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Projeto Aprendiz FAEPESUL 2021 - compilado de imagens.






Rostos que merecem ser reconhecidos



Ler o texto “Olhos d’água” (2016) da Conceição Evaristo é mergulhar na pergunta que ela faz sobre “qual a cor dos olhos da minha mãe?” A leitura do texto em alguns momentos aflorou uma sensível familiaridade, além de permitir relembrar experiências com as mulheres negras que estavam presentes na minha infância. Outra leitura incrível foi “O quarto de despejo” (2014) da Carolina Maria de Jesus que estimula ainda mais minha reflexão iniciada no questionamento sobre a cor dos olhos, mas que acabo perguntando a mim mesmo como eram os rostos das mulheres negras na minha infância?

Fiquei impressionado que sabia alguns nomes, porém, não lembrava de seus rostos, suas feições e detalhes que as diferenciavam. O que mais causou desconforto foi identificar que suas fisionomias são como borrões. Lembrei da estatura, cores de roupas, acessórios que gostavam, os lenços nas cabeças e os cuidados com os cabelos. Também recordo que sempre foram ótimas cozinheiras. Era maravilhoso visitá-las, sempre tinham boas refeições e saborosas sobremesas. Suas casas estavam perfumadas, limpas e organizadas.

Uma tia, em especial, minha madrinha de acordo com a tradição religiosa seguida por boa parte da família, sempre tinha uma flor de Jasmim em um copo ou um pequeno vaso em cima da mesa de sua casa. Ela era impregnada pelo doce perfume de Jasmim e hoje, toda vez que sinto o cheiro dessa flor, sou transportado para o apartamento dela no bairro Pestano em Pelotas/RS.

Certo, essa parece ser uma boa memória, mas qual o rosto das mulheres negras em minha infância? Sei que muitas ficavam em casa, dedicando seu tempo à família. Outras eram empregadas domésticas, faxineiras e tinham professoras com parentesco um pouco mais distantes, sem maiores contatos ou grande influência em minha vida.

Ao constatar essa realidade, penso sobre o que impede de lembrar seus rostos, fazendo ver apenas vultos familiares. Percebo, a partir do livro “Homens Invisíveis” (2004) do Fernando Braga da Costa, que as pessoas que realizam atividades subalternas são invisibilizadas ou, simplesmente, não são percebidas. A mesma percepção relaciono com minhas “tias”: mulheres negras e também os homens negros, que sofreram com a invisibilidade de suas atividades laborais e subalternas.

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