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O alambrado que separa também marca ausência e sonho

 


A pandemia tirou os torcedores dos estádios, a proibição de aglomeração de pessoas mudou a maneira como assistimos aos jogos, especificamente, de como os ouvimos. Os potentes microfones captam os sons das falas, elogios, gritos e xingamentos. As conversas ao pé do ouvido ficaram audíveis e revelam muito da dinâmica e sociabilidade futebolística em campo.

Em alguns jogos, as crianças até precisam sair da sala. Não que o futebol deva pregar um moralismo beático, porém sempre surpreende ver pessoas exercendo sua profissão e os palavrões servirem como adjetivação e motivação. Lembro que o técnico Abel Ferreira, contratado pela Sociedade Esportiva Palmeiras/SP, em coletiva após sua expulsão de um jogo destacou que futebol não é igreja. Concordo com ele, mas isso não quer dizer que aceito seu argumento como justificativa, pois escola também não é igreja e, se eu como professor proferir um palavrão para adjetivar um educando, o que irá acontecer? Interessante refletir sobre que linha tênue dá liberdade para proferir xingamentos sem ser enquadrado como assédio moral (conversa para outro momento).

Enquanto passamos a ouvir mais sobre o jogo de futebol em campo, também começamos a perder detalhes que agora estão mediados pela transmissão dos jogos. Estar no estádio é acompanhar as partidas sem replay, o que exige outra sensibilidade. São cheiros, sons e uma vidência que permite observar a movimentação dos jogadores em todo o campo, o movimento das torcidas, as disputas por espaços, a participação dos técnicos, dos suplentes no banco de reserva, dos dirigentes, a movimentação da segurança (polícia) e muitos outros detalhes que widescreen não pode captar integralmente.

Minha proposta não é discutir sobre os efeitos positivos ou negativos a respeito de como assistir aos jogos, preferências e gostos impactam na subjetividade do sujeito que decide como pretende acompanhar esse momento festivo. Pretendo pontuar sobre a ausência dos torcedores nos estádios, de maneira específica a respeito de um elemento na estrutura do jogo que perdeu seu sentido, o alambrado.

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https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/o-alambrado-marca-ausencia-e-sonho/


Futebol sem fronteiras, ídolo não tem nacionalidade: Andrés D’Alessandro é mais um exemplo

 


Não recordo quando passei a ser torcedor do Sport Club Internacional. Natural de Pelotas, interior do estado do Rio Grande do Sul, a primeira opção era escolher um dos clubes da cidade, a segunda tendia a ser escolha por um clube da capital para torcer. Meu pai e parte da família acompanhavam o lado azul e meu avô materno, o Seu Machado (1923-2013), tinha preferência pelos ‘encarnados’, como ele gostava e dizer.

Meu avô, sempre saudosista, comentava sobre alguns jogadores que vestiram a camisa vermelha e ganharam sua admiração, entre eles, Tesourinha (temporadas 1939-1949), Larry (1954-1961), Figueiroa (1971-1977), Falcão (1973-1980) e Manga (1974-1976). Muitos outros nomes eram lembrados, mas esses eram repetidos sempre que precisava justificar seu pertencimento ao clube que tem a cor do sangue e do coração, dizia ele. Por essa razão, falava com certa satisfação dos encarnados.

As muitas histórias sobre jogadores que Seu Machado tinha para contar eram, em parte, mediadas pelas transmissões radiofônicas e pelo imaginário criado a partir das narrativas de narradores e comentaristas. Nos anos finais de sua experiência terrena, meu avô já não acompanhava os jogos com a mesma lucidez. Talvez nem tenha percebido quando um novo estrangeiro, como tantos que brilham no Inter, um argentino de nome Andrés D’Alessandro, foi contratado.

Acredito que meu avô teria gostado do empenho e dedicação que o jogador D’Ale demonstrava em campo e também fora dele. Em campo, sua visão e capacidade de ler o jogo renderam o apelido El Cabezón. O trabalho coletivo foi seu diferencial, mesmo sendo ele a diferença em campo. Fora dele, viveu a cidade frequentando não só os espaços mais requintados, sempre que possível participou de atividades voluntárias palestrando, visitando lugares com pessoas que precisavam de apoio e inspiração; também realizou grandes eventos solidários mobilizando seu nome de atleta para levar seu exemplo de cidadania.

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A questão racial é uma oportunidade para falar sobre os alunos

 


Quero refletir a respeito da formação de professores e a necessidade dos currículos incluírem disciplinas que abordem a questão racial, uma vez que observo uma resistência ao tema em todos níveis de ensino. Recentemente, ao ler o livro Na minha pele (Objetiva, 2017), do escritor, ator e diretor Lázaro Ramos, uma passagem chamou minha atenção. Ela destaca a palavra identidade, que segundo o autor passamos a escutar com maior frequência, o que o fez ponderar que o debate racial não é uma questão dos negros, chegando, então, à conclusão de que se trata de “uma questão de qualquer cidadão brasileiro, ela diz respeito ao país, é uma questão nacional. Para crescer, o Brasil precisa potencializar seus talentos, e o preconceito é um forte empecilho para que isso aconteça” (RAMOS, 2017, p. 12).

Concordo com ele, o preconceito é um empecilho que institui barreiras que separam os sujeitos e as oportunidades. Uma das barreiras está relacionada ao constrangimento que impede a inclusão do tema e de conversas sobre ele em sala de aula. Afinal, temos tanto a falar sobre a estrutura escolar, seus espaços, processos, documentos, metodologias, abordagem, conteúdos, avaliações internas e externas etc. Realmente, não sobra tempo!

Mas, acontece que os números da desigualdade racial no país são alarmantes e, infelizmente, refletem parte do que a população negra vivencia em seu cotidiano. Um dos dispositivos para propor rupturas ou a mínima garantia dos direitos está na legislação, isto é, na criação de leis. As leis significam passos importantes na busca por transformação, entretanto, também atestam nossa falha civilizatória que exige uma legislação para nos lembrar o que não queremos ver, Lei 7.716/1989 – crime de racismo; Lei 9.459/1997 – crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional; Lei 10.639/2003 – estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira; Lei 11.645/2008 – obrigatoriedade da temática história e cultura afro-brasileira e indígena; Lei 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade Racial; e, Lei 12.711/2012 – regulamentação das ações afirmativas em universidades e institutos federais.

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https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/a-questao-racial-e-uma-oportunidade-para-falar-sobre-os-alunos/


A racialização das práticas esportivas e a triste invisibilidade

 


Fiquei pensando sobre o título da mesa [1] que diz Vidas negras importam e o racismo nas práticas esportivas. Posso retornar as duas sentenças, primeiro, vidas negras importam com uma interrogação, será que importam? Uma postagem nas redes sociais, que utilizo em tom provocativo, diz ser o esporte um espaço onde as vidas negras mais importam.

“O maior no golfe? O maior no basquete? A maior no tênis? O maior da F1? O maior do atletismo? O maior do boxe? A maior na ginástica? A maior no futebol? O maior no futebol? A maior no vôlei? São pretos e pretas”.

Parece paradoxal que com essa notoriedade, os feitos e as realizações desses atletas ainda tenhamos que falar sobre racismo que sofrem. Então, assim chegamos a segunda sentença: o racismo nas práticas esportivas. Em outras palavras, vamos conversar sobre os motivos para permanência ou persistência do racismo mesmo com o reconhecimento dos atletas negros/pretos no esporte.

Nessa caminhada que proponho, gostaria de afirmar que vidas negras importam, e não estamos falando de vidas mais importantes que outras, pois é evidente que todas as vidas importam, estamos falamos de morte porque algumas pessoas morrem com mais facilidade, isto é, são mais desprezadas que outras.

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https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/a-racializacao-das-praticas-esportivas-e-a-triste-invisibilidade/


A desigualdade educacional em meio a promessa do mérito

 


A educação institucionalizada propaga muitos valores (morais, éticos, conhecimentos e saberes) de dada sociedade que tem na escola um veículo ideológico de excelência. Um espaço institucionalizado capaz de disseminar os ideais da modernidade e orientar sobre o comportamento civilizatório mais aceitável. Por essa razão, a escola faz parte dos projetos nacionais e, atualmente, transnacionais que orientam seus objetivos para uma formação voltada ao mundo do trabalho, identificando como prioritários para o desenvolvimento da sociedade que hoje é pensada no modelo global.

Ao proferir essa afirmativa, entendo que o papel da escola não parece ter mudado, apenas a magnitude das suas ações deixaram de ser locais para ganhar um sentido global, em um mundo supostamente sem fronteiras, pelo menos, quando falamos de produtos e mercadorias, bem como, dos que participam do meio virtual e das suas atividades correlatas. Devemos ponderar sobre a sociedade e a sua ampliada divisão social do trabalho, acrescentando ao jogo das relações comportamentos que reproduzem a manutenção dos privilégios, da desigualdade social e da falta de oportunidades. Então, será que podemos identificar a nossa sociedade brasileira como republicana? Parece ficar claro que não, porém um princípio mascara ou amortece essa realidade, tirando o foco dos problemas ou das suas incongruências. O mérito como apresentado por Roxana Kreimer no livro Historia del mérito (2000) parece cumprir o papel de projetar os sonhos e metas de uma vida melhor, isto é, uma busca constante por reconhecimento e as suas benesses. A sua aceitação ou convencimento está atrelado ao individualismo e na capacidade de adiar a recompensa. “É porque o mérito é a única maneira de combinar a igualdade e a liberdade numa sociedade onde reina a divisão do trabalho que esse princípio de justiça é tão fundamental quanto a igualdade” (DUBET, 2014, p. 27).

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http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/a-desigualdade-educacional-em-meio-a-promessa-do-merito/

O vírus do racismo se manifesta como modelo mental

 


BOLETIM A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL EM TEMPOS DE CRISE | N. 16

No Boletim 16, Daniel Machado da Conceição (UFSC) faz um paralelo entre a manifestação do racismo na sociedade brasileira e a propagação de um vírus, evidenciando como o racismo estabelece modelos mentais capazes de orientar ações da pessoa que o manifesta e impactar efetivamente a pessoa e/ou o grupo social vitimada(o), inclusive determinando suas condições de vida (e de morte) na sociedade.

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A pandemia que enfrentamos tem trazido muitas reflexões que sugerem questionar a sociedade e o modo de vida que escolhemos seguir. Estamos confrontando valores que são paradoxais, entre eles, manter uma vida desenvolvimentista ou optar pela reclusão. Na sociedade em que a divisão social do trabalho definiu as relações orientadas na solidariedade, no atual momento, o sentido de dependência do outro está mais relacionado ao distanciamento, ao afastamento como verdadeiro símbolo de coletividade.

O momento estimula a pensar sobre as mazelas dessa sociedade, pois algumas se mostram muito presentes; são como outras pandemias que continuam a contaminar e disseminar muitas enfermidades sociais. Uma das patologias sociais que segue a contabilizar vítimas tem origem em um vírus que corrói a sociedade diminuindo não sua imunidade, mas sua humanidade. Essa patologia é anterior a sociedade moderna e não se restringe às transformações no espaço urbano e aos novos aglomerados. Um vírus que atravessa a história da humanidade e que sofre mutações de tempos em tempos, adquirindo maior letalidade durante nosso processo civilizatório de mundialização.

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http://www.anpocs.com/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientistas-sociais/2450-boletim-a-questao-etnico-racial-em-tempos-de-crise-n-16


http://anpocs.com/images/stories/boletim/boletim_CS/Boletim_ER_016.pdf

A construção da empregabilidade por meio da formação de jovem aprendiz




Resumo: Acreditar na aprendizagem, acreditar que por meio do emprego uma nova condição de vida possa ser atingida, estimula o sacrifício de moldar o próprio corpo de acordo com o ethos profissional. Na vida de grande parte dos jovens o fato de começar a trabalhar exige empenho no ajuste dos horários pessoais, no aprendizado de regras e códigos de sociabilidade, na postura corporal, na linguagem e até mesmo nos cuidados com a higiene pessoal. A ideia nesse breve ensaio foi refletir sobre a socialização profissional e a aquisição de uma formação que deve ser expressa no comportamento que significa ações atitudinais (empreendedoras). Os conceitos de “socialização profissional” e de “mérito” serão centrais para o desenvolvimento dos argumentos que envolvem a experiência do aprendiz e a construção de um “eu profissional”. Busco identificar quão influente o discurso do mérito pessoal parece favorecer o processo de socialização profissional, o que supostamente garante uma futura contratação ou uma maior empregabilidade.   

Palavras chave: Competência; Empregabilidade; Jovem Aprendiz; Mérito; Socialização Profissional.

 

A CAPACITAÇÃO DO JOVEM APRENDIZ 

Ao iniciar um novo processo de pesquisa, esse fato requer a busca de uma  outra  inserção  em  conceitos,  terminologias,  categorias,  expressões  e porque  não  dizer  um  novo  olhar.  As  lentes  são  renovadas  para  analisar  a capacitação de jovens aprendizes que começam sua atividade profissional no mercado  de trabalho. A  capacitação  profissional em vigor com respaldo legal permite acesso ao primeiro emprego, a aquisição de experiência e contato com um mundo muitas vezes distinto da realidade de algumas famílias habituadas a atividades subalternas sem a necessidade de maior escolarização.  

O interesse em pesquisar o tema do estudante-trabalhador esteve sempre paralelo  a  estudos  desenvolvidos  sobre  o  estudante-atleta.  As  condições  de formação, ou melhor, o tempo de investimento em treinamento e nas atividades profissionais  parecem  se  assemelhar.  O  não  conjugar  carreira  esportiva  e carreira  profissional  com  a  educação  escolar  parece  ser  um  ponto  com propensão a uma diferenciação entre as formações, pois o capital escolar afeta diretamente  a  habilitação  para  exercer  os  postos  de  melhor  remuneração  no mercado, situação que no esporte não demonstra ser preponderante. A escola também se mostra como elemento importante para abordagem, pois ambos, o jovem trabalhador e o jovem atleta tem a obrigatoriedade de estar matriculado em algum programa de educacional até a conclusão do Ensino Médio. Em razão do  recorte  etário  e  populacional,  os  jovens  estudam  em  escolas  públicas  e buscam atividades formativas que garantam uma renda imediata ou um melhor futuro. O adolescente tem dois caminhos institucionais para obter a qualificação profissional: a aprendizagem escolar e a aprendizagem empresária (OLIVEIRA, 2009).  Perceber  aproximações  ou  distanciamentos  na  relação  do  jovem  com escola e com o trabalho laboral ou esportivo é uma das justificativas em dedicar esforços na compreensão de uma realidade vivida por inúmeros jovens no Brasil.  

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https://drive.google.com/file/d/1ONomkuYxooKfHL9GJzc88nc_ahqIDdPD/view

http://revista.ucpparana.edu.br/index.php/Trivium/issue/view/10

Entrevista Manuela Linhares Francisco - PROJETO APRENDIZ FAEPESUL

 Iniciar o itinerário formativo não parece ser algo fácil quando falamos do primeiro emprego. Muitas mudanças podem ser observadas e, em alguns casos, pode significar um choque cultural aprender o comportamento esperado dentro de uma ética do trabalho. Pensando nessa situação o PROJETO APRENDIZ FAEPESUL, busca em seus encontros proporcionar ao jovem a motivação necessária para encarar as transformações que serão impostas a sua nova rotina familiar, escolar e profissional. Além de indicar maneiras que facilitem a organização de suas atividades. Sem esquecer a exigência do desenvolvimento de competências e habilidades que objetivam sua formação profissional resguardando seu protagonismo como agente transformador de sua história. 

Venha ser parceiro da aprendizagem, venha fazer parte do Projeto Aprendiz FAEPESUL.


DISPONÍVEL EM:

https://www.youtube.com/watch?v=QImkH76bLh8&feature=youtu.be

Lembrar da escola não se restringe ao desempenho, são relações…

 



Estou nesse texto expressando os meus sentimentos sobre um dos espaços de socialização de grande importância para sociedade, no caso, desejo falar sobre a escola que aparece e favorece na transição entre a vida familiar (privada) e o mundo (público). Na escola criamos relações que se orientam a partir de encantos, espantos, experiências e encontros, seja com colegas, professores, ou famílias e, obviamente, com o conhecimento. Ao refletir sobre as minhas memórias na escola fiquei pensando sobre esse espaço único e que não podemos apenas reduzir aos saberes transmitidos dentro dos seus muros. Pensar a escola é refletir sobre os significados que cada indivíduo atribui a esse espaço de socialização, mesmo quando as avaliações de desempenho passam a representar seu único propósito.

Saudosismo ou não, ao pensar na escola, mais precisamente, no meu Ensino Fundamental, lembrei que além das matérias e dos conteúdos, estar no espaço escolar também envolveu sentimentos e emoções que se materializavam em conquistas que não estavam reduzidas à aprovação no final do ano. A escola permite criar um mundo cheio de códigos estudantis e regras de sociabilidade próprias, que podem ser observadas na sala de aula, pátio e corredores.

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Escola Estadual de 1º e 2º Grau Cassiano do Nascimento.




Vidas negras importam ou não importam?

 



Nos últimos meses algo tem incomodado muito uma parcela da população mundial, principalmente, assim como parte da população brasileira. Durante a pandemia se acirraram as desigualdades, e tem sido um momento para olhar mais para si permitindo aflorar diversos sentimentos. Algumas pessoas mobilizam sentimentos otimistas e coletivos, pois visualizam uma transformação no mundo capaz de o deixar mais harmonioso, igualitário e empático. Outros, mergulham em um looping vertiginoso de temor e medo do futuro e se agarram ao passado que parece mais confortante, assim procuram evitar encarar a si mesmos e dar os passos necessários em direção oposta à segurança da sua bolha.

As pessoas pertencentes a esse segundo grupo tendem a refletir sempre com base no mérito pessoal, na busca e manutenção de privilégios, por fim, se relacionam com o mundo a partir do seu individualismo, dizendo: se eu posso, todos os outros podem! Justificam que o sol nasce para todos, mas esquecem dos contextos em que esse sol se faz presente. Mesmo o sol como metáfora de uma igualdade ou democracia da natureza que rege todas as coisas, ainda assim a sua incidência é afetada por questões geográficas e geológicas. O sol nascer para todos parece ser uma premissa verdadeira, mas precisamos estar cientes que ele não se faz igual para todos.

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https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/vidas-negras-importam-ou-nao-importam/


O direito à informação como Direito Humano (Autor: Cristiano Mezzaroba)


        Muito se tem falado sobre fake News (notícias falsas) e sobre o quanto elas têm dificultado processos que ocorrem no interior das dinâmicas sociais, políticas, comunicacionais e culturais desse nosso modo moderno de viver. Também ouvimos quanto às abordagens dos veículos midiáticos, sejam eles “tradicionais” (como mídia impressa, rádio, televisão) ou “digitais” (a partir das múltiplas possibilidades que a internet proporciona em aglutinar todas as outras mídias), suas supostas neutralidades, suas posições ideológicas e seus interesses mercadológicos.

Se há algo não conflitante nesse debate e nessas compreensões, é que sabemos que as informações produzidas e veiculadas pelo conjunto dessas mídias participa ativamente da configuração de modos de conhecimento e subjetivação, ajudando-nos a formar imagens e representações das questões que envolvem a vida, as “coisas”, as relações, o mundo de forma geral.


Quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), proposta pela ONU – Organização das Nações Unidas, em 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial, foi elaborada, a sua conotação bastante humanista preponderava em seus artigos, pregando, entre outros “direitos”, a liberdade, a justiça, a paz e a dignidade. A Assembleia Geral da ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos “[...] como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional” (DUDH, 2020).

Não sejamos totalmente ingênuos em relação aos propósitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, porque a pretensão de universalidade (algo comum) a todos homens e todas mulheres esconde a possibilidade de respeitar todas as diferenças quando identificamos particularidades nos povos humanos existentes, ou seja, a valorização da diversidade cultural. Se houver imposição de determinados valores, supostamente “universais”, a outros povos (diferentes da “minha cultura”), estaremos realizado um ato de etnocentrismo, determinando que todos os demais devem se basear em um “padrão” particular. Ou seja, tratar a cultura como algo universal é algo questionável, visto que as culturas são singulares, são particularidades, fazem parte de determinados povos (têm um significado relacionado) – para analisá-las, não precisamos “ter a mesma cultura”, mas sim “compreendê-las”, entendê-las como algo diferente (mas nem por isso, melhor ou pior).

Passadas mais de oito décadas da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e com o mundo mais globalizado, midiatizado e tecnologizado, a rapidez do trânsito de informações apresenta-se como algo ambíguo: ao mesmo tempo que nos ajuda em muitos aspectos, também se coloca como um novo problema a enfrentarmos, ou seja, é necessário que pensemos no direito à informação como um direito humano também!

Assim, opto por tecer algumas breves reflexões em torno de uma educação em direitos humanos (EDH) e possibilidades que a minha inserção profissional, como docente e pesquisador do campo da educação e comunicação me permite, pensando na (boa) informação como direito humano.

Pensar a educação em direitos humanos é trazer à discussão questões que envolvem minorias étnico-raciais, gênero, crianças, jovens, adultos, idosos etc., enfim, aquilo que se configura enquanto princípios fundamentais que configuram a EDH, que, segundo as Diretrizes Nacionais da EDH (2002), envolve: dignidade humana; igualdade de direitos; reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; laicidade do Estado; democracia na educação; transversalidade, vivência e globalidade; e, sustentabilidade socioambiental.

Detenho-me àquilo ao qual estudo cotidianamente, que é pensar que, atualmente, o direito à informação vem se configurando também como um direito humano. Assim, pensamos a mídia como um espaço estratégico dentro dessa modalidade educacional, ou seja, as relações que envolvem o campo comunicacional com o campo educativo devem ser valorizadas no sentido de uma educação que considere os veículos midiáticos, enquanto produtores e veiculadores de produtos culturais que implicam em símbolos e significados que (des)educam a sociedade de modo geral.

Orofino (2005), em seu livro “Mídias e mediação escolar – Pedagogia dos meios, participação e visibilidade”, defende que pensar e atuar no contexto educacional requer conhecer teorias sobre mídia e comunicação, compreendendo que os processos realizados pela cultura midiática se caracterizam como um processo sócio-histórico.

Primeiramente é preciso reconhecer que todo lugar é lugar de EDH (não apenas o espaço formal da educação, como escolas e universidades), e o reconhecimento de articulações que envolvem a transversalidade no contexto educativo são construções históricas a partir de lutas sociais, envolvendo afirmações de valores que envolvem dimensões ética, política e social.

Certamente a proposição de Orofino (2005), quanto a uma pedagogia dos meios, baseada na pedagogia freireana de “leitura do mundo”, envolvendo uma alfabetização midiática que permita aos sujeitos não apenas consumirem o que é ofertado pela mídia, mas sentirem-se produtores ativos, reflexivos e criativos de produtos audiovisuais/textuais no sentido de transformação de seus universos socioculturais, envolve redimensionar a ideia que temos de protagonismo e de democratização da informação no contexto escolar.

Enquanto dimensão dos direitos humanos, entender a complexidade que envolve o aparato midiático, a construção e veiculação da informação, as ideologias presentes nos produtos culturais produzidos pela mídia em seu conjunto, possibilitará exercer o direito à cidadania, não de maneira ilusória ou na forma de uma democracia meramente representativa, mas devolvendo o aspecto participativo à democracia.

O momento em que vivemos no Brasil, de domínio da extrema-direita, sua política de destruição de direitos e de estimulação de conflitos de toda ordem, executados de forma diária pelos mais diversos sujeitos/poderes do Estado nacional, exige que aprendamos e valorizamos de forma cada vez mais intensa todos os princípios que envolvem os direitos humanos. E aos “donos da mídia” cabe também a reflexão de suas responsabilidades quanto ao papel que desempenham na sociedade: adiantará, depois de muito sofrimento, muita destruição e muitas mortes, elaborar editoriais (décadas depois) assumindo mea culpa pelas suas omissões?


*As reflexões foram possíveis pela minha participação na Jornada “Educação em Direitos Humanos”, realizada pela EaD Freireana, do Instituto Paulo Freire, realizada no mês de maio de 2020.


REFERÊNCIAS:

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language.aspx?LangID=por. Acesso em: 11 out. 2020.

OROFINO, Maria Isabel. Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e visibilidade. São Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire, 2005.


CRISTIANO MEZZAROBA

Com formação em Educação Física e também em Ciências Sociais, ambos pela UFSC; mestrado em Educação Física (UFSC, 2006-2008) e doutorado em Educação (UFSC, 2014-2018), é professor, desde 2010, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe, onde também atua, desde 2019, no Programa de Pós-Graduação em Educação (Linha Educação e Comunicação). Criou e coordena o GEPESCEF - Grupo de Estudos e Pesquisas Sociedade, Cultura e Educação Física (DEF/CCBS/UFS) e tem participado do Laboratório de Pesquisas Sociológicas Pierre Bourdieu (LAPSB/UFSC) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq).



O saber escolar, um quebra-galho árduo dentro e fora do futebol

 


No Brasil, em meio às mudanças e adequações que o futebol sofre em razão da pandemia do COVID-19, um jogador tem recebido destaque e diferentemente das carreiras meteóricas, essa é cheia de desafios e decisões que, em geral, não são apresentadas com clareza no noticiário esportivo. Uma carreira que desabrocha e amadurece, não mais com 20 poucos anos, mas na casa dos 30 e com data de término definida.

Enquanto escrevo, os debates esportivos estão falando desse jogador, um grande quebra-galho e árduo atleta – com perdão do péssimo trocadilho. O profissional em questão é Thiago Galhardo, jogador do Sport Club Internacional, artilheiro do campeonato brasileiro da Série A em 2020, até o momento.

Galhardo, assim ele é conhecido pelos torcedores, tem uma carreira distinta daquela que o imaginário popular espera. O mito de origem sobre a família paupérrima que se dedica para entrar e permanecer nas categorias de base de um grande clube de futebol, não se sustenta sequer em aparência. Thiago é representante de um grupo social pertencente às classes populares, com limitações de acesso e que vivencia a desigualdade social presente no país, mas a narrativa de que o esporte é a única opção de sucesso na vida não é evidente, pois uma dupla carreira sempre fez parte de seu projeto familiar.

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Entrevista com o Educador Social Sérgio Oliveira Junior, Projeto Aprendiz FAEPESUL

O Educador Social Sérgio Oliveira Jr (Mano), atua na capacitação profissional junto as turmas de jovens aprendizes na cidade de Tubarão/SC. Durante a entrevista, o Educador, fala sobre sua trajetória docente, experiências profissionais, seu trabalho no Projeto Projeto Aprendiz FAEPESUL e apresenta algumas dicas para os jovens que desejam entrar ou permanecer no mundo do trabalho.

Venha ser FAEPESUL!!!

ASSISTIR EM:

https://www.youtube.com/watch?v=8bd7MN_soyc&feature=youtu.be

Lazer e ativismo: LGBTs desafiam homofobia no futebol (Reportagem de Lucas Koehler)


No esporte mais popular do Brasil, gays e bissexuais tentam quebrar domínio heterossexual.

Para muitos homens, jogar o futebol é o principal lazer da semana, quase um ritual. Conhecidas como “peladas”, as partidas são os momentos para se divertir com amigos da faculdade, reunir a família e organizar colegas de trabalho para chutar uma bola e reclamar dos problemas que teve com o chefe da empresa.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015, 38% da população brasileira com mais de 15 anos praticava algum esporte ou atividade física, sendo que 59% eram homens. Entre as modalidades, o futebol é o favorito para 15,3 milhões de pessoas, representando 40% dos praticantes de algum esporte.

Mas entre os seus colegas de time, existem algum que seja homossexual? Quantas vezes você já jogou futebol com um gay? Afinal, como é para gays e bissexuais praticarem o esporte mais popular do país em partidas compostas, em sua maioria, por heterossexuais?

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https://omirantejoinville.com.br/2019/02/28/lazer-ativismo-lgbts-desafiam-homofobia-no-futebol/

Fantasia F.C.: a desilusão no futebol da garotada (Repórter Natan Cauduro)


Pesquisadores e análise de dados revelam a realidade do estudante-atleta dentro e fora do Brasil.

Ser jogador profissional de futebol é um sonho que marca golaço na cabeça de milhares de jovens pelo mundo. Viver do esporte, jogar nos melhores clubes, ganhar dinheiro e fama e ver a torcida vibrando na hora do gol são imaginários que rondam a mente desses adolescentes. A ideia, por si só, é carregada de fascinação, e pode justificar a busca incessante por uma carreira dentro e fora do país.

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Apresentação do dossiê: O lugar das Ciências Sociais nas pesquisas sobre futebol

 



A aproximação entre futebol e pesquisas nas Ciências Sociais não é novidade no Brasil. Desde o início, esse esporte mostrou-se um fenômeno urbano bastante significativo pelo seu alto poder de espetacularização - assim, foi aproveitado por diferentes atores na tentativa de se obter vantagens políticas. Em 1938, Gilberto Freyre publicou no Diário de Pernambuco uma análise social e cultural da seleção brasileira que excursionava pela Europa, tendo como destaque o atacante Leônidas  da Silva – jogador negro, considerado um dos maiores ídolos do futebol no país. Escrevia Freyre, utilizando as categorias de Spencer: “O estylo mulato, afro-brasileiro de foot-ball é uma forma de dansa dyonisíaca 4”. Essa perspectiva foi retomada pelo autor, anos mais tarde ao prefaciar “O negro no futebol brasileiro”, de Mário Rodrigues Filho (1947), e no texto “O futebol e a dança” (1971). Uma década depois, Maria Isaura de Queiroz (1948), seguindo a mesma linha Freyre, escreve “O futebol e o caráter dionisíaco do brasileiro 5 ”, desta vez, abordando as categorias dionisíaca e apolínea como padrões culturais sob a perspectiva de Ruth Benedict - e, de certa forma, inaugurando a presença do futebol no pensamento social brasileiro pelo viés culturalista. No entanto, a primeira pesquisa sobre futebol defendida em uma pós-graduação, na grande área das Ciências Sociais, no país, foi apresentada apenas em 1977. Trata-se da dissertação de mestrado de Simoni Lahud Guedes, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ), intitulada “O futebol brasileiro: instituição zero”.

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Palavras-chave: Apresentação; dossiê; Ciências Sociais do Esporte.

Autores:

Caroline Soares de Almeida, Daniel Machado da Conceição e Carmen Rial

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https://periodicos.ufjf.br/index.php/csonline/article/view/30958

A concomitância entre estudar e jogar: observações sobre o processo de descontinuidade na escolarização de jogadores de futebol em formação

 



Resumo:

O artigo aborda a formação de atletas no futebol de campo e sua relação com a escola, apresentando parte dos resultados obtidos em pesquisa com as categorias de base de dois clubes profissionais de Santa Catariana. Os resultados permitiram observar que a atual formação esportiva no futebol de campo favorece o desenvolvimento do que chamamos de descontinuidade na relação que o atleta constrói com a escola e consequentemente com a sua escolarização. O termo estudante-atleta indica dois papéis sociais compartilhados, o de estudante e o atleta. Os dois papeis são exercidos por meio de atitudes e posturas reconhecidas nas instituições que representam (escola e clube). Quando os juntamos, destacamos que o jovem parece estar na intersecção entre duas formações, uma dupla carreira. São projetos que muitas vezes são apresentados como incompatíveis e não relacionados. Propomos que ambas carreiras possam ser pensadas em sua complementariedade, isto é, uma favorecendo a outra. Para que essa transformação ocorra se faz necessário repensar os objetivos da formação e seu processo de desenvolvimento.

Palavras-chave: Ensino Médio; Dupla Carreira; Escolarização; Estudante-Atleta; Futebol;

Autores:

Daniel Machado da Conceição e Alexandre Fernandez Vaz 

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https://periodicos.ufjf.br/index.php/csonline/article/view/30510



Meus momentos com Paulo Freire

 


Minha escolarização possui um desempenho mediano, muito mais por minha postura estudantil, minha relação com o saber durante a infância e adolescência sempre foi utilitarista, estudar para evitar os castigos. O conteúdo se mostrava distante da minha realidade, mesmo morando próximo à escola, um prédio grande e imponente que era visto a distância. O Ensino Fundamental na Escola Estadual de 1º e 2º Grau Cassiano do Nascimento (Pelotas/RS) foi realizado com aproveitamento satisfatório, possibilitando ser aprovado no processo seletivo para o Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça – CAVG (Pelotas/RS) no curso Técnico em Agropecuária.

Nesse percurso alguns temas de estudo e professores tocavam o jovem Daniel de maneira diferente, alguns geravam ojeriza e, outros, contemplação. A imagem do bom educador foi ganhando importância na relação, na mediação e no comprometimento com as diversas disciplinas, matérias e conteúdos. Nesse contexto de estudante negro, de classe popular, com baixa escolarização dos familiares e que desempenhavam atividades profissionais subalternas, um nome aparecia de tempos em tempos na sala de aula, citado por educadores preocupados em fazer a diferença, esse nome era Paulo Freire.

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https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/meus-momentos-com-paulo-freire/


Reflexões de um “positivado” (Texto em parceria com Roberto Carlos Garcia da Silva)

 


Vivemos em um mundo com muitos perigos, alguns são visíveis, permitindo planejar estratégias para ficar em segurança e outros sempre estiveram próximos, embora, sem o auxílio de instrumentos especiais nunca poderíamos perceber. Nos últimos meses, um perigo invisível se faz presente em nossas vidas. O vírus da COVID-19, mais um entre muitos, assolou a humanidade independente de sua condição social, econômica, cultural, física e sanitária.

Profissionais de diversas áreas tiveram que enfrentar o vírus de maneira direta ou indireta no combate a disseminação do vírus, muitos até mesmo perderam sua condição de trabalho e renda. Algumas atividades laborais precisaram continuar, outras se transformaram e, infelizmente, inúmeras até irão se extinguir. Neste cenário a reflexão sobre o eu interior devia ter se tornado o principal esforço para a melhoria da situação. Perdas aconteceram e ainda acontecerão com maior ou menor intensidade, sejam elas econômicas, educacionais, profissionais, familiares e de vidas, a pergunta que devemos fazer é: o que aprendemos com tudo isso?

Não temos a resposta, pois a subjetividade de cada indivíduo permite ou não refletir sobre seu momento. Os aprendizados são múltiplos e o momento de cada um, seu amadurecimento, difere de maneira distinta uns dos outros. No entanto, podemos descrever sobre a nossa experiência como “positivados”. Um de nós vivenciou a experiência de ser positivado com o vírus da COVID-19, enfrentando a ‘montanha-russa’ dos sintomas e do estado de quarentena, já o outro positivado com a necessidade de continuar esperançoso com o ensimesmamento que pode permitir transformação pessoal e social. Faremos o relato do positivado com COVID-19 para refletir sobre o positivado com esperança.

Nos dias que se seguem, todo o cuidado é pouco, em vários momentos que estava ensimesmado, descobrindo que meu desejo mais importante é viver, questionei o que vem depois da vida?

Sim, que luxo ter esse momento para repensar o propósito da vida, tentei em projetos pessoais encontrar a felicidade, em muitas coisas supérfluas sem saber nada sobre a vida. Agora, positivado por um vírus que pode ser mortal, pondero sobre o tempo que gastei, que não usei ou que nem sei, pois, nunca me preocupei em aproveitar.

Como o tempo passou e eu nem mesmo sou capaz de lembrar? O que conquistei? Que legado deixei, se deixei algum? Estar positivado nesse caso, foi estar vivo, pois, confrontei minha existência em instantes de lamentos e de lamúrias as escuras solitário entre paredes de um quarto. Um momento sozinho, em que poucos souberam ou se dignificaram a escutar. Agora, posso dizer que durante todos os dias da minha jornada sempre busquei por algo que eu imaginava precisar ou necessitar para viver.

Diferentemente dessa situação de positivado, ensimesmado, a minha procura foi reconhecer o sentido da vida e da minha própria existência. Confesso que somente durante essas horas e dias, passei a perceber ter empenhado minha rotina em correr atrás de coisas quem já não fazem mais diferença.

Estou entendo o verdadeiro sentido da palavra vida, ela tem apenas quatro letras, uma palavra cheia de significado. Lamento ver que muitos estão perdendo ela de forma banal e abrupta, outros nem percebem ela se esvair.

Estar positivado transformou meu desejo de ser melhor, almejo mudanças gerais e que elevem meu padrão. Uma coisa posso dizer: já não sou mais quem eu era, estou deixando de ser quem eu pensei que fui um dia, e sou sincero, se é que fui algo um dia. Que grande reflexão, só cheguei a ela ao confrontar minha existência.

Hoje, após passar por essa experiência pessoal e íntima, reflito sobre certas ações em minha trajetória e concordo com vários poetas anônimos que dizem ser a vida uma caixinha de surpresas. Embora, todos os desafios que nos são impostos, hoje posso dizer que precisamos viver. Esse é o verdadeiro ideal, aprender sobre o que realmente nos é necessário.

Definir a vida sempre é muito arriscado, mas o medo de errar é viver, por isso incentivo a todos. Viva Intensamente Dedicando Amor. A experiência terrena é curta, não podemos demorar em aprender que precisamos viver ela para encontrar nosso propósito”.

Essa experiência contada em primeiro plano, sobre o momento de reflexão ao confrontar a existência pessoal também nos permitiu pensar sobre estar positivado com o desejo de transformação. Uma crença interior que destaca a compreensão da vida como um descobrir sobre si mesmo. O princípio é perceber que estamos vivos somente quando nos fragmentamos, nos dividimos e nos separamos em pequenas partes doando nosso tempo e talentos aos outros. Nesse momento espalhamos ou disseminamos nosso amor pelos outros, como o polem que precisa se dissipar para encontrar outras flores e assim permitir a perpetuação dos frutos.

Pessoas individualistas que não vivenciam experiências coletivas, são como flores que se fecham em si mesmas, após a passagem de sua beleza e cheiro agradável, nada resta e são esquecidas. Que sejamos flores que desabrocham para aprender receber e dividir aquilo que temos de melhor para produzir frutos que marcarão nosso legado, pois serão frutos que deixarão muitas sementes.


Roberto Carlos Garcia da Silva

Graduando em Enfermagem e Técnico em Enfermagem.




Atenção com a jabuticabeira [pessoal] da educação (14/09/2020). Mensagem para os jovens.

Pensar o processo de escolarização como o cultivo de uma jabuticabeira permite projetor seus frutos, seus resultados, a longo prazo. A escolarização não é um processo com efeitos imediatos ou de curto prazo. Criar uma relação com o saber pode garantir que a transformação pessoal seja emancipatória. O vídeo apresenta dicas e relata sobre parte da minha trajetória.

ASSISTIR EM:

https://www.youtube.com/watch?v=NwdmVcgYgBE&feature=youtu.be 




Professores "mestres do amanhã" na urgência do presente (Autor: Cristiano Mezzaroba)

Pensar o contexto de atuação profissional dos professores e professoras tem sido, já há algum tempo, tarefa incessante e imprescindível porque implica nas possibilidades de melhora da qualidade educacional e na transformação das condições de vida de uma população.

Muito se fala – e há muito tempo – que precisamos investir energia material, humana e econômica no campo das políticas públicas educacionais para que, no presente, possamos garantir oportunidades de futuro às crianças e jovens. O que temos visto é um presente cada vez mais limitado para um futuro desesperançoso, embora saibamos que chegamos num momento da Humanidade em que as mídias e tecnologias colocam-se cada vez mais como recursos potenciais de interação humana, de entretenimento, mas também de possibilidades educacionais e formativas (a própria urgência e limitações da pandemia de covid-19 expõe e testa tal hipótese).

Cursos – Super Preparado

Nossos corpos são mídias primárias: comunicamo-nos corporalmente, mas fazemos uso de nossa voz e nossa gestualidade para dialogar, comunicar, informar, atuar com/sobre o “outro”. Construímos ao longo da história humana um conjunto de meios que foram nos permitindo comunicar sob a forma impressa, depois radiofônica, por fotografia, depois com imagens em movimento (cinema) e também pela televisão. Na segunda metade do Século XX, com o advento da internet, fizemos o mundo tornar-se algo possível de ser conhecido dentro de nossas casas, sob nossos comandos e a partir de nossos gostos e vontades.

Assim como esses recursos foram evoluindo e sendo aperfeiçoados, também vimos eles sendo cada vez mais fáceis de serem acessados em suas materialidades: de grandes caixas televisores, hoje temos telas super finas; de computadores do tamanho de uma sala, hoje temos notebooks ultra-finos e, mesmo, aparelhos smartphones que cabem em nossos bolsos e com uma tecnologia de ponta.

Mas como podemos pensar em todas essas questões tecnológicas e midiáticas em relação ao contexto educacional e formativo? Temos visto uma exacerbação do uso de equipamentos tecnológicos no dia a dia das pessoas, reiteradamente defende-se que os mesmos propiciam experiências de imersão virtual e de facilitação às “coisas” do cotidiano que outrora não seria possível. Sabemos de suas possibilidades e potencialidades: mas por que elas são pouco difundidas ou testadas ou experimentadas quando trazemos essas questões para aqueles que lidam no dia a dia escolar/formativo? Poderíamos pensar no professor como um agente envolvido com a tarefa de “experimentar-se” com as tecnologias digitais de informação e comunicação no sentido de atuar com fins a uma educação transformadora quando a educação escolar parece perder importância diante daquilo que a cultura midiática oferece às crianças e jovens?

Nesta reflexão, opero a possibilidade de considerar o professor como um agente que se coloca como investigador de suas próprias práticas, ou seja, a perspectiva do “professor-pesquisador” proposta por Stenhouse (1975;1991), como aquele sujeito com a tarefa educacional com a consciência de que deve ser um intelectual de suas práticas, que reflete sobre suas ações, transformando suas práticas em objetos de investigação – ampliando sentidos e significados da prática pedagógica aos seus sujeitos, os alunos e alunas. Para isso, poderíamos pensar num trabalho com as mídias e tecnologias, pois as mesmas, hoje, são mais acessíveis e interferem diretamente no cotidiano das crianças, jovens e adultos.

Lembremos que Anísio Teixeira, em 1963, em texto para uma conferência, pensou quanto aos “Mestres de amanhã”, professores de escola que seriam os “mestres dos dias vindouros”, pois, naquele momento, considerava que as transformações da “fase nova da civilização chamada industrial” estava gerando uma “explosão contemporânea dos conhecimentos” e a tecnologia se desenvolvia, complexificando a sociedade moderna.

Atemporalmente, como podemos ver, Anísio Teixeira considerava, ainda no começo da década de 1960, que os meios de comunicação “[...] se fizeram recursos para a propaganda e a diversão comercializada, quando não para o condicionamento político e ideológico do homem.” (TEIXEIRA, 1963).

 Para o pensador brasileiro, a expansão dos meios de comunicação – e devemos considerar que isso só se ampliou e intensificou – como a imprensa, o rádio, a televisão, o cinema, e aqui incluiríamos a internet, faz com que o professor (chamado por ele como “mestre”) vá perdendo a imagem e o poder que tradicionalmente lhe foi vinculado de alguém que domina e transfere um conhecimento.

Segundo Anísio Teixeira (1963), “Cada meio novo de comunicação alarga o espaço dentro do qual vive o homem e torna mais impessoal a comunicação, exigindo, em rigor, do cérebro humano compreensão mais delicada do valor, do significado e das circunstâncias em que a nova comunicação lhe é feita.”

Aproximando a nossa realidade atual, em que estamos imersos em tecnologias – embora não devemos desconsiderar nossas desigualdades sociais, econômicas e educacionais – com o que Anísio Teixeira já previa, torna-se necessário que àqueles que atuam no contexto escolar tenham autonomia, consciência e liberdade de experimentação em torno da possibilidade de uma escola que seja intelectualmente e formativamente ambiciosa, apta a tentar e se arriscar, ao menos, a “oferecer uma educação à altura do desafio dos nossos tempos”, como diria Anísio Teixeira (1963). Trata-se de uma tarefa difícil e complexa, porém necessária!

Não se trata, também, de querer transformar o professor num cientista, mas permitir que ao experimentar-se com as mídias e tecnologias, o mestre seja alguém “estimulador e assessor do estudante, cuja atividade de aprendizagem deve guiar, orientando-o em meio às dificuldades de aquisição das estruturas e modos de pensar fundamentais da cultura contemporânea de base científica em seus aspectos físicos e humanos.” (TEIXEIRA, 1963).

A pandemia chegou e trouxe novamente as ideias de Anísio Teixeira para que aqueles que atuam no campo educacional, ao lidar com a urgência do momento, experimentem, testem, reflitam e avaliem as possibilidades e limitações tecnológicas e midiáticas, principalmente quanto à recolocação do papel do(a) professor(a) na importância dos sistemas de ensino e na vida das crianças e jovens sob sua mediação.


REFERÊNCIAS

STENHOUSE, Lawrence. An introduction to curriculum research and development. Londres: Heinemann, 1975.

STENHOUSE, Lawrence. Investigación y desarrollo del curriculum. Madrid: Morata, 1991.

TEIXEIRA, Anísio. Mestres de amanhã. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 40, n. 92, out./dez. 1963. p.10-19. Disponível em: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/mestres.html Acesso: 17 jul. 2020.


"Reflexões produzidas a partir da realização do Curso 'Jornada Mestres do Amanhã', do Instituto Paulo Freire, entre julho e agosto de 2020"


CRISTIANO MEZZAROBA

Com formação em Educação Física e também em Ciências Sociais, ambos pela UFSC; mestrado em Educação Física (UFSC, 2006-2008) e doutorado em Educação (UFSC, 2014-2018), é professor, desde 2010, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe, onde também atua, desde 2019, no Programa de Pós-Graduação em Educação (Linha Educação e Comunicação). Criou e coordena o GEPESCEF - Grupo de Estudos e Pesquisas Sociedade, Cultura e Educação Física (DEF/CCBS/UFS) e tem participado do Laboratório de Pesquisas Sociológicas Pierre Bourdieu (LAPSB/UFSC) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq).