviram para entender que o chão almejado é um lugar limpo para os pés, portanto, independente de ser terra batida, tijolo, madeira, areia ou piso cerâmico. O que importa é ter um chão para reconhecer como seu e os pés se apresentarem limpos. Devo pensar, onde está esse lugar? Não sei, mas o ideal é identificar o chão a se pisar no agora.



Brasil Pedro Pedreira

Durante minha infância e adolescência o programa de televisão Escolinha do Professor Raimundo alegrou noites, tardes e finais de tarde. Chico Anysio, sempre com humor satírico, hilário e, muitas vezes, crítico, liderou uma turma com personagens que representavam a diversidade brasileira e expressavam traços de supostas identidades culturais presentes no povo. A escolinha exaltou a caricatura, em muitos momentos, desinteressada, individualista e irresponsável com o compromisso de aprender. O "jeitinho" ou a malandragem também nortearam o reconhecimento de alguns personagens que eternizaram chavões, por vezes, depreciativos da condição humana.


De todos os personagens, entre eles, Pedro Pedreira sempre pareceu ser questionador dos fatos, aquele que suscitava a contradição pela negação pura ou também estimulava um ceticismo outrora saudável e pertinente. Pessoalmente, enquanto assistia os episódios, pensava como pode negar fatos históricos? Sua performance artística expressava tamanha confiança ao apresentar propostas absurdas e esdrúxulas de (contra)provas para que pudesse então aceitar algo como verdade.

"Não me venha com chorumelas!", era o bordão do personagem Pedro Pedreira. No passado era cômico sua descarada audácia, intransigência e ignorância cega. O que produzia boas risadas, pois a piada e o humor eram o centro da encenação. Hoje, triste percebo que o Pedro Pedreira deixou de ser um traço da representação do brasileiro e passou a ser o modelo aceito na regência das relações políticas, econômicas, sociais e culturais. O cômico da ficção virou tragédia na realidade de um país que transformou a sátira caricatural e festiva em exaltação da barbárie física e intelectual.

Não me venha com chorumelas é o retrato do Brasil contemporâneo, com muitos Pedros Pedreiras sem disposição ao aprendizado e ao debate coletivo. Opulentam certa altivez que se reduz a gritos e ao dedo em riste, expressões do desejo de sempre dar um ponto final as discussões. Apesar de seu ponto de vista envolver uma dada perspectiva de mundo, por mais cômica ou hilariante que possa ser, aparentam uma visão carregada de argumentos que revelam ignorância e maldade em uma sociedade com informações disponíveis de maneira muito facilitada. Os Pedros Pedreiras vendam os olhos e tapam os ouvidos para o óbvio, destilando os seus sensos críticos de forma difusa e deslocada.

Essa é a realidade fatídica de um Brasil Pedro Pedreira que aguarda sempre um não me venha com chorumelas, uma expressão que foi atualizada no "é tudo Mi Mi MI" e no "choro é livre". O Brasil Pedro Pedreira é rancoroso, sisudo e agressivo. Uma nova imagem de um Brasil que aceitou a piada como realidade e a “verdade” como uma piada. Nosso país tem sua nova representação, Pedro Pedreira ganhou o protagonismo assumindo uma marca cada vez mais indelével. Para suportar esse momento, somente parafraseando o personagem, “só enfrenta quem aguenta!”



Versão final do texto com o título "Entre Pedros o Brasil que virou ‘Pedreira’, disponível em: https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/entre-pedros-o-brasil-que-virou-pedreira/


O quanto eles sabem para nossa atualidade

O ensaio possui o propósito de articular dois autores, Comenius e Rousseau. Embora o contexto de suas vidas e propostas serem distintas, inclusive distantes devido o período histórico, buscarei analisar pontos de divergência e de aproximação em suas propostas para educação, procurando então fazer como proposto, um exercício de relação com os desafios da atualidade no ensino e na educação.
     O ponto de maior divergência entre os dois autores encontra-se na condição da criança com relação ao aprendizado e consequentemente do “homem” durante sua sociabilidade. Comenius entende que a criança imaculada necessita de todo aprendizado para tornar-se plena em sua sociedade. Por isto a educação é de suma importância para seu desenvolvimento tanto para o bem do seu convívio ‘na’ e ‘para’ com a sociedade, como também no seu desajuste no não cumprimento daquilo que pensamos ser moralidade.

"Fique estabelecido, pois, que a todos os que nasceram homens a educação é necessária, para que sejam homens e não animais ferozes, não animais brutos, não paus inúteis". (COMENIUS, 2006, p. 76)
 
        Rousseau compreende que o homem desde seu nascimento é bom, não como Comenius na situação de imaculado, mas sim de natureza “divina” com pensamentos e atitudes boas. “Tudo é perfeito quando sai das mãos do autor de todas as coisas: tudo é degenerado pelas mãos do homem” (ROUSSEAU, 2002, p. 86). Para o pensador a educação, ou melhor, a sociedade com suas instituições e sua cultura corrompem este individuo, dando a ele outra natureza ou a corrompendo. Sua visão de educação é dividida em três maneiras de aprendizagem: a educação da natureza, a educação dos homens e a educação das coisas. Sua busca é pelo equilíbrio entre às três educações com ênfase na natureza, pois esta é a que desenvolve nossas faculdades intrínsecas para o bom desenvolvimento físico e psicológico.
     Os autores embora divirjam no ponto de partida desejam chegar ao mesmo ideal onde a educação dos homens pode amparar o individuo em seu convívio na sociedade. Com Rousseau surge o questionamento que a educação adestra a natureza do homem e que rompe com sua essência transformando-o em cidadão. Comenius está ciente desta capacidade de a educação de fazer homens e almeja a modelagem do individuo por meio da disciplina. “Alguém definiu o homem como um animal disciplinável, porque ninguém pode tornar-se homem sem disciplina” (COMENIUS, 2006, p. 71).
O dilema da educação aqui atingiu sua maior contestação: disciplina ou moderação? Qual a melhor maneira de construir o cidadão que almejamos? Esta é a grande pergunta a ser feita diante destes dois autores. Suas propostas entendem que o individuo requer aprendizado para se situar no meio social. Porém, um com maior ênfase no disciplinamento e no controle, outro propondo uma maior liberdade para interação com aquilo que está a disposição da criança para promoção do conhecimento. Entendem a instituição escola como formadora e reformadora de valores, começam a pensar e questionar o papel da família, a figura da mãe no processo de aprendizagem e qual a principal função do professor. Este trabalho como breve exercício não pretende responder este dilema, apenas reafirmá-lo na obra destes dois pensadores.
        No texto de Comenius podemos destacar devido seu contexto histórico, a influência da religião junto ao aprendizado, segundo o autor nosso objetivo como humanos é servir a “Deus e ao próximo”, como descrito nos livros cristãos. O vínculo da igreja norteia o convívio do individuo na sociedade, talvez por isto o disciplinamento tenha tanto destaque, pois a submissão é fator importante para a religião como aglutinadora da sociedade. Seu pensamento também dá os primeiros passos no sentido de que todos devemos ter a oportunidade de aprender na instituição escolar. Isto é, todos precisamos usufruir o aprendizado educacional e o conhecimento das ciências dos homens na busca de uma formação para cidadania.
        No tocante a Rousseau, algo que podemos lembrar é sua descrição alertando o exagero na proteção das crianças. Descreve o quanto elas ficavam enfaixadas e imobilizadas de modo a não correrem riscos e perigos. Incentivava a “liberdade” para interação mais plena das três educações, de certa forma como empirista percebia a necessidade do contato com as coisas e com a natureza para formação do conhecimento. Este sinal de alerta quanto à proteção excessiva na época, talvez nos pareça distante e até horripilante, ainda mais se pensarmos em repeti-los na atualidade. No entanto, quando comparamos nossas atitudes, será que não enfaixamos mais as crianças? Hoje colocamos as crianças em quartos, salas, casas ou apartamentos permanecendo isoladas das diversas experiências que poderiam ter com o meio onde vivem, pelos mesmos motivos apresentados de maior proteção e segurança. Os mais diversos aparelhos eletrônicos presentes em nossas casas que cativam a atenção de nossas crianças também aleijam ou deformam suas mentes assim como no passado as faixas deformavam seus corpos.

"Dizem que as crianças soltas poderiam ter se colocado em situações perigosas e ter movimentos capazes de prejudicar a boa conformação de seus membros. Eis um dos raciocínios inúteis de falsa sabedoria e que nunca foi confirmado por nenhuma experiência". (ROUSSEAU, 2002, P. 101)

     Sua ideia passa pela capacidade de viver do homem, pois seu conhecimento advém do sentir as experiências em sua vida e não de evitá-las. “Não é ensinar-lhe a suportar o sofrimento, é sim, exercitá-lo e senti-lo” (ROUSSEAU, 2002, P.97). Assim objetivava a interação constante com o meio para o pleno desenvolvimento de sua natureza e da experiência com as coisas.
     Os pontos ressaltados são efervescentes em nossa sociedade atual, o caráter e papel da escola continuam a ecoar como a instituição formadora de indivíduos para a vida em comunidade, mesmo que esta formação seja influenciada pelo Estado, religião e o mercado de trabalho. O desafio ao pensar com estes intelectuais é a necessidade sempre presente do desejo de melhorar a condição do homem sem que seus interesses, sua natureza e sua essência sejam deformadas. O tipo ideal de individuo é crítico, emancipado, disciplinado e altruísta. Todas as qualidades que a educação busca incutir por meio do conhecimento que pode torná-lo um cidadão. Porém, não podemos esquecer que o cidadão é apenas um dos papéis ou das máscaras que o individuo ao longo de sua vida irá representar junto a sua sociedade.


COMENIUS. Didática Magna. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2006. p. 71-76; 95-101.

ROUSSEAU, Jean Jaques. Textos Filosóficos. São Paulo, Ed. Paz e Terra, 2002. p. 82-103.

http://www.escrita.com.br/escrita/leitura.asp?Texto_ID=56164