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A minha manifestação sobre um manifesto

O texto “Manifesto em favor da lei de cotas e do estatuto da igualdade racial aos deputados e senadores do congresso brasileiro” (2006), procura mobilizar as pessoas para que pensem sobre a desigualdade racial no Brasil. A primeira questão apontada, no manifesto, é a ênfase de ordem econômica que justifica o preconceito, sendo uma situação de grande relevância por ser aquela que caracteriza a desigualdade. Embora, saibamos que não só a questão econômica pode pautar o preconceito, principalmente, quando pensarmos que em outros locais mesmo quando a população possui uma semelhança de cor, ainda assim, os preconceitos estão presentes, infelizmente, apenas mudando os atores. Isso, acontece, pois, envolve sempre uma condição que se vincula a uma relação entre dominador e dominado.

No Brasil, devido ao contexto histórico em que toda uma população negra foi submetida a um sistema que não só expropriava seu trabalho, mas sua condição humana, e que mesmo após sua ‘liberdade’ permaneceu sedimentada numa hegemonia que se faz dominante impossibilitando seu desencilhamento. Os muitos veículos de informação, em sua maioria, pertencentes a uma elite dominante e crente em sua hegemonia, reforça e conforma estereótipos que acabam por ser internalizados pelos membros da sociedade que passam a aceitar como naturais algumas questões, inclusive, os negros assumem o discurso e acabam professando não ter capacidade de galgar posições de prestígio nos estratos sociais superiores. 

Durante o início de século XX, o debate no mundo foi intenso a respeito da questão racial, a partir da metade final, os órgãos internacionais de maior reconhecimento deixam de realizar denúncias e passam a contribuir para alteração do quadro de discriminação no mundo. O Brasil, como difundido, é uma nação ímpar, pois as relações se comportam de maneira distinta do restante do mundo, pelo menos no imaginário que envolve o racismo. No entanto, não podemos fugir das máscaras que criamos e pintamos com cores carregadas de preconceito e que acabam escondendo a própria postura preconceituosa. Talvez por essa razão, as pesquisas mostram que somos preconceituosos ao preconceito, isto é, 97% das pessoas afirmam conhecer alguém preconceituoso, mas na mesma proporção não se consideram preconceituosas. Nesse exemplo, a máscara do racismo à brasileira se apresenta sublime no salão, bailando ao som da música sem qualquer criticidade. 

Algumas medidas, já no século XXI, são formuladas para promover uma mudança, quem sabe estrutural, e estão relacionados ao cenário global com interesses que permitam ao país continuar a usufruir dos acordos internacionais. Sendo assim não partem de um desejo sublime em transformar a realidade social, são imposições internacionais que tendem a permitir o país permanecer no jogo econômico global. 

Uma das possibilidades que surgiram, no debate, foi a implantação do sistema de cotas, as reconhecidas políticas de ações afirmativas. Esta é apenas uma peça movimentada no grande tabuleiro da mudança social. Seu simples movimento gerou um embate gigantesco no país, principalmente, por alterar o quadro referente à hegemonia dos privilégios da classe dominante.

 

As cotas passam a ser um mecanismo de incluir novos integrantes no carrossel da educação, o que proporciona maior prospecção dos postos de trabalho, incentivo a ocupação de espaço até então hegemônicos e, consequentemente, um incentivo efetivo à mobilidade social. Seu efeito é a médio e longo prazo, visando não só colocar indivíduos ‘segregados’ em posições de prestígio, mas mudar o imaginário presente e realístico da situação do olhar do negro sobre si mesmo e dos outros sobre o negro. Seu resultado deve estar associado a uma nova perspectiva do local em que ele pode estar e deve chegar ou, possivelmente, superar.

O objetivo do manifesto é suscitar e apresentar um pouco da discussão que se tem prolongado por décadas no país e que ainda não foi aceito por grupos restritos da população brasileira. Penso, que o manifesto cumpre seu propósito de mobilização social em prol das indiferenças, desigualdades e preconceitos que perduram por séculos e foram forjados em meio a barbárie da desumanização.


*Confira a íntegra do manifesto a favor das cotas, disponível em: https://www.geledes.org.br/confira-a-integra-do-manifesto-a-favor-das-cotas/. Acesso em: 24 de jul. de 2020. 

Texto produzido na disciplina de Estudos Afro-Brasileiros – ANT 7701, Ciências Sociais/UFSC, 2011.

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