Dificilmente algum(a) brasileiro(a) não se sentiu tocado diante das enchentes, inundações e grande destruição que acometeu boa parte do território gaúcho a partir de final de abril de 2024 e boa parte de todo o mês de maio. A mídia brasileira mobilizou sua estrutura e seus profissionais e fez uma ampla e, por vezes, saturada cobertura diante daquela situação em que a realidade, impactada pela resposta voraz da natureza às ações humanas, ia se apresentando por meio da chuva que não parava, da destruição que aumentava e assustava, da grande quantidade de pessoas que buscava se salvar e encontrar um abrigo para depois tratar de seguir sua vida.
Como é próprio desses momentos, de forma semelhante ao que vimos recentemente com a pandemia de Covid-19, circulam discursos que enfatizam a tomada de consciência, a solidariedade, a empatia, a união, etc. Não foi diferente com a tragédia enfrentada pelo Rio Grande do Sul, principalmente em Porto Alegre e sua região metropolitana. E, num estado em que o futebol é parte da cultura e explicita aspectos de sua historicidade combativa, que contribui para a divisão clubística dos gaúchos na formação daquilo ao qual hoje se tornou banal se referir pelo termo “polarização” (no senso comum da política, por exemplo, embora bastante errôneo, por sinal, como se houvesse uma esquerda, que é quase centro, versus uma direita, que está bem para seu extremo), o azul, representado pelo Grêmio, e o vermelho, representado pelo Internacional, não ficam de fora dos acontecimentos e reflexões.
Com toda sua estrutura impactada e comprometida para treinamentos e jogos, as duas equipes, em estratégia inédita, no dia 21 de maio, uniram-se para divulgar uma campanha para ajudar na reconstrução dos lugares atingidos pelas enchentes, com a ação intitulada “Jogando Junto – Pela reconstrução do RS”, mobilizando atletas, dirigentes (o presidente gremista, Alberto Guerra, e o presidente colorado, Alessandro Barcellos), torcedores, empresas e a mídia de forma geral. A junção das duas instituições clubísticas gerou a criação de uma imagem, na cor roxa, resultado da mescla entre o azul gremista e o vermelho colorado. Divulgou-se que as equipes iriam ceder espaços em seus uniformes e também em suas mídias sociais para dar visibilidade a empresas que participassem de ações para a reconstrução do Estado e das pessoas afetadas. Cogitou-se, também, a possibilidade do Grêmio ceder seu centro de treinamento ao Inter, e o Inter, por sua vez, ceder o Estádio Beira Rio para jogos do Grêmio. Segundo dados do Portal Terra, na data da publicação da matéria, a estratégia já havia viabilizado o montante de R$ 28 milhões.
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MEZZAROBA, Cristiano. SANFELICE, Gustavo. CONCEIÇÃO, Daniel. Sobre valores esportivos, rivalidades e contradições: a dupla GRENAL em evidência. Bate-pronto, INCTFUTEBOL, Florianópolis, V.1, n.16, 2024.
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