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Nova edição da revista Contemporânea, uma quase revista, organizada pelos Prof. Dr. Daniel Machado da Conceição e Prof. Dr. Alexandre Fernandez Vaz.



VINICIUS JR. E OS EMBATES DO NOSSO TEMPO: O RACISMO E O ESPORTE

    Antes de completar 24 anos, Vinicius Junior, do Real Madrid e da seleção brasileira, é hoje uma das principais vozes antirracistas que conhecemos. Alvo de seguidas agressões simbólicas por parte principalmente de torcedores adversários, o jogador profissional vem marcando gols não apenas no gramado, mas fora dele, com diversas ações que respondem, de forma contundente, a seus agressores. Igualmente, Vini Jr. vem desestabilizando o ensurdecedor silêncio que grande parte do establishment do futebol exercita frente a práticas racistas na Europa, mas também em muitos outros estádios pelo mundo afora.

    O número temático que faz a Contemporânea, a nossa quase revista, voltar a ser publicada, se compõe de textos que se dedicam ao racismo no esporte, ou, dito de outra maneira, das relações entre o primeiro e o segundo. Colaboradoras e colaboradores, com exceção de um, são vinculados a universidades federais do Brasil. O primeiro deles, Neilton de Sousa Ferreira Júnior, é de Viçosa, Minas Gerais. Ele abre os trabalhos de maneira instigante, ao reconstruir uma história do esporte olímpico para dizer de seu intrínseco caráter racista. O trabalho seguinte é resultado de uma parceria entre Beatriz de França Alves e Cristiano Mazzaroba, de
Sergipe, e Daniel Machado da Conceição, de Santa Catarina. O trio faz um breve e preciso inventário da presença do racismo no esporte – via, por exemplo, estereótipos corporais direcionados a pessoas negras –, perguntando sobre as possibilidades de sua superação.

    A terceira contribuição faz um pequeno giro para encontrar a interseccionalidade no futebol feminino em suas práticas pós cancelamento da proibição do jogo para as mulheres brasileiras. A contundência do texto é obra de Caroline Soares de Almeida, que retoma questões que vêm dos anos 1980 para pensar sobre algumas das representações sobre mulheres futebolistas, mostrando como raça, classe social, gênero e sexualidade, determinam as formas de a imprensa esportiva, dominada por homens, tratar do jogo delas.

    Um novo giro se encontra no quarto texto deste temático, que não se refere exatamente ao esporte, mas ao jogo de capoeira e suas vicissitudes como história plasmada da sociedade brasileira. Os autores e as autoras localizam formas de racismo nesse existir, assim como apostam em possibilidades, justamente pela crítica radical, de sua superação. O grupo é liderado por Christian Muleka Mwewa, do Mato Grosso do Sul, ladeado por Alex Sander da Silva, da Universidade do Extremo Sul Catarinense, e por Juliani L. C. Ferreira e Aline Ortega Soloaga, também do estado do Centro-Oeste brasileiro.

Para fechar, Antonio Jorge Gonçalves Soares, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte, traz algo novo para o debate, ao observar os primeiros episódios de agressão contra Vini Jr. que foram publicizados, em 2023. O autor recorre ao conceito de casta como operador analítico para a compreensão do aparente paradoxo entre a ascensão social de jogadores negros e a persistência do racismo, o que mostra, entre outros pontos, a impossibilidade de a sociedade liberal cumprir suas promessas de igualdade e meritocracia.

Autoras e autores, muito obrigado. Leitoras e leitores, que desfrutem, pensem, discordem, concordem, critiquem. Sigamos nesse debate que é dos mais importantes para as tentativas de construção de um esporte e de uma sociedade que sejam fontes de menos sofrimento.

Alexandre Fernandez Vaz
Daniel Machado da Conceição
Florianópolis, junho de 2024.




@nepesc.ufsc
 



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