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Reconhecer a diversidade para humanização do mundo do trabalho

 



A Lei 10.097/2000 é conhecida como Lei da Aprendizagem. Ela envolve a inserção de jovens entre 14 e 24 anos no mercado de trabalho formal. Seu objetivo está centrado na garantia dos direitos trabalhistas, formação pelo trabalho, renda e incentivo à escolarização. No decorrer das últimas duas décadas novos decretos e portarias se somam a ela, com ajustes e esclarecimentos para um melhor entendimento dos programas de aprendizagem.

A contratação de um aprendiz envolve a família, a empresa contratante para realização das atividades práticas (laborais) e a entidade qualificadora, exemplo das instituições do Sistema “S”(SENAI, SENAC, SENAT, SENAR e SESCOOB.), Escolas Técnicas Profissionalizantes e Entidades Sem Fins Lucrativos (ESFL). 

As entidades qualificadoras são responsáveis pela formação técnico-profissional metódica durante todo período do contrato. Conhecimentos, habilidades e saberes fazem parte do processo de capacitação, que almeja a formação cidadã e profissional. Com esse intuito, na Portaria 723/2012, no Art. 10, item III – Conteúdos de formação Humana, letra “f”, encontramos a orientação para inclusão do tema “direitos humanos, com enfoque no respeito à orientação sexual, raça, etnia, idade, credo religioso ou opinião política”.

Os jovens aprendizes antecipadamente aprendem através da experiência no mercado de trabalho formal uma triste realidade sobre desigualdade e preconceito, começando pelo recrutamento e seleção para vagas disponíveis em que o local de moradia, raça, deficiência e gênero, são colocados como critérios subjetivos e objetivos de corte.

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http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/reconhecer-a-diversidade-para-humanizacao-do-mundo-do-trabalho/

Ita Maia, entre marolas e tsunamis


Quem já jogou uma pedra na água percebeu que esse contato produz ondas que se propagam em todas as direções. Nessa relação entre pedra e água o resultado da aproximação abrupta é movimento. Queremos comparar a água com o futebol de mulheres, um lago, que mesmo de maneira lenta, continua ganhando volume e inundando novos territórios.

O futebol de mulheres nos últimos anos tem conquistado espaço no Brasil, com maior reconhecimento e visibilidade da modalidade. Um comparativo com o futebol de homens ainda mostra um grande abismo a ser superado, principalmente, em relação aos melhores postos de trabalho em ambos mercados. As transformações envolvem equiparações no uso da estrutura de alguns clubes de futebol, nesse caso, podemos contar nos dedos os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro de futebol de homens que disponibilizam de maneira semelhante um corpo técnico, equipamentos, materiais esportivos, alojamentos e espaço na mídia dos clubes para divulgar o futebol de mulheres.

Evitamos falar em salários, pois, a desigualdade como afirmado, é gritante. Para muitas mulheres jogar futebol, em clubes de menor expressão é um ato de amor, em seu sentido sacro, uma vocação. Infelizmente, a grande maioria viverá sem o bônus, as experiências se caracterizam mais com o ônus de uma ascese esportiva, cheia de privações, limitações, angústias e crença na mudança das condições. 

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Para enfrentar as chagas da sociedade, um Márcio

 





A Escola de Chicago desenvolveu estudos que demonstraram as transformações da vida moderna, especialmente, nos novos aglomerados urbanos. O crescimento geográfico e demográfico das grandes cidades favoreceu o que foi reconhecido nas patologias sociais, aumento de desemprego, criminalidade, bolsões de pobreza etc., problemas que aparecem em consequência da rápida expansão dos novos ordenamentos humanos.

As patologias sociais estão relacionadas a anomalias na estrutura social, no entanto, outras doenças, que identifico como chagas, permanecem expostas como grandes ferimentos e machucados. Machismo, patriarcalismo, homofobia, xenofobia, misoginia, racismo etc., são algumas das chagas que se mantêm abertas no corpo social.

A definição de chagas indica lesões abertas, ferimentos ou feridas. O racismo se apresenta como uma ferida exposta que causa não apenas constrangimento, mas principalmente dor. Seu combate não é fácil, pois, algumas pessoas não estão dispostas a submeter-se ao tratamento de limpeza, desinfecção e constante troca de curativos para que a lesão possa ser curada.

O racismo continuamente é lembrado como algo que deve ser ‘tratado’ em diálogo aberto. Sua discussão ganha espaço a partir da caixa de ressonância midiática, o que promove discussão, mas não garante uma reeducação dos modelos mentais marcadores de esteriótipos e valores culturais. Muitos casos de racismo explícito e que fazem parte do cotidiano não ganham o noticiário, limitando o debate que permanece encrustado na alegação de situações isoladas.


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https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/para-enfrentar-as-chagas-da-sociedade-um-marcio/

As juventudes na mídia durante a pandemia COVID-19: compreender para educar



 

Daniel Machado Da Conceição

Cristiano Mezzaroba

Marcos Rogério dos Santos


Resumo

A pandemia de COVID-19 impôs uma nova ordem, um outro ritmo para a humanidade, alterando a percepção de tempo, de estabilidade, motivando a construção de novos ritmos e formas de olhar e refletir sobre os mais diversos âmbitos de nossas vidas. São inúmeras as questões que o desdobramento da pandemia vai desvelando, mas tem um fator que chama atenção diante desse cenário atual: o comportamento dos jovens. Se por um lado, o senso comum associa os jovens a seres desprovidos de responsabilidade individual e coletiva, por outro, o sistema midiático costuma veicular informações de diferentes ordens sobre a juventude (do senso comum até questões mais críticas e amplas). Sendo assim, acreditamos que seria pertinente, para a prática e reflexão educativa, analisarmos alguns dos discursos que têm associado o fenômeno da pandemia e juventude. A proposta configurou-se como um exercício sociológico e foi construída a partir de recortes jornalísticos escolhidos aleatoriamente em diferentes portais de notícias da internet que ao longo da pandemia e até janeiro de 2021, evidenciam formas plurais de tratar, representar e fazer pensar sobre os jovens brasileiros, auxiliando àqueles que atuam no contexto educativo a compreendê-los melhor.

Palavras-chave

Sociologia da Juventude; Pandemia; Portais de informação; Educação

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COVID-19: o impacto da quarentena sobre o nível de atividade física [1]

Ana Miriam Dos Santos Cardoso

Carolayne Jhenyfer Correia Montes Dos Santos

Jean Carlos Alves Da Costa

Jennifer Benigna Da Silva Santos 


Discentes do Curso de Licenciatura em Educação Física Universidade Federal de Sergipe 


    Atividade física consiste em qualquer tipo de movimento corporal que resulte no gasto de energia acima daquele considerado padrão quando o corpo está em repouso. Já as práticas corporais, são fenômenos que se mostram, prioritariamente, ao nível corporal e que se constituem como manifestações culturais de caráter lúdico, tais como os jogos, as danças, as ginásticas, os esportes, as artes marciais e acrobacias, entre outras práticas que envolvem o corpo em movimento a partir de um contexto sociocultural específico.





    O isolamento social gerou um grande impacto para o controle da COVID-19. Um dos impactos do distanciamento social para o controle do coronavírus é a redução do nível de atividade física e o aumento do comportamento sedentário. Embora o sedentarismo seja algo bastante prejudicial para a saúde, é necessário acabar o com o “mito” da necessidade de “praticar atividade física para que a saúde fique boa”, afinal, a atividade física e saúde, embora tenham discursos associados, precisam ser mais contextualizados. O ato de praticar atividade física não significa que você estará gerando uma saúde 100% boa e nem vai garantir que isso melhore a sua saúde, pois, existem os mais diversos determinantes sociais que também influenciam nos modos de ser/estar do indivíduo e sua condição de saúde. 

    Geralmente, as pessoas costumam praticar suas atividades nas academias, mas, como sabemos, todos os lugares tiveram que ser fechados, por conta do isolamento. Então, é recomendado que essas atividades sejam praticadas em ambiente domiciliar. Segundo o Coordenador Geral da Rede Alpha Fitness, Guilherme Reis, é recomendado que as pessoas pratiquem atividade física pelo menos de dois a três dias por semana. Esses dias, segundo ele, já serão suficientes para que saiam do sedentarismo e para que fortaleçam a imunidade. (Alpha Fitness, 2020).

    Os benefícios da atividade física são inúmeros, mas, é sempre bom deixar claro que ela não vai te deixar imune ao vírus. Pode sim, conforme aponta a literatura científica sobre a temática, melhorar o sistema imunológico, mas não significa que você não vai contrair a doença. Existe um mito que diz que se você tiver um bom condicionamento físico, for uma pessoa bem ativa, você estará com a saúde impecável. O erro está em associar esses benefícios já comprovados em torno da prática corporal inserida no cotidiano dos sujeitos como se isso fosse um fator protetivo a um vírus que o nosso sistema imunológico ainda não teve contato, portanto, desconhecido. A prática de atividade física ajuda sim a melhorar o sistema imunológico, mas, esse não é o único fator que ajuda para melhorar a saúde das pessoas quando pensamos em saúde e sua integralidade entre indivíduo, meio ambiente e sociedade.
 
    Existem muitos determinantes sociais que têm uma grande influência nesse meio. Fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais (a atividade física/prática corporal é um elemento dentro do fator comportamental), têm grande parcela de influência sobre a saúde do indivíduo. Então, mesmo que nossa imunidade esteja “boa”, por conta das atividades física/práticas corporais, podemos sim contrair o vírus, já que existem inúmeros fatores que contribuem tanto no contágio da doença, quanto para que a imunidade esteja em um nível bom.

    Ressalta-se que a ideia que a atividade física apenas diminuiu nessa quarentena é limitada, se olharmos de maneira mais ampla algumas práticas corporais infelizmente foram reduzidas, mas, outras cresceram e ganharam mais espaço, por exemplo, de acordo com o Jornal Digital Folha Vitória (2020) as atividades ao ar livre, como corrida e crossfit tiveram uma queda de 13% a 55% e as queridas corridas em esteiras diminuíram em 67%, a qual não é nenhuma surpresa, pois, todas as atividades deveriam ser feitas em casa para reduzir o contato físico, porém, os “treinos funcionais”, feitos com ajuda de plataformas digitais aumentaram 94%, deixando claro que uma parte significativa da população brasileira continua praticando exercícios, mas de outra forma, com outro foco, o que, também sinaliza, que cuidar da saúde respeitando o contato social e isolando-se também é uma importante forma de buscar saúde.

    Entrando no ramo esportivo, o futebol, por exemplo, foi um dos esportes que logo se “reinventou” para que os jogos voltassem, tendo que aprender a lidar com o “novo normal”. Para garantir um retorno “mais seguro”, as Federações utilizaram protocolos internacionais e regras rígidas de controle epidemiológico. Por exemplo: todos os jogadores devem ser testados antes dos jogos, para saber se está contaminado ou não. Mas, embora tenham essas “medidas de proteção”, muitos jogadores subvertem os cuidados sugeridos e os protocolos, aglomerando-se em festas e outros eventos. Nem todas as medidas de segurança estão sendo postas em prática, o que acaba prejudicando a sociedade ao todo. A volta do futebol foi muito criticada, e até hoje é, pois, voltou em um momento em que muitas pessoas ainda morrem por COVID-19, ou seja, percebemos como esse entretenimento para a população está mascarada por outros objetivos.




    A mídia, como poder simbólico importantíssimo para influenciar a sociedade, não vai divulgar os aspectos contrários sobre esse assunto, óbvio. Afinal, o futebol traz muitos lucros, então, não vamos ver frequentemente o que o futebol acrescenta ou não na pandemia. É evidente que não se tem uma total segurança, mesmo com todos os protocolos de proteção, sendo possível uma contaminação muito rápida entre todos os jogadores que estão em contato dentro de um clube (nos transportes por ônibus, aviões, hospedagens em hotéis etc.). É um risco que eles se propõem a passar.

     Dessa forma, é possível perceber que mesmo pessoas com porte físico “impecável”, estão sim suscetíveis a pegarem a doença como qualquer outra pessoa, pois, como já foi dito, a prática de atividade física ou até mesmo exercício físico regular, não vai livrar ninguém da contaminação, afinal, atividade física não é vacina como se teima em propagar. Não há dúvidas de que a prática corporal cotidiana auxilia no alívio do estresse e na geração de bem-estar, entretanto, devemos ter clareza e consciência que isso não garante proteção à infecção por covid-19. 

    A prática de atividade física/práticas corporais nesse período em que estamos vivendo é recomendada sim, principalmente por questões psicológicas e emocionais, mas, ressalta-se sempre que para ter uma boa imunidade não depende apenas de um único determinante, como algo salvacionista. É necessário mais do que nunca que consideremos a atividade física/prática corporal dentro de um sistema macrossocial, cuja “escolha” e “possibilidade prática” em torno das práticas corporais se configura como uma dimensão individual que acaba sendo priorizada.

    Por fim, devemos também considerar o fator comunicacional, nesse sentido, a mídia tem importante papel neste momento brasileiro e internacional na produção e divulgação de informações, ou seja, deve ser pressionada pela sua responsabilização quanto à dimensão das informações, e não apenas do entretenimento vinculado ao fator do lucro econômico. Quando vemos o que tem ocorrido em torno do futebol profissional no Brasil, consideramos que a mídia deve ser mais consciente, com abordagem mais crítica, porque o discurso da “volta à normalidade” só impacta negativamente os números de contaminação e de mortos, deixando a situação insustentável.

    A pandemia tem nos ensinado a rever certos discursos padronizados, que, na Educação Física, por exemplo, é o da necessidade de fazer atividade física de qualquer forma. Cuidar-se dentro de casa, adaptando-se ao momento, é uma forma poderosa de ter saúde que aparece na forma de preservar a vida.


Referências:
ATIVIDADE física melhora a imunidade e ajuda no combate à COVID-19, aponta especialista. Alpha Fitness. 2020. Disponível em: https://www.redealphafitness.com.br/noticias/2020/03/30/atividade-fisica-melhora-a-imunidade-e-ajuda-no-combate-a-covid-19.html. Acesso: 13 abr. 2021.

REDAÇÃO FOLHA VITÓRIA. Reflexos da Pandemia: pesquisa revela redução de atividade física. 01 out. 2020. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/10/2020/reflexos-da-pandemia-pesquisa-revela-reducao-de-atividade-fisica. Acesso em: 13 abr. 2021.



[1] Desde março de 2020 temos experienciado a dura e preocupante realidade da pandemia de covid-19, que, no Brasil, desde que chegou, encontrou, infelizmente, "fértil terreno" para sua disseminação intensificada. Ao campo educacional de modo geral, restou a experimentação com o chamado "modo remoto de ensino".

Assim, na disciplina "Saúde, Sociedade e Educação Física" (ministrada pelo Prof. Dr. Cristiano Mezzaroba), ofertada ao curso de Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal de Sergipe, de outubro de 2020 a fevereiro de 2021, procuramos trazer o contexto da saúde coletiva com o da Educação Física, aproveitando o contexto atual para fazer discussões e reflexões pertinentes tanto à formação docente como uma formação cidadã.

Os/as discentes participantes, em pequenos grupos, foram estimulados a escrever ensaios teóricos considerando a experiência social de viver na/com a pandemia, podendo articular às mais variadas temáticas, como valores humanos, a relação saúde x doença, política, mídia, tecnologias, ciência, religião, educação, cultura, esporte, fake news etc.

Dos quatro textos recebidos, dois grupos aceitaram reescrever seus ensaios em versões reduzidas, os quais são publicados agora.

O primeiro deles, "Consequências das 'fake news' na sociedade em tempos de pandemia" - de autoria de Aline Kathleen dos Santos, Clara Suzana Santana, Guilherme Teo dos Santos e Hilquias Meneses Santos Gomes, como explicita no título, tece um panorama dos impactos das fake news na sociedade brasileira, prejudicando o enfrentamento da pandemia.

O segundo texto, de autoria de Ana Miriam dos Santos Cardos, Carolayne Jhenyfer Correia Montes dos Santos, Jean Carlos Alves da Costa e Jennifer Benigna da Silva Santos, tem como título "COVID-19: o impacto da quarentena sobre o nível de atividade física", e procurou analisar as questões em torno das práticas corporais em contexto mais restringido devido aos perigos da contaminação pelo novo vírus àqueles que realizam suas práticas corporais cotidianamente.

Boa leitura e reflexões... o conhecimento salva vidas! Viva o SUS! Viva a UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA!
 

Consequências das ‘fake news’ na sociedade em tempos de pandemia [1]

Aline Kathleen dos Santos

Clara Suzana Santana

Guilherme Teo dos Santos 

Hilquias Meneses Santos Gomes


Discentes do Curso de Licenciatura em Educação Física Universidade Federal de Sergipe




O termo fake news corresponde às notícias falsas publicadas por meios de comunicação como se fossem informações reais com o intuito de prejudicar ou legitimar um ponto de vista de uma pessoa ou grupo. No atual cenário brasileiro mediante à pandemia do novo coronavírus, essa prática tornou-se uma grande adversária da saúde pública dificultando o combate à doença, pois muitas delas, além de serem espalhadas em formato jornalístico, também são veiculadas por figuras de autoridade, como o próprio presidente da República Jair Messias Bolsonaro, acarretando numa maior credibilidade à falsa informação. Mas quais os prejuízos que essa prática traz à população em meio à pandemia?

    Até 2019 sabia-se que dentro da família Coronaviridae existem quatro gêneros: alfacoronavírus, betacoronavírus, gamacoronavírus e deltacoronavírus e seis espécies de Coronavírus com sintomas de gripe comum que infectam os humanos (229E, OC43, NL63 e HKU1, SARS-Cov e MERS-Cov) estas últimas de origem zoonótica, associadas as doenças com síndromes respiratórias possivelmente fatais (Chaves & Bellei, 2020; Zhu et al., 2020).

    Em 31 de dezembro de 2019, em Wuhan, China, foi descoberto o sétimo elemento dessa família de Coronavírus. Esse novo agente, o SARS-Cov 2, causador da covid-19 com alto grau de contágio, toma em 2020 grande proporção no mundo caracterizando uma pandemia (disseminação mundial de uma nova doença).

    A partir disso, diante de um cenário nebuloso em que a mídia é usada para informar à população sobre a doença, surge outro grave problema. A desinformação através das fake news, tendo a mídia como nosso maior meio de informação, a depender dos usos que se façam dos veículos midiáticos, tão letal quanto a covid-19. Esse conjunto de veículos é importante para a sociedade, no sentido de nos ligar à realidade, procurando garantir a vida da população mundial, mas, por outro lado, há a possibilidade de manipulação em massa, inclusive, usando um fato verdadeiro, mas deturpando a maneira como ele é “contado” ou o momento que ele ressurge, com fins ideológicos.


        
    O fenômeno fake news se tornou algo bastante frequente e de fácil acesso diante da facilidade da propagação de notícias por meio de redes sociais, que estão ao alcance de uma grande parcela da população mundial a partir dos nossos dispositivos móveis, tendo como principais temas a política, economia, esporte, cultura, entre outros. Com a atual pandemia mundial do novo coronavírus, as fake news vieram a se tornar um problema de saúde pública, como na divulgação de eficácia de medicamentos de fácil acesso sem as devidas comprovações científicas no combate à covid-19, vindo a ter um impacto negativo no tratamento de outras doenças, como o medicamento Ivermectina (utilizado no tratamento de infestações por parasitas como oncocercose e estrongiloidíse), quem tem causado problemas hepáticos em usuários no Brasil.

    O medicamento supracitado faz parte do chamado “kit covid” composto por medicamentos sem eficácia contra à doença, como por exemplo a cloroquina (eficaz no tratamento da malária, lupus e artrite reumatóide), mas divulgado (por instâncias governamentais de vários níveis de poder, mas também por instituições médicas, o que é algo que chama atenção) como eficiente ‘tratamento precoce’. O maior incentivador do uso desse “kit” é o presidente Jair Bolsonaro que age como “garoto propaganda” e dissemina ainda mais fake news relacionadas à cura e prevenção da covid-19 e coloca em risco a saúde da população que se arrisca a utilizar tais medicamentos.

    Outro problema agravado foi o movimento antivacina, vindo a ser influenciado também pelo presidente Jair Bolsonaro, que durante a pandemia teve seu discurso voltado em questionar a eficácia das vacinas, em especial a Coronavac, desenvolvida a partir da parceira do Instituto Instituto Butantan com a biofarmacêutica chinesa Sinovac Biotec, vacina esta aprovada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ideologizando a questão, em conflito de interesses políticos com o então governador de São Paulo, outrora aliado político, e agora, adversário declarado. Tal atitude incentiva as pessoas a não aceitarem serem vacinadas pela insegurança e medo que as notícias falsas criam sobre a vacina e suas possíveis consequências e levam ao negacionismo da ciência.



        
    Para combater as fake news o Ministério da Saúde criou o serviço “Saúde sem Fake News” que funciona por meio do WhatsApp, em que a população pode mandar a informação recebida para o número disponibilizado, e depois de analisada o cidadão receberá como resposta um selo ilustrando se a informação é verdadeira ou falsa, sanando suas dúvidas sobre o conteúdo. Tal serviço ajuda no enfrentamento à problemática, mas é destinado à um público limitado já que nem todos conhecem o serviço e possuem acesso à esse meio de comunicação. Além do mais, embora seja uma iniciativa necessária, cumpre questionar se o Presidente da República não ajudasse a gerar as fake news, já seria de grande valia o serviço público prestado.

    É notório que a questão das fake news traz graves prejuízos à sociedade, pois quem acredita, além de aderir à falsa informação ou recomendação, espalha para outras pessoas de maneira equivocada. Durante a pandemia houve um agravamento desse problema e vemos o retrato disso em nossa atual situação com alto número de infectados e mortos em decorrência da covid-19 todos os dias. Além da falta de vacina existente no país, as fake news nos levaram a essa triste realidade, pois estimulam os cidadãos a ignorar a máscara, álcool em gel, trazem “falsa sensação” de proteção por conta do “kit covid”, entre tantos outros absurdos.


REFERÊNCIAS:

CHAVES, T. S. S.; BELLEI, N. SARS-CoV-2, o novo Coronavírus: uma reflexão sobre a Saúde Única (One Health) e a importância da medicina de viagem na emergência de novos patógenos. Revista de Medicina, v. 99, n. 1, 2020. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/167173/159662. Acesso: 3 fev. 2021.

ZHU, N. et al. A Novel Coronavirus from Patients with Pneumonia in China, 2019. The New England Journal of Medicine, v. 382, p. 727-733, feb. 2020. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2001017. Acesso: 3 fev. 2021.



[1] Desde março de 2020 temos experienciado a dura e preocupante realidade da pandemia de covid-19, que, no Brasil, desde que chegou, encontrou, infelizmente, "fértil terreno" para sua disseminação intensificada. Ao campo educacional de modo geral, restou a experimentação com o chamado "modo remoto de ensino".

Assim, na disciplina "Saúde, Sociedade e Educação Física" (ministrada pelo Prof. Dr. Cristiano Mezzaroba), ofertada ao curso de Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal de Sergipe, de outubro de 2020 a fevereiro de 2021, procuramos trazer o contexto da saúde coletiva com o da Educação Física, aproveitando o contexto atual para fazer discussões e reflexões pertinentes tanto à formação docente como uma formação cidadã.

Os/as discentes participantes, em pequenos grupos, foram estimulados a escrever ensaios teóricos considerando a experiência social de viver na/com a pandemia, podendo articular às mais variadas temáticas, como valores humanos, a relação saúde x doença, política, mídia, tecnologias, ciência, religião, educação, cultura, esporte, fake news etc.

Dos quatro textos recebidos, dois grupos aceitaram reescrever seus ensaios em versões reduzidas, os quais são publicados agora.

O primeiro deles, "Consequências das 'fake news' na sociedade em tempos de pandemia" - de autoria de Aline Kathleen dos Santos, Clara Suzana Santana, Guilherme Teo dos Santos e Hilquias Meneses Santos Gomes, como explicita no título, tece um panorama dos impactos das fake news na sociedade brasileira, prejudicando o enfrentamento da pandemia.

O segundo texto, a ser publicado posteriormente, de autoria de Ana Miriam dos Santos Cardos, Carolayne Jhenyfer Correia Montes dos Santos, Jean Carlos Alves da Costa e Jennifer Benigna da Silva Santos, tem como título "COVID-19: o impacto da quarentena sobre o nível de atividade física", e procurou analisar as questões em torno das práticas corporais em contexto mais restringido devido aos perigos da contaminação pelo novo vírus àqueles que realizam suas práticas corporais cotidianamente.

Boa leitura e reflexões... o conhecimento salva vidas! Viva o SUS! Viva a UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA!

 

A Caserna e o negacionismo à brasileira

 



Nos anos 80, músicos como Tim Maia e Cazuza cantavam sobre o Brasil, apresentando as incongruências de uma nação que se constrói em meio a muitos paradoxos. Uma identidade cultural que para Stuart Hall estaria justificada pela pós-modernidade. “O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas” (HALL, 2005, p. 12). Nesse sentido, podemos dizer que o Brasil (Colônia, Império e República) sempre foi “pós-moderno”, embora, nunca tenha levado a sério o que é ser moderno. Um comentário irônico para citar ideias e teorias do Velho Mundo que encontram guarida e são apropriadas de maneiras singulares “na terra que tem palmeiras, onde canta o sabiá”. 

A teoria positivista parece ser uma delas, entretanto, alerto que ela não significa uma mensagem motivacional. O positivismo, para os desavisados, pode até ser confundido com um comportamento vencedor, no entanto, indica uma teoria que valoriza o uso da razão. Seus princípios orientam a sociedade no combate à pandemia da COVID-19, pois exalta a razão e o espírito científico. Logo, um negacionista não pode estar investido de positivismo, é contraditório, no mínimo.

Augusto Comte (1798-1857) foi o idealizador do positivismo. O Iluminismo e a Revolução Industrial proporcionaram transformações cognitivas, sociais e culturais na Europa. Comte observou muitas mudanças na sociedade, identificando um novo modelo social e pretendia que as Ciências Humanas tivessem métodos científicos semelhantes às Ciências Naturais. Sua proposta com base na experimentação buscou uma maior maturidade racional.

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A racionalidade da “zica” em meio a racionalização do desempenho

 



As modalidades esportivas exigem dos atletas alto desempenho e a melhora constante dos resultados. Uma racionalização produz os corpos e os equipamentos, visando aprimorar a performance coletiva e individual. No futebol, a evolução tecnológica pode ser identificada em múltiplas ações que envolvem a preparação, execução e recuperação dos atletas, afetando a estética do jogo. No entanto, a racionalidade permite que outros elementos possam impactar no jogo, compondo o encantamento, o pensamento mágico que também justifica bons e maus resultados.

A expressão “zica”, uma gíria que denota azar, falta de sorte e infortúnio, aparece ligada ao baixo desempenho, com resultados inexpressivos ou ineficientes. O esporte como representação do progresso, desenvolvimento da técnica, convive com a racionalização e não exclui a presença das crenças, bruxarias e valores encantados que servem para justificar aquilo que não pode ser contemplado nas estatísticas, o imponderável.

As situações que escapam ao planejamento e à organização meticulosa, necessitam ser superadas através de mandingas, orações, feitiços, rituais e superstições. Expressões de religiosidade que sempre estiveram presentes no futebol, no nome de alguns clubes, mascotes, personalidades religiosas (padre, pastor e/ou pai de santo), espaços nas dependências dos estádios e centros de treinamento com capelas ou altares. Estes últimos, são lugares para penitências, promessas e pagamento das bençãos recebidas, entre elas: recuperação de lesão, melhora no rendimento pessoal ou coletivo, conquista de título e classificação para alguma competição.

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Um campeão, um vírus e milhares de mortos: viva o entretenimento!


 

Daniel Machado da Conceição e Cristiano Mezzaroba

A relação mídia, entretenimento esportivo e pandemia mostrou ser um tripé com grandes implicações. Em 2020 a pandemia da COVID-19 impôs a necessidade do isolamento social, isto é, restrições sanitárias que paralisaram inúmeras atividades humanas no mundo todo, com forte impacto na dimensão econômica, sendo os eventos esportivos uma das esferas mais afetadas.

De origem latina, intertenere – entretenimento – é aquilo que se tem no intervalo das ocupações mais sérias, e seu verbo indica dois significados: distrair-se, recrear-se (uma ocupação prazerosa e divertida que proporciona uma experiência singular e enriquecedora para o sujeito) e algo mais ligado à ilusão, desvio de atenção (uma tentativa de desviar a atenção diante da realidade da vida).[1]

O esporte, esse elemento da cultura moderna que nos permite fazer inúmeras leituras sobre nossos modos de vida e comportamentos sociais, muitas vezes associa a si representações sobre saúde, bem-estar e uma vida saudável. Paradoxalmente, boa parte da população mundial, inclusive a brasileira, foi forçada a permanecer em casa, tendo em vista que o máximo de conhecimento “terapêutico” sobre o vírus, então novo e enigmático, era isolar-se para evitar contaminação e propagação. O entretenimento esportivo foi uma das possibilidades utilizadas pelas mais diversas mídias, especialmente a televisão, servindo como paliativo, amenizando o sofrimento e a angústia da espera.

Os empreendimentos esportivos ficaram com espaços vazios, as mídias esportivas tiveram que se contentar com entrevistas, fofocas, sondagens, futurologias e com a reprise de jogos passados (clássicos de finais nas mais diversas modalidades, finais olímpicas, jogos importantes e decisivos de Copas do Mundo de Futebol etc.). Após alguns meses, depois do começo da pandemia oficializada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, os eventos esportivos foram pouco a pouco retornando. Os campeonatos e competições que recebem grande investimento, patrocínio e que possuem calendários vinculados aos grandes conglomerados de mídia sofreram uma pressão para que seus eventos voltassem a acontecer.

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As águas de março já não significam renovação, sera?

 





Um sábado, que iniciou chuvoso em Florianópolis/SC, finaliza o segundo mês do ano. Notícias nos telejornais informam sobre a necessidade do isolamento social e que os cuidados sanitários devem ser redobrados. O sentimento de pesar, impotência, angústia e desalento, permite ao olhar pela janela, lembrar da música “Águas de março”, composição do Tom Jobim, de 1972. Talvez, a lembrança esteja ligada a um pensamento de renovação, estamos por iniciar mais um mês de março, carentes de esperança.

Tom Jobim, que durante o período da ditadura militar no Brasil sofreu com desconfianças e certa perseguição, foi considerado subversivo, principalmente, após a assinatura com outros músicos de um manifesto e a negativa em apresentar-se no Festival Internacional da Canção, promovido pela Rede Globo. Era um momento em que o compositor questionava sua obra e era assombrado pelo sucesso da música Garota de Ipanema. Um estado de desilusão que após um dia cansativo resultou no primeiro esboço da letra que apontava para uma esperança, pois, “são as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração.” 

A canção fez parte de três álbuns. O primeiro de 1972, o segundo de 1973 e o terceiro aparecendo em 1974 (uma versão em dueto com Elis Regina), que trouxe à obra o sucesso comercial e a consagração. A lembrança dessa história e a mensagem que essa bela canção procura transmitir, remetem à nossa situação contemporânea. No ano de 2020, a pandemia da COVID-19 se disseminou pelo mundo. No Brasil, há um ano as primeiras medidas sanitárias e de isolamento social foram aplicadas. Ano em que as águas de março não fecharam o verão, mas apenas o estenderam.

Uma enxurrada de desinteresse, negacionismo, irresponsabilidade, desunião, ideologização, arrogância, insensibilidade, insanidade, autoritarismo, negligência etc., provocou uma enchente com muita lama e sujeira. Interessante que, guardadas as devidas proporções, o modelo de gestão no executivo federal se assemelha ao vivido por Tom Jobim na década de 1970, momento de incerteza e insegurança, no qual a desinformação era projeto. 


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http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/as-aguas-de-marco-ja-nao-significam-renovacao-sera/


Nota:

Elis Regina & Tom Jobim – “Águas de Março” – 1974. Disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=E1tOV7y94DY&ab_channel=FedericoMocciaro.  Acesso em: 27 fev. de 2021. 

Pierre Bourdieu para pensar o estudante-atleta

 



A trajetória de Pierre Bourdieu, de origem interiorana possibilitou ver o que os outros não veem (VALLE, 2007). O distanciamento de sua origem do interior da França e o mundo intelectual acadêmico marcou sua carreira como um diferencial. Ele compreendia que os incômodos que sentia durante entrevistas e palestras eram internalizações adquiridas durante sua socialização, o que remetia a um estrato social não treinado a oralidade e de articulação em público, mas, ao mesmo tempo, o seu sentimento de vergonha social gerava um desejo de compreender e denunciar as situações opressoras (VALLE, 2007).

Pierre Bourdieu como herdeiro da tradição durkheimiana e maussiana na França, procura fazer a Sociologia uma ciência não só positivista. Almeja romper com a ideia de fragmentação do conhecimento e da construção de especialistas, assim se tornava um transgressor das fronteiras acadêmicas (LAHIRE, 2002). Acredita em métodos claros de análise independente de serem legitimados em uma determinada área de estudos, assim supera os limites das disciplinas e suas fronteiras.

Como um Cientista Social Bourdieu transitava entre as áreas alegando que determinada ferramenta metodológica quando usada de maneira adequada serviria para auxiliar a análise do objeto proposto. Esta mesma ferramenta não poderia ser encarada como fixa de determinada disciplina, mas um método para aquisição e análise de dados, capaz de apontar novos caminhos quando utilizados de maneira rigorosa. O sociólogo especialista não seria capaz de perceber as relações existentes no campo, não conseguiria ter a capacidade de manter os olhos abertos para o novo, para o aperfeiçoamento de sua prática (BOURDIEU, 2001).




O texto da Ione Valle (2007) mostra o sociólogo Bourdieu idealizando a sociologia como uma ciência capaz de não só interpretar mais desvelar as práticas sociais. O sociólogo deve se tornar um profissional apto a usar as variadas ferramentas metodológicas com rigor. Deve ter cuidado com o senso comum e um senso comum douto (BOURDIEU, 2001). Isto é, faz uma crítica aos modelos hegemônicos dentro da academia, autores, temas e interpretações que muitas vezes cegam os novos pesquisadores que incorporam um habitus acadêmico. Este cegar pode ser realizado pelo senso comum douto que em muitos casos apenas reproduz explicações. Para não corrermos este risco propõe uma Sociologia da Sociologia, uma análise da própria disciplina revelando relações e interesses por trás dos gostos por determinados objetos de pesquisa (BOURDIEU, 2001). O esporte como campo de estudo no contexto em que Bourdieu se encontrava pode ser encarado como um assunto periférico ou marginal que não mereceria muita atenção na época. Como um Cientista Social questionador, sua subversão ou heresia se cristalizava na alcunha de tomar temas periféricos e mostrar sua importância para o entendimento de ações e o conhecimento da prática social.

No exercício proposto junto à disciplina, somos instigados a ponderar como as primeiras leituras ‘de’ e ‘sobre’ Bourdieu ajudam a pensar o objeto de pesquisa. O autor devido sua extensa obra relacionada ao sistema de ensino, a escolarização e ao desporto, permite não só aproximação, mas o uso de categorias como campo, habitus, poder simbólico, capital etc. Seus estudos ajudam a perceber as transformações sofridas na passagem dos jogos para o esporte, o momento de esportivização que culmina com aquilo que atualmente reconhecemos como esporte de alto rendimento.

Hoje o que entendemos como esporte, no primeiro momento tem sua essência relacionada ao jogo praticado em festividades. Encarado como atividade lúdica, sofre alteração de sentido, passando, em meados do século XIX, a designar atividade corporal com caráter competitivo, e que durante o século XX se intensifica no alto rendimento. O principal responsável por essa mudança foi o início de uma nova apropriação, que ocorre na incorporação de algumas atividades ou exercícios nas public schools, escolas elitistas da Inglaterra, onde o esporte passa a receber um novo caráter de utilidade.

Parece indiscutível que a passagem do jogo ao esporte propriamente dito tenha se realizado nas grandes escolas reservadas às elites da sociedade burguesa, nas public schools inglesas, onde os filhos das famílias da aristocracia ou da grande burguesia retomaram alguns jogos populares, isto é, vulgares, impondo-lhes uma mudança de significado e de função [...] (BOURDIEU, 1983, p. 139).

Os jogos transformados em modalidades esportivas são agora considerados de elite, e a ela pertencente, recebem sua carga de utilidade, são vistos como formadores de caráter e estimuladores de saúde, bem como de aptidões necessárias para o convívio em sociedade e gestão de negócios futuros. Além de ser ótima oportunidade para os jovens alunos extravasarem suas energias. Sua utilidade passa a ser valorizada por não envolver grande soma de investimento financeiro para sua realização (BOURDIEU, 1983, p. 146). Assim o esporte pode ser encarado como uma estrutura estruturante fomentando uma estrutura estruturada capaz de ser incorporada no sujeito (BOURDIEU, 2001, p. 8). Desta forma, uma habitus se constitui junto à classe dominante, e que posteriormente atinge as classes populares construindo uma realidade pautada em um poder simbólico que transpassa o corpo e o uso do mesmo.

O futebol no Brasil ganha notoriedade durante os anos 30, junto ao projeto do Estado Novo. Sua representatividade foi construída concomitantemente a imagem de país moderno e multirracial. A temática para estudo desenvolvido na dissertação trata do futebol, mas não dele propriamente. Procura compreender as relações envolvidas na formação de atletas em dois clubes de futebol profissional. Inúmeros jovens de várias partes do Brasil se aventuram na carreira futebolística, os meios de comunicação e o senso comum descrevem que o desejo de ascensão e mobilidade social são os motivos objetivados para organização de um projeto familiar. Segundo Bourdieu, se deve avançar na análise relacional dos diversos interesses intrínsecos ao campo percebendo os embates e as forças de poder existentes. Ao apresentar o estudante-atleta, jovem que se dedica a formação esportiva e a escolarização, posso perceber que o mesmo está na intersecção entre dois campos, o campo futebolístico e o campo escolar.




O campo futebolístico possui vários atores em um embate constante de força. Na concepção inicial o jogador possui o capital físico e ausência de capital econômico, sendo de certa maneira, conduzido para o esporte que lhe incute a possibilidade de ascender socialmente. Orbitando ao jovem no meio esportivo encontramos elementos como: (1) a família; (2) a estrutura do clube e o quadro profissional com dirigentes e técnicos que percebem o potencial de investimento, pois a lógica capitalista permeia a sua relação desde sua aprovação para categorias de base; (3) empresários como caçadores de talentos que investem na possibilidade de gerenciar a carreira dos jovens atletas, transformando a atividade lúdica em trabalho remunerado e de vínculos contratuais; (4) as grandes empresas que desejam vincular suas marcas a “heróis” modernos, estimulando o consumo de seus produtos; (5) a imprensa que promove e ganha com o futebol, pois atinge as massas de espectadores ávidos por informação e (6) os torcedores que mobilizam o clubismo identificando o jogador com a suas cores.

Não apenas estes seis elementos orbitam o jogador, mas podemos enumerar outros ou mesmo desdobrar os elementos já citados, mas neste trabalho focalizamos estes como principais. Bourdieu (1983, p. 142) descreve que este sistema ou o espaço é repleto por lutas constantes na disputa pelo monopólio tanto da prática, como da teoria existente sobre esporte e suas aplicações. O que deve ser percebido é a variedade de relações presentes no indivíduo e na prática esportiva por ele desenvolvida.

O projeto familiar envolve todos os membros do grupo, em muitos casos acontece a liberação de um indivíduo para formação esportiva enquanto os outros suprem as necessidades familiares. Estudos mostram que em muitos casos o jovem jogador é o filho mais novo da família, a qual investe todos os recursos disponíveis em seu treinamento e permanência no clube. A afirmação de Bourdieu sobre capital físico demonstra uma maneira de fugir do processo de escolarização que passa a ser única forma de ascensão para os meninos.

(...) a carreira esportiva, (...) representa uma das únicas vias de ascensão social para crianças das classes dominadas: o mercado esportivo está para o capital físico dos meninos assim como os concursos de beleza e as profissões as quais eles dão acesso estão para o capital físico das meninas. (BOURDIEU, 1983, p. 147)

A demarcação de capital físico envolve as características para o desenvolvimento da atividade esportiva. A escola requer outro tipo de capital, um cultural, que em muitos casos não se relaciona ao contexto e aprendizado familiar. As exigências acadêmicas não mobilizam o jovem atleta a ter maior desejo de estudar. As dificuldades nos bancos escolares e seu conteúdo são promotores de um ânimo ainda maior de galgar sucesso em uma atividade que guarda no imaginário uma prática divertida. O desafio está em receber um jovem que não vê interesse na escola, pois seus títulos e certificados tendem a não ter importância para sua consolidação profissional, ao contrário de outros alunos trabalhadores e que os certificados garantem melhores postos de trabalho. A família ao dedicar atenção na esperança de ascensão social, através de uma prática que desconsidera o capital cultural para afirmação e prestígio. Entra no que Bourdieu apresenta como uma lógica da indústria. Isto é, a atitude presente de apenas pensar em aperfeiçoar-se é o facilitador para ser recrutado, pois, se harmoniza com as exigências da profissionalização. Acarretando o desenvolvimento “da racionalização de preparação quanto da execução do exercício esportivo imposto pela maximização da eficácia” (BOURDIEU, 1983, p. 147).




As percepções sobre relações no campo esportivo foram estudadas anteriormente (MEZZAROBA, DA CONCEIÇÃO, 2014), agora, a proposta é dar ênfase na escola e entender as relações existentes neste espaço de poder simbólico. As interações entre não-atletas, professores e atletas demonstra como a estrutura escolar pode excluir jovens focados em outra atividade profissional, bem como, afetar os que se dedicam plenamente a ela. O foco relacional descrito por Bourdieu dentro deste campo de poder possibilita uma objetivação dos embates e tensões existentes neste espaço. Um cenário amplo repleto de representações carregadas por hierarquias e interesses. Muitos dos jovens são oriundos de várias cidades brasileiras, a inserção no futebol significa separação da família e de suas relações sociais primárias, o clube significa uma rotina de treinamento, a escola no que lhe concerne, um local de interação com outros sujeitos se coloca distante a medida que as exigências de um saber cultivado não condizem com a formação que os jovens almejam. A cultura legitima exige a avaliação constante do desempenho destes jovens, sua rotina flexibilizada os diferencia de alunos com maior tempo para estudos, logo são considerados como ‘desviantes’, pois carregam um duplo distanciamento da escola. O primeiro que normalmente a escola impõe as classes não cultivadas (CATANI, 2002), e o segundo, o desinteresse na escolarização em comparação com outros alunos os faz recuar ainda mais fazendo-os receber acusações e rótulos estereotipados.

Ao ponderarmos com Bourdieu uma proposta de falar sobre esporte, principalmente de futebol não parece ser algo simples, primeiro pelas inúmeras interpretações de senso comum que buscam deslegitimar o conhecimento analítico do mesmo. Todos falam com propriedade sobre futebol, é um tema muito caro aos amantes da modalidade. Encontramos livros, crônicas em revistas e jornais, debates em televisão e rádio, rodas de bar e no trabalho as mais diversas explicações para paixão, sucesso e interesses pelo futebol. No meio acadêmico também encontramos doutos e núcleos de discussão que visam sua legitimação em contínuas produções que valorizam o grupo. Para estudar o futebol a proposta do intelectual deve ser a de procurar o relacional, aquilo que no campo irá aflorar desde que tenha uma postura de rigor com um olhar pronto a apreender o novo. E que segundo Lahire (2002), o intelectual Bourdieu além de mostrar uma via possível para fugir de repetições possui uma obra que também não é fechada em si mesmo, ela autoriza ser questionada, e mais que isso abre portas para maior utilização de conceitos e desenvolvimento das categorias (LAHIRE, 2002, p. 52).


Referencias:

BOURDIEU, Pierre. Como é possível ser esportivo. In:___. Questões de Sociologia. RJ: Ed. Marco Zero, 1983.

_____. O poder simbólico. RJ: Bertrand Brasil, 2001. p. 17-58.

CATANI, A. M. A sociologia da educação de Pierre Bourdieu (ou como um autor se torna indispensável ao nosso regime de leituras). In:___. Educação e Sociedade. Dossiê “Ensaios sobre Pierre Bourdieu”, Ano XXIII, n. 78, abr/2002. p. 57-75.

LAHIRE, B. Reprodução ou prolongamentos críticos? In:___. Educação e Sociedade. Dossiê “Ensaios sobre Pierre Bourdieu”, Ano XXIII, n. 78, abr/2002. p. 37-55.

MEZZAROBA, Cristiano; DA CONCEIÇÃO, Daniel Machado. 'Os herdeiros': questões sobre o campo esportivo. Linhas (Florianópolis. Online), v. 15, 2014. p. 241-264. Disponível em: http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/view/1984723815292014317

VALLE, I. R. A obra do sociólogo Pierre Bourdieu: uma irradiação incontestável. In:___. Educação e pesquisa. SP: FEUSP, v. 33, n, 1, jan/abr, 2007. p. 117-134.


        Nota:

Trabalho produzido na disciplina Dominação e Reprodução Social: a Sociologia de Pierre Bourdieu – PPGE 3130, ministrada pelo Professora Dra. Ione Ribeiro Valle, semestre 2014-1.


Socialização profissional, a inserção em uma comunidade de prática

 


         A veemência do tema se cristaliza a partir das atuações como profissional de segurança nos finais de semana em eventos noturnos na cidade de Florianópolis/SC. O olhar treinado, como descrito pelo antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira (2000, p. 19), durante o trabalho noturno instrumentalizava o pesquisador dando destaque a lugares, espaços e comportamentos marcados no ambiente festivo. Assim, sensibilizado pelas teorias estudadas na graduação de Ciências Sociais, as observações foram se aprofundando e descortinando a teia de relações construídas durante a dinâmica das festas. O trabalho prevê um olhar sobre os profissionais de segurança, a experiência pessoal em primeiro plano, a luz dos conceitos de comunidade de prática (LAVE; WENGER, 1991), saberes profissionais (DUBAR, 1997), e socialização profissional (PLAISANCE, 2003) (MELO; VALLE, 2013). A pergunta que se propõe a responder é: como acontece a aprendizagem dos agentes de seguranças para atuação em eventos noturnos?

As experiências vividas demostram incorporar um habitus que se faz reconhecido entre os profissionais de segurança e os clientes das casas noturnas. Uma internalização gradual de um sistema de códigos e símbolos partilhados a partir do reconhecimento de si e do outro quanto a posição social desempenhada nos eventos. Um processo de socialização externado na sociabilidade apresentada durante as interações construídas ao longo da vida. Dubar (1997) afirma que a identidade é produto de sucessivas socializações, sejam elas primárias, secundarias ou profissionais.

A diferenciação social presente no ambiente das casas noturnas, é sentida nos profissionais de segurança que na ambivalência de seu uniforme, possuem prerrogativas para limitar acessos e inibir desordem, como também frente aos estratos mais favorecidos marca sua função social subalterna. Agora a expressão: “sabe com quem está falando?”, deixa exposto os conflitos e hierarquias presentes na festa, ou no rito de autoridade – um traço sério e revelador de nossa vida social (DAMATTA, 1997, p. 184). Esta frase é algo que rapidamente o agente de segurança deve aprender a exercer resiliência.

Neste cenário, considero a equipe de segurança como uma comunidade de prática em que compartilham uma visão de mundo e conhecimentos característicos de uma socialização profissional. Posso dizer que inicio minha participação periférica legítima (LAVE; WENGER, 1991) no papel de segurança, tendo a oportunidade de transitar por diversos postos de trabalho na mecânica organizacional das casas noturnas. Tais postos abrangem do atendimento na portaria com informações e revista dos frequentadores, ao atendimento a camarotes, e no controle de acessos diversos a áreas reservadas para clientes, bem como para o fluxo de funcionários. Assim, o contato com clientes e funcionários é constante, o que possibilita descrever inúmeras formas de interação descritas em trabalhos anteriores. O recorte deste, centra-se na apresentação da inserção ou acesso ao campo, assim como o processo de aprendizagem-ação e de socialização profissional para o desempenho da função e atribuições de segurança.

Em meio ao caos, que o olhar a primeira vista pode identificar, com os inúmeros indivíduos curtindo o seu momento. Ao fazermos a aproximação, em outras palavras, ao nos situarmos no chão da festa ou do lado daqueles que a organizam, podemos visualizar muita ordem e controle para manter a harmonia. O controle das tensões mediante o choque das relações de poder e de hierarquias sociais presentes parece um caldeirão efervescente que se mantêm por valores e convenções construídas por aqueles que compartilham o espaço e seu sistema simbólico. Por esta razão o treinamento do segurança para festas noturnas, passa por um conhecimento, em certa medida, espontâneo e partilhado por meio da experiência e vivência em cada um dos ambientes mediante um saber profissional. Cada casa noturna, cada evento é distinto do outro, o cenário diferente guarda uma dinâmica própria a partir dos promotores da festa, dos organizadores, do tipo de música, dos patrocinadores, dos trabalhadores e dos clientes. Esta aprendizagem não surge no primeiro evento, mas na construção do metier de agente de segurança, ou no que Michel Maffesoli (2005)descreve como a “ambiência englobante”.



 Devemos entender este processo de socialização geral que engloba toda a vida, como constitutivo dos seres humanos como seres sociais (PLAISANCE, 2003, p. 2), ou melhor, profissionais.

A socialização profissional é um processo por meio do qual os indivíduos constroem valores, atitudes, conhecimentos e habilidade que lhes permitem e justificam ser e estar em uma determinada profissão. É um processo de concretização dos ideais profissionais. Sob um aspecto mais objetivo, a socialização profissional constitui-se no processo de traduzir em práticas profissionais os conhecimentos inerentes à profissão. E, sob o aspecto subjetivo, constitui-se na efetiva identificação, adesão à profissão e ao outro, pela compreensão do mundo no qual ele está e por tornar tal mundo o seu próprio. Muito além de qualquer circunscrição, é um modo de consolidação de uma identidade individual e coletiva. (MELO; VALLE, 2013, p. 100).


O primeiro momento de inserção como acontece através de um convite pautado em determinadas características físicas e de necessidades pessoais objetivas. Este contato traz um aprendizado inicial, o mesmo começa com várias orientações do Robertinho1, segurança experiente e naquela época com 3 anos de atuação. Em seguida, um discurso disciplinador contrário à brutalidade física, um domínio e controle quanto às agressões, mesmo quando a essência da função estimule a masculinidade e a firmeza nas ações. Sem estar em um espaço legítimo de aprendizagem com objetivo de aquisição de um certificado, a experiência de ouvir o discurso da comunidade começa a dar conformidade na maneira de atuar. Podemos destacar que a socialização é um deixar-se moldar, um deixar-se forjar por determinado grupo de pertença, fazendo com que as propensões individuais sejam abafadas pelas do grupo (MELO; VALLE, 2013, p. 83).

A relação com outros seguranças se dá enquanto acontece a interação com o grupo de mesmo perfil2. Isso possibilita conversar e sem perceber participar da aprendizagem. O fato de se comentar sobre festas passadas, relatar ações, procedimentos, e contar parte de sua experiência, serve para o aprendizado do novato. Ninguém fica sobre tutela de um veterano, na verdade, a inserção na equipe o faz receber determinados privilégios e informações de como tratar determinado grupo ou cliente frequentador. De acordo com Lave e Wenger (1991) a prática improvisada cria um currículo de ensinamento3, em que, no caso, as várias experiências e postos de atuação na casa noturna promovem o aprendizado do novato até atingir as posições de privilégios e coordenação. Acontece então um processo de construção de um conhecimento e de confiança mútuo entre os colegas, trazendo um respaldo para atuação no empoderamento pelo tempo de serviço e vivência. Valores que em uma comunidade de prática pautada na masculinidade, lhe são mais caros do que a simples comprovação de um currículo de aprendizagem.

O acesso pleno e efetivo a comunidade, além de liberar para conhecer mais a fundo as relações imbricadas, também trouxe um envolvimento maior do pesquisador com o grupo profissional. Em outras palavras, também sou afetado pelo campo, enquanto adquiro gosto pela música eletrônica, pelo consumo de energético, o hábito de mascar chicletes, no interesse por campeonatos de artes marciais mistas e na assimilação de uma postura corporal. Estes são fatores que conformam uma identidade de grupo, a comunidade com suas práticas que se estendem para além do meio onde são realizadas. Esse movimento viabiliza ser afetado pela comunidade, bem como, de afetá-la. Em outras palavras, acontece a efetivação da interiorização do processo de socialização que agora pode ser observada através de sua externalização.



 A aprendizagem periférica legitima contribui para pensar a maneira em que um conhecimento é legitimado por meio da prática e não só de um currículo teórico, embora também respaldado por ele. A vivência passa a ser um processo de ensino e preparação de profissionais para atuar como seguranças. Muitos membros da comunidade de prática não sabem que estão em aprendizagem. Porém, por meio dos discursos, práticas, conversas, comportamentos e trocas de experiências, muitas vezes não intencionais, possibilitam a formação atual dos agentes de segurança das melhores casas noturnas do Sul do Brasil. A aquisição dos códigos, valores e regras de convivência possibilita ao segurança ter maior autonomia da vontade a partir do entendimento da moral compartilhada no ambiente. A passagem de novato para veterano com acesso pleno a comunidade de prática requer um currículo de ensinamento, um processo mediado por relações, conhecimentos e comportamentos construídos durante a dinâmica dos eventos.

O metier de agente de segurança, embora reconhecidamente marcado na expressão corporal, envolve muito mais do que a postura ostensiva, o habitus é internalizado paulatinamente por meio da troca e na interação constante entre colegas e clientes que participam dos eventos. O conceito de socialização profissional instaura subsídios para melhor compreensão do processo contínuo de assimilação da moral presente nos momentos festivos em casas noturnas. Desta maneira, podemos identificar que a socialização acontece ligada a uma instituição em um tempo, um espaço e segundo os grupos sociais (PAISANCE, 2003, p. 5).


Referencias:

DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto/Portugal: Porto Editora, 1997.

CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir e escrever. In:___. O trabalho do antropólogo. Brasília: Paralelo 15; SP: Editora UNESP, 2000.

DA CONCEIÇÃO, Daniel M. Marretadas repetitivas: a continuidade e a remodelação de valores sociais em três casas noturnas de Florianópolis. Mosaico Social, v.06, 2013. p.300 – 317.

DAMATTA, Roberto. Sabe com quem está falando? Um ensaio sobre a distinção entre individuo e pessoa no Brasil. In:___. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. RJ: Rocco, 1997. p. 179-248.

LAVE, Jean; WENGER, Etienne. Aprendizaje situado: participación periférica legítima. Tradução: Miguel Espíndola e Carlos Alfaro. New York: Cambridge University Press. 1991.

MAFFESOLI, Michel. A transfiguração do político: a tribalização do mundo. Porto alegre: sulina, 2005.

MELO, Marilândes Mol Ribeira; VALLE, Ione Ribeiro. Socialização e socialização profissional: interface entre forjar e negociar outro ser. Roteiro, v. 38, 2013. p. 79-102.

PLAISANCE, Éric. Socialização: modelo de inclusão ou modelo de interação? Revista PerCursos. Centro de Ciências da Educação. Florianópolis: UDESC, v 4, n. 1, out/2003. p. 177-193.


Notas:

1Nome fictício. Segurança casado, pai de três filhos, idade de 40 anos, natural do Rio Grande do Sul. Na época trabalhava como operador de telemarketing. Atualmente, finaliza o curso técnico de enfermagem, trabalha em um posto de saúde do município como contratado e nunca fez o curso de vigilante.

2Os critérios para escolha dos seguranças para cada grupo estão pautados em características fenotípicas. Na portaria irão os de menor estatura e mais franzinos. Para pista os “pitbulls”, geralmente com maior porte físico e com habilidades em luta e imobilização, são a linha de frente, são aqueles colocados para o confronto com a responsabilidade de retirar clientes encrenqueiros de dentro da casa. O grupo escolhido para o camarote possui uma distinção, pode misturar ambas as características fenotípicas, centrando destaque nas ações e no comportamento mais paciente durante situações inconvenientes, supostamente maior educação no trato e na capacidade de mediação. Características aprendidas pela experiência, mas a postura firme na atuação também é requisito importante.

3“Un curriculum de aprendizaje consiste en oportunidades situadas (incluyendo así ejemplares de varias clases a menudo pensados como “metas”) para el despliegue improvisado de práctica nueva. Un curriculum de aprendizaje es un campo de recursos de aprendizaje de la práctica diaria visto desde la perspectiva de los aprendices. Un curriculum de enseñanza, por el contrario, se construye para la instrucción de los novatos” (LAVE; WENGER, 1991).


 Trabalho produzido na disciplina Educação e Pesquisa Sociológica – PGE 410131, ministrada pela Professora Dra. Ione Ribeiro Valle, semestre 2014-2.