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COVID-19: o impacto da quarentena sobre o nível de atividade física [1]

Ana Miriam Dos Santos Cardoso

Carolayne Jhenyfer Correia Montes Dos Santos

Jean Carlos Alves Da Costa

Jennifer Benigna Da Silva Santos 


Discentes do Curso de Licenciatura em Educação Física Universidade Federal de Sergipe 


    Atividade física consiste em qualquer tipo de movimento corporal que resulte no gasto de energia acima daquele considerado padrão quando o corpo está em repouso. Já as práticas corporais, são fenômenos que se mostram, prioritariamente, ao nível corporal e que se constituem como manifestações culturais de caráter lúdico, tais como os jogos, as danças, as ginásticas, os esportes, as artes marciais e acrobacias, entre outras práticas que envolvem o corpo em movimento a partir de um contexto sociocultural específico.





    O isolamento social gerou um grande impacto para o controle da COVID-19. Um dos impactos do distanciamento social para o controle do coronavírus é a redução do nível de atividade física e o aumento do comportamento sedentário. Embora o sedentarismo seja algo bastante prejudicial para a saúde, é necessário acabar o com o “mito” da necessidade de “praticar atividade física para que a saúde fique boa”, afinal, a atividade física e saúde, embora tenham discursos associados, precisam ser mais contextualizados. O ato de praticar atividade física não significa que você estará gerando uma saúde 100% boa e nem vai garantir que isso melhore a sua saúde, pois, existem os mais diversos determinantes sociais que também influenciam nos modos de ser/estar do indivíduo e sua condição de saúde. 

    Geralmente, as pessoas costumam praticar suas atividades nas academias, mas, como sabemos, todos os lugares tiveram que ser fechados, por conta do isolamento. Então, é recomendado que essas atividades sejam praticadas em ambiente domiciliar. Segundo o Coordenador Geral da Rede Alpha Fitness, Guilherme Reis, é recomendado que as pessoas pratiquem atividade física pelo menos de dois a três dias por semana. Esses dias, segundo ele, já serão suficientes para que saiam do sedentarismo e para que fortaleçam a imunidade. (Alpha Fitness, 2020).

    Os benefícios da atividade física são inúmeros, mas, é sempre bom deixar claro que ela não vai te deixar imune ao vírus. Pode sim, conforme aponta a literatura científica sobre a temática, melhorar o sistema imunológico, mas não significa que você não vai contrair a doença. Existe um mito que diz que se você tiver um bom condicionamento físico, for uma pessoa bem ativa, você estará com a saúde impecável. O erro está em associar esses benefícios já comprovados em torno da prática corporal inserida no cotidiano dos sujeitos como se isso fosse um fator protetivo a um vírus que o nosso sistema imunológico ainda não teve contato, portanto, desconhecido. A prática de atividade física ajuda sim a melhorar o sistema imunológico, mas, esse não é o único fator que ajuda para melhorar a saúde das pessoas quando pensamos em saúde e sua integralidade entre indivíduo, meio ambiente e sociedade.
 
    Existem muitos determinantes sociais que têm uma grande influência nesse meio. Fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais (a atividade física/prática corporal é um elemento dentro do fator comportamental), têm grande parcela de influência sobre a saúde do indivíduo. Então, mesmo que nossa imunidade esteja “boa”, por conta das atividades física/práticas corporais, podemos sim contrair o vírus, já que existem inúmeros fatores que contribuem tanto no contágio da doença, quanto para que a imunidade esteja em um nível bom.

    Ressalta-se que a ideia que a atividade física apenas diminuiu nessa quarentena é limitada, se olharmos de maneira mais ampla algumas práticas corporais infelizmente foram reduzidas, mas, outras cresceram e ganharam mais espaço, por exemplo, de acordo com o Jornal Digital Folha Vitória (2020) as atividades ao ar livre, como corrida e crossfit tiveram uma queda de 13% a 55% e as queridas corridas em esteiras diminuíram em 67%, a qual não é nenhuma surpresa, pois, todas as atividades deveriam ser feitas em casa para reduzir o contato físico, porém, os “treinos funcionais”, feitos com ajuda de plataformas digitais aumentaram 94%, deixando claro que uma parte significativa da população brasileira continua praticando exercícios, mas de outra forma, com outro foco, o que, também sinaliza, que cuidar da saúde respeitando o contato social e isolando-se também é uma importante forma de buscar saúde.

    Entrando no ramo esportivo, o futebol, por exemplo, foi um dos esportes que logo se “reinventou” para que os jogos voltassem, tendo que aprender a lidar com o “novo normal”. Para garantir um retorno “mais seguro”, as Federações utilizaram protocolos internacionais e regras rígidas de controle epidemiológico. Por exemplo: todos os jogadores devem ser testados antes dos jogos, para saber se está contaminado ou não. Mas, embora tenham essas “medidas de proteção”, muitos jogadores subvertem os cuidados sugeridos e os protocolos, aglomerando-se em festas e outros eventos. Nem todas as medidas de segurança estão sendo postas em prática, o que acaba prejudicando a sociedade ao todo. A volta do futebol foi muito criticada, e até hoje é, pois, voltou em um momento em que muitas pessoas ainda morrem por COVID-19, ou seja, percebemos como esse entretenimento para a população está mascarada por outros objetivos.




    A mídia, como poder simbólico importantíssimo para influenciar a sociedade, não vai divulgar os aspectos contrários sobre esse assunto, óbvio. Afinal, o futebol traz muitos lucros, então, não vamos ver frequentemente o que o futebol acrescenta ou não na pandemia. É evidente que não se tem uma total segurança, mesmo com todos os protocolos de proteção, sendo possível uma contaminação muito rápida entre todos os jogadores que estão em contato dentro de um clube (nos transportes por ônibus, aviões, hospedagens em hotéis etc.). É um risco que eles se propõem a passar.

     Dessa forma, é possível perceber que mesmo pessoas com porte físico “impecável”, estão sim suscetíveis a pegarem a doença como qualquer outra pessoa, pois, como já foi dito, a prática de atividade física ou até mesmo exercício físico regular, não vai livrar ninguém da contaminação, afinal, atividade física não é vacina como se teima em propagar. Não há dúvidas de que a prática corporal cotidiana auxilia no alívio do estresse e na geração de bem-estar, entretanto, devemos ter clareza e consciência que isso não garante proteção à infecção por covid-19. 

    A prática de atividade física/práticas corporais nesse período em que estamos vivendo é recomendada sim, principalmente por questões psicológicas e emocionais, mas, ressalta-se sempre que para ter uma boa imunidade não depende apenas de um único determinante, como algo salvacionista. É necessário mais do que nunca que consideremos a atividade física/prática corporal dentro de um sistema macrossocial, cuja “escolha” e “possibilidade prática” em torno das práticas corporais se configura como uma dimensão individual que acaba sendo priorizada.

    Por fim, devemos também considerar o fator comunicacional, nesse sentido, a mídia tem importante papel neste momento brasileiro e internacional na produção e divulgação de informações, ou seja, deve ser pressionada pela sua responsabilização quanto à dimensão das informações, e não apenas do entretenimento vinculado ao fator do lucro econômico. Quando vemos o que tem ocorrido em torno do futebol profissional no Brasil, consideramos que a mídia deve ser mais consciente, com abordagem mais crítica, porque o discurso da “volta à normalidade” só impacta negativamente os números de contaminação e de mortos, deixando a situação insustentável.

    A pandemia tem nos ensinado a rever certos discursos padronizados, que, na Educação Física, por exemplo, é o da necessidade de fazer atividade física de qualquer forma. Cuidar-se dentro de casa, adaptando-se ao momento, é uma forma poderosa de ter saúde que aparece na forma de preservar a vida.


Referências:
ATIVIDADE física melhora a imunidade e ajuda no combate à COVID-19, aponta especialista. Alpha Fitness. 2020. Disponível em: https://www.redealphafitness.com.br/noticias/2020/03/30/atividade-fisica-melhora-a-imunidade-e-ajuda-no-combate-a-covid-19.html. Acesso: 13 abr. 2021.

REDAÇÃO FOLHA VITÓRIA. Reflexos da Pandemia: pesquisa revela redução de atividade física. 01 out. 2020. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/10/2020/reflexos-da-pandemia-pesquisa-revela-reducao-de-atividade-fisica. Acesso em: 13 abr. 2021.



[1] Desde março de 2020 temos experienciado a dura e preocupante realidade da pandemia de covid-19, que, no Brasil, desde que chegou, encontrou, infelizmente, "fértil terreno" para sua disseminação intensificada. Ao campo educacional de modo geral, restou a experimentação com o chamado "modo remoto de ensino".

Assim, na disciplina "Saúde, Sociedade e Educação Física" (ministrada pelo Prof. Dr. Cristiano Mezzaroba), ofertada ao curso de Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal de Sergipe, de outubro de 2020 a fevereiro de 2021, procuramos trazer o contexto da saúde coletiva com o da Educação Física, aproveitando o contexto atual para fazer discussões e reflexões pertinentes tanto à formação docente como uma formação cidadã.

Os/as discentes participantes, em pequenos grupos, foram estimulados a escrever ensaios teóricos considerando a experiência social de viver na/com a pandemia, podendo articular às mais variadas temáticas, como valores humanos, a relação saúde x doença, política, mídia, tecnologias, ciência, religião, educação, cultura, esporte, fake news etc.

Dos quatro textos recebidos, dois grupos aceitaram reescrever seus ensaios em versões reduzidas, os quais são publicados agora.

O primeiro deles, "Consequências das 'fake news' na sociedade em tempos de pandemia" - de autoria de Aline Kathleen dos Santos, Clara Suzana Santana, Guilherme Teo dos Santos e Hilquias Meneses Santos Gomes, como explicita no título, tece um panorama dos impactos das fake news na sociedade brasileira, prejudicando o enfrentamento da pandemia.

O segundo texto, de autoria de Ana Miriam dos Santos Cardos, Carolayne Jhenyfer Correia Montes dos Santos, Jean Carlos Alves da Costa e Jennifer Benigna da Silva Santos, tem como título "COVID-19: o impacto da quarentena sobre o nível de atividade física", e procurou analisar as questões em torno das práticas corporais em contexto mais restringido devido aos perigos da contaminação pelo novo vírus àqueles que realizam suas práticas corporais cotidianamente.

Boa leitura e reflexões... o conhecimento salva vidas! Viva o SUS! Viva a UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA!
 

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