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Com a bola no pé e o lápis na mão: o estudante-atleta em formação no futebol

No fim das contas, porém, o que vale mesmo é o futebol

Falar sobre futebol no Brasil nos faz destacar os chavões culturais de “país do futebol” e a “pátria de chuteiras”. As duas expressões indicam a importância da modalidade esportiva como fenômeno social que ganha reais contornos de um fato social total invadindo espaços e instituições. O futebol dimensiona sua força por meio da mídia e nos vários projetos publicitários. Além disso, é parte integrante da socialização primária em grupos familiares. Qualquer objeto esférico acaba por transmitir a informação de querer ser rolado por meio de chutes e pontapés para passar por entre dois marcos caracterizados como um gol. Tudo pode virar uma bola imaginária, que alimenta sonhos entre o jogo e o esporte que se confundem por meio da paixão e emoções que compartilham.

Este breve artigo tem como propósito sintetizar parte dos resultados obtidos em pesquisa anterior (DA CONCEIÇÃO, 2013, 2014), desenvolvida durante o ano de 2013, e que contou com apoio dos Núcleos: NEPESC (UFSC) – Núcleo de Estudo e Pesquisa Educação e Sociedade Contemporânea; LABEC (UFRJ) – Laboratório de Pesquisas em Educação do Corpo; e NIGS (UFSC) – Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades.

O objeto da pesquisa esteve centrado no “estudante-atleta”, uma expressão que designa duas atividades, uma de aluno/estudante e outra de atleta. Esta condição é aceita por aqueles que dedicam parte de sua juventude para serem formados como atletas de futebol nas categorias de base de clubes reconhecidos como entidades formadoras. Os jovens atletas, em conjunto com seus familiares, investem tempo, recursos financeiros e relações pessoais na busca de um horizonte de mobilidade social e ascensão econômica. A profissionalização no futebol passa a representar, para famílias, uma carreira de sucesso, e, que, consequentemente, despreza o processo de escolarização, pois parece não depender dele para se obter os melhores postos de trabalho dentro do mercado da bola.

O estudante-atleta ganha importância por exercer as duas atividades de maneira concomitante. Tal desenvolvimento não parece ser particularidade dos atletas, tendo em vista que outros jovens trabalhadores formais e informais também compartilham de situações semelhantes quanto ao tempo dedicado à escola. A diferença do estudante-atleta para o estudante-trabalhador está no fato de a legislação não contemplar a primeira atividade como formação para o mercado de trabalho formal. A formação atlética não é encarada pela legislação como formação profissional, consequentemente, limites para treinamento e outras disposições não são estipuladas, ou melhor, não recebem as mesmas garantias quando contempladas pela consolidação das leis trabalhistas, o que deixa os clubes bastante à vontade para priorizar seus interesses.

O jovem estudante-atleta se encontra na intersecção entre dois mundos – um da escola e outro do clube. Estando nesta posição, o jovem atleta necessita realizar escolhas sobre seu futuro profissional. Dois caminhos se apresentam: um por meio do esporte e outro por meio do capital cultural objetivado dos títulos e certificados acadêmicos. O interesse inicial da pesquisa procurou entender como acontece a formação do jogador de futebol e qual a relação construída com a escola. A pesquisa teve como objetivo perceber as nuances presentes na relação clube e escola, bem como identificar como a formação no futebol dilui o interesse pela escolarização. Esse interesse foi melhor analisado na pesquisa de Mestrado intitulada O estudante-atleta: desafios de uma conciliação (DA CONCEIÇÃO, 2015), na qual foi possível perceber que as inúmeras viagens, a rotina de treinamentos e os valores culturais presentes no grupo (comunidade de prática) promovem uma descontinuidade na maneira do estudante-atleta criar seu envolvimento e relação com o saber e com o espaço escolar.

(...)

Autores:

DA CONCEIÇÃO, Daniel Machado; BASSANI, Jaison J.; GROSSI, Miriam Pillar. Com a bola no pé e o lápis na mão: o estudante-atleta em formação no futebol. In:___. (ORG) WELTER, Tânia; GROSSI, Miriam; GRAUPE, Mareli E. Antropologia, gênero e educação em Santa Catariana. Florianópolis: Mulheres, 2017. p. 117-137.

CONTINUAR LENDO EM: 

https://nigs.ufsc.br/files/2017/09/Livro-Antropologia-genero-e-educacao-vers%C3%A3o-digital.pdf

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