Seja bem-vindo!

Total de visualizações de página

O desafio de uma conciliação: o estudante-atleta e a descontinuidade na formação escolar


O propósito deste texto está em relatar os resultados obtidos na dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. O texto foi elaborado como uma  síntese,  composto  por  fragmentos/trechos  do  texto  então  defendido  (DA  CONCEIÇÃO,  2015).  Importante  pontuar  que  todo  o  treinamento adquirido até o momento se deve em parte à formação acadêmica obtida durante a graduação, pós-graduação e à participação em atividades de pesquisa no Núcleo de Estudos Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (NEPESC/UFSC).

O  interesse  por  estudar  o  esporte  trouxe  a  oportunidade  de  conhecer projetos e pesquisas desenvolvidas em parceria com o Laboratório de Pesquisas em Educação do Corpo (LABEC), localizado na área da Educação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A parceria entre os núcleos acontece dentro de uma tradição de estudos sobre o corpo, corporalidade e questões sobre o esporte. Um dos temas de grande interesse que envolve a parceria entre as duas instituições centra-se na formação esportiva de jovens atletas e sua relação direta com a escolarização. Assim, várias modalidades de prática esportiva foram ou estão sendo estudadas, ampliando as possibilidades de interpretação sobre a relação entre esporte e formação esportiva na  contemporaneidade.  Portanto,  o  estudo  aqui  apresentado  integra  um projeto amplo desenvolvido em conjunto entre o NEPESC e o LABEC sobre a temática da formação esportiva e da escolarização de jovens atletas. As pesquisas desenvolvidas têm coletado informações relevantes sobre a realidade dos jovens atletas em diversas modalidades esportivas que são pensadas à luz da sociologia, da antropologia e da educação.

CS Tennis - Intercâmbio Esportivo

Os principais resultados das pesquisas desenvolvidas pelos dois grupos atestam, primeiro, que os atletas em formação no futebol possuem escolaridade idêntica ou superior se comparada com jovens da mesma idade, no estado do Rio de Janeiro (SOARES et. al., 2011). Este dado contradiz o senso comum que afirma ser o esporte, e o futebol em específico, promotor de fracasso escolar (evasão, abandono ou repetência). Na verdade, as exigências pautadas no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990) impostas aos clubes garantem, entre outros aspectos, a matrícula escolar e a permanência do atleta na sala de aula. O questionamento que surge dessa constatação diz respeito a que tipo de escolarização o atleta está submetido, e como ele se relaciona com o saber escolar. Uma segunda constatação das pesquisas anteriormente referidas indica que os atletas despendem semelhante tempo para formação escolar e a formação esportiva. Isto é, a carga horária escolar e a carga horária de treinamentos ou competições, a primeira voltada para “formação geral” ou inserção do jovem na profissionalização para o mercado de trabalho formal e a segunda direcionada para a profissionalização no mercado de trabalho esportivo, se equiparam (ROCHA et. al., 2011). Este fato instiga a pensar como o estudante atleta se relaciona com o meio escolar, considerando tanto o contexto de progresso constante (aprovação) na escolarização, já que apresenta escolaridade média igual ou superior quando comparada com jovens não atletas da mesma idade, quanto as exigências (físicas e emocionais) de aperfeiçoamento no esporte. Em outras palavras, pode ser pensado que, no caso de jovens atletas ligados a clubes profissionais de futebol, e apesar da concomitância e concorrência com outro projeto de formação (a do esporte), a categoria fracasso escolar, que envolve situações de repetência, desistência e evasão, tende a ser quase inexistente. Aqui surge nosso questionamento e objetivo em relação à presente pesquisa: como se dá a formação escolar de jovens atletas inseridos em categorias de base de clubes profissionais de futebol? Se considerarmos esse cenário em que acontece um desinteresse progressivo na escolarização e, mesmo assim, ocorre um contínuo avanço na  escolaridade,  qual  a  relação  do  estudante  atleta  com  a  escola  e  seu saber (SOUZA et al., 2008; SOARES et al., 2009; MELO, 2010; ROCHA, 2011; SOARES, 2011; BARTHOLO, 2011; COSTA, 2012; CORREIA, 2014; BARRETO, 2012; KLEIN, 2014; DA CONCEIÇÃO, 2014)?

Para entender a relação escola e atleta foram investigadas duas instituições estaduais de ensino médio regular em Florianópolis/SC, nas quais estudantes atletas de futebol estão matriculados. As escolas possuem atletas vinculados às categorias de base do Avaí Futebol Clube e do Figueirense Futebol Clube, clubes profissionais de Florianópolis (SC), que em 2015 disputam o Campeonato Brasileiro da Série A, e selecionados devido a sua representatividade no cenário do futebol catarinense e nacional. Os clubes desenvolvem a formação de atletas de alto rendimento em centros de treinamento (CT) próprios e de acordo com a Lei Pelé (BRASIL, Lei 9.615/1998) e a Nova Lei Pelé (BRASIL, Lei 12.345/2011), são qualificados como entidades formadoras. A faixa etária observada está situada entre 14 e 17 anos em atletas de futebol do sexo masculino, compreendendo as categorias Sub-15 (infantil) e Sub-17 (juvenil). Esses jovens estão na relação idade série que corresponde à matrícula no ensino médio. Este momento aparece como crucial em relação ao campo de possibilidades dos atletas, caracterizado por uma maior intensidade de treinamento que repercute, muitas vezes, na mudança do turno escolar, bem como de um maior número de viagens (SOARES et al., 2013). O turno de funcionamento das escolas selecionado para observação foi o noturno, pois nele concentra-se a maior parte dos jovens das categorias de base alojados  nos dois clubes investigados, e também representa um momento na carreira em que a formação esportiva ganha prioridade (SOARES et al., 2009; MELO, 2010; ROCHA et. al., 2011; BARTHOLO, 2011). 

Faz-se importante ressaltar que podemos categorizar os atletas como “alojados” e “não alojados”. A principal diferença entre ambos é a condição que o clube adquire como tutor dos atletas alojados enquanto esses estão sob sua responsabilidade. Os atletas alojados, geralmente migram de outras regiões fora da Grande Florianópolis, o que requer sua permanência longe da família e sob os cuidados e responsabilidade dos clubes. Os atletas não alojados são geralmente moradores da região, seja porque são naturais da grande Florianópolis com residência fixa ou então porque a família realizou a mudança para acompanhar mais de perto a formação esportiva do jovem atleta. Outra diferença entre ambos, alojados e não alojados, está na manutenção dos laços e rotinas familiares. Os “não alojados” parecem manter uma rotina de treinamento, escola e volta para o seio familiar, o qual exerce principal influência. Diferentemente, os atletas alojados se inserem no sistema de albergamento e as relações são construídas com os profissionais dos clubes e com os outros atletas, que passam a compor uma “nova família”. 

(..)

Autores:

DA CONCEIÇÃO, Daniel Machado; BASSANI, Jaison José. O desafio de uma conciliação: o estudante-atleta e a descontinuidade na formação escolar. In:___. (ORG) SOARES, Antônio J. G.; CORREIA, Carlus A. J.; MELO, Leonardo B. S. de. Educação do corpo e escolarização de atletas: debates contemporâneos. RJ: 7 Letras, 2016. p. 21-50.


CONTINUAR LENDO EM:

https://www.7letras.com.br/educac-o-do-corpo-e-escolarizac-o-de-atletas-debates-contemporaneos.html



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão pelo comentário.