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Socialização profissional, a inserção em uma comunidade de prática

 


         A veemência do tema se cristaliza a partir das atuações como profissional de segurança nos finais de semana em eventos noturnos na cidade de Florianópolis/SC. O olhar treinado, como descrito pelo antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira (2000, p. 19), durante o trabalho noturno instrumentalizava o pesquisador dando destaque a lugares, espaços e comportamentos marcados no ambiente festivo. Assim, sensibilizado pelas teorias estudadas na graduação de Ciências Sociais, as observações foram se aprofundando e descortinando a teia de relações construídas durante a dinâmica das festas. O trabalho prevê um olhar sobre os profissionais de segurança, a experiência pessoal em primeiro plano, a luz dos conceitos de comunidade de prática (LAVE; WENGER, 1991), saberes profissionais (DUBAR, 1997), e socialização profissional (PLAISANCE, 2003) (MELO; VALLE, 2013). A pergunta que se propõe a responder é: como acontece a aprendizagem dos agentes de seguranças para atuação em eventos noturnos?

As experiências vividas demostram incorporar um habitus que se faz reconhecido entre os profissionais de segurança e os clientes das casas noturnas. Uma internalização gradual de um sistema de códigos e símbolos partilhados a partir do reconhecimento de si e do outro quanto a posição social desempenhada nos eventos. Um processo de socialização externado na sociabilidade apresentada durante as interações construídas ao longo da vida. Dubar (1997) afirma que a identidade é produto de sucessivas socializações, sejam elas primárias, secundarias ou profissionais.

A diferenciação social presente no ambiente das casas noturnas, é sentida nos profissionais de segurança que na ambivalência de seu uniforme, possuem prerrogativas para limitar acessos e inibir desordem, como também frente aos estratos mais favorecidos marca sua função social subalterna. Agora a expressão: “sabe com quem está falando?”, deixa exposto os conflitos e hierarquias presentes na festa, ou no rito de autoridade – um traço sério e revelador de nossa vida social (DAMATTA, 1997, p. 184). Esta frase é algo que rapidamente o agente de segurança deve aprender a exercer resiliência.

Neste cenário, considero a equipe de segurança como uma comunidade de prática em que compartilham uma visão de mundo e conhecimentos característicos de uma socialização profissional. Posso dizer que inicio minha participação periférica legítima (LAVE; WENGER, 1991) no papel de segurança, tendo a oportunidade de transitar por diversos postos de trabalho na mecânica organizacional das casas noturnas. Tais postos abrangem do atendimento na portaria com informações e revista dos frequentadores, ao atendimento a camarotes, e no controle de acessos diversos a áreas reservadas para clientes, bem como para o fluxo de funcionários. Assim, o contato com clientes e funcionários é constante, o que possibilita descrever inúmeras formas de interação descritas em trabalhos anteriores. O recorte deste, centra-se na apresentação da inserção ou acesso ao campo, assim como o processo de aprendizagem-ação e de socialização profissional para o desempenho da função e atribuições de segurança.

Em meio ao caos, que o olhar a primeira vista pode identificar, com os inúmeros indivíduos curtindo o seu momento. Ao fazermos a aproximação, em outras palavras, ao nos situarmos no chão da festa ou do lado daqueles que a organizam, podemos visualizar muita ordem e controle para manter a harmonia. O controle das tensões mediante o choque das relações de poder e de hierarquias sociais presentes parece um caldeirão efervescente que se mantêm por valores e convenções construídas por aqueles que compartilham o espaço e seu sistema simbólico. Por esta razão o treinamento do segurança para festas noturnas, passa por um conhecimento, em certa medida, espontâneo e partilhado por meio da experiência e vivência em cada um dos ambientes mediante um saber profissional. Cada casa noturna, cada evento é distinto do outro, o cenário diferente guarda uma dinâmica própria a partir dos promotores da festa, dos organizadores, do tipo de música, dos patrocinadores, dos trabalhadores e dos clientes. Esta aprendizagem não surge no primeiro evento, mas na construção do metier de agente de segurança, ou no que Michel Maffesoli (2005)descreve como a “ambiência englobante”.



 Devemos entender este processo de socialização geral que engloba toda a vida, como constitutivo dos seres humanos como seres sociais (PLAISANCE, 2003, p. 2), ou melhor, profissionais.

A socialização profissional é um processo por meio do qual os indivíduos constroem valores, atitudes, conhecimentos e habilidade que lhes permitem e justificam ser e estar em uma determinada profissão. É um processo de concretização dos ideais profissionais. Sob um aspecto mais objetivo, a socialização profissional constitui-se no processo de traduzir em práticas profissionais os conhecimentos inerentes à profissão. E, sob o aspecto subjetivo, constitui-se na efetiva identificação, adesão à profissão e ao outro, pela compreensão do mundo no qual ele está e por tornar tal mundo o seu próprio. Muito além de qualquer circunscrição, é um modo de consolidação de uma identidade individual e coletiva. (MELO; VALLE, 2013, p. 100).


O primeiro momento de inserção como acontece através de um convite pautado em determinadas características físicas e de necessidades pessoais objetivas. Este contato traz um aprendizado inicial, o mesmo começa com várias orientações do Robertinho1, segurança experiente e naquela época com 3 anos de atuação. Em seguida, um discurso disciplinador contrário à brutalidade física, um domínio e controle quanto às agressões, mesmo quando a essência da função estimule a masculinidade e a firmeza nas ações. Sem estar em um espaço legítimo de aprendizagem com objetivo de aquisição de um certificado, a experiência de ouvir o discurso da comunidade começa a dar conformidade na maneira de atuar. Podemos destacar que a socialização é um deixar-se moldar, um deixar-se forjar por determinado grupo de pertença, fazendo com que as propensões individuais sejam abafadas pelas do grupo (MELO; VALLE, 2013, p. 83).

A relação com outros seguranças se dá enquanto acontece a interação com o grupo de mesmo perfil2. Isso possibilita conversar e sem perceber participar da aprendizagem. O fato de se comentar sobre festas passadas, relatar ações, procedimentos, e contar parte de sua experiência, serve para o aprendizado do novato. Ninguém fica sobre tutela de um veterano, na verdade, a inserção na equipe o faz receber determinados privilégios e informações de como tratar determinado grupo ou cliente frequentador. De acordo com Lave e Wenger (1991) a prática improvisada cria um currículo de ensinamento3, em que, no caso, as várias experiências e postos de atuação na casa noturna promovem o aprendizado do novato até atingir as posições de privilégios e coordenação. Acontece então um processo de construção de um conhecimento e de confiança mútuo entre os colegas, trazendo um respaldo para atuação no empoderamento pelo tempo de serviço e vivência. Valores que em uma comunidade de prática pautada na masculinidade, lhe são mais caros do que a simples comprovação de um currículo de aprendizagem.

O acesso pleno e efetivo a comunidade, além de liberar para conhecer mais a fundo as relações imbricadas, também trouxe um envolvimento maior do pesquisador com o grupo profissional. Em outras palavras, também sou afetado pelo campo, enquanto adquiro gosto pela música eletrônica, pelo consumo de energético, o hábito de mascar chicletes, no interesse por campeonatos de artes marciais mistas e na assimilação de uma postura corporal. Estes são fatores que conformam uma identidade de grupo, a comunidade com suas práticas que se estendem para além do meio onde são realizadas. Esse movimento viabiliza ser afetado pela comunidade, bem como, de afetá-la. Em outras palavras, acontece a efetivação da interiorização do processo de socialização que agora pode ser observada através de sua externalização.



 A aprendizagem periférica legitima contribui para pensar a maneira em que um conhecimento é legitimado por meio da prática e não só de um currículo teórico, embora também respaldado por ele. A vivência passa a ser um processo de ensino e preparação de profissionais para atuar como seguranças. Muitos membros da comunidade de prática não sabem que estão em aprendizagem. Porém, por meio dos discursos, práticas, conversas, comportamentos e trocas de experiências, muitas vezes não intencionais, possibilitam a formação atual dos agentes de segurança das melhores casas noturnas do Sul do Brasil. A aquisição dos códigos, valores e regras de convivência possibilita ao segurança ter maior autonomia da vontade a partir do entendimento da moral compartilhada no ambiente. A passagem de novato para veterano com acesso pleno a comunidade de prática requer um currículo de ensinamento, um processo mediado por relações, conhecimentos e comportamentos construídos durante a dinâmica dos eventos.

O metier de agente de segurança, embora reconhecidamente marcado na expressão corporal, envolve muito mais do que a postura ostensiva, o habitus é internalizado paulatinamente por meio da troca e na interação constante entre colegas e clientes que participam dos eventos. O conceito de socialização profissional instaura subsídios para melhor compreensão do processo contínuo de assimilação da moral presente nos momentos festivos em casas noturnas. Desta maneira, podemos identificar que a socialização acontece ligada a uma instituição em um tempo, um espaço e segundo os grupos sociais (PAISANCE, 2003, p. 5).


Referencias:

DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto/Portugal: Porto Editora, 1997.

CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir e escrever. In:___. O trabalho do antropólogo. Brasília: Paralelo 15; SP: Editora UNESP, 2000.

DA CONCEIÇÃO, Daniel M. Marretadas repetitivas: a continuidade e a remodelação de valores sociais em três casas noturnas de Florianópolis. Mosaico Social, v.06, 2013. p.300 – 317.

DAMATTA, Roberto. Sabe com quem está falando? Um ensaio sobre a distinção entre individuo e pessoa no Brasil. In:___. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. RJ: Rocco, 1997. p. 179-248.

LAVE, Jean; WENGER, Etienne. Aprendizaje situado: participación periférica legítima. Tradução: Miguel Espíndola e Carlos Alfaro. New York: Cambridge University Press. 1991.

MAFFESOLI, Michel. A transfiguração do político: a tribalização do mundo. Porto alegre: sulina, 2005.

MELO, Marilândes Mol Ribeira; VALLE, Ione Ribeiro. Socialização e socialização profissional: interface entre forjar e negociar outro ser. Roteiro, v. 38, 2013. p. 79-102.

PLAISANCE, Éric. Socialização: modelo de inclusão ou modelo de interação? Revista PerCursos. Centro de Ciências da Educação. Florianópolis: UDESC, v 4, n. 1, out/2003. p. 177-193.


Notas:

1Nome fictício. Segurança casado, pai de três filhos, idade de 40 anos, natural do Rio Grande do Sul. Na época trabalhava como operador de telemarketing. Atualmente, finaliza o curso técnico de enfermagem, trabalha em um posto de saúde do município como contratado e nunca fez o curso de vigilante.

2Os critérios para escolha dos seguranças para cada grupo estão pautados em características fenotípicas. Na portaria irão os de menor estatura e mais franzinos. Para pista os “pitbulls”, geralmente com maior porte físico e com habilidades em luta e imobilização, são a linha de frente, são aqueles colocados para o confronto com a responsabilidade de retirar clientes encrenqueiros de dentro da casa. O grupo escolhido para o camarote possui uma distinção, pode misturar ambas as características fenotípicas, centrando destaque nas ações e no comportamento mais paciente durante situações inconvenientes, supostamente maior educação no trato e na capacidade de mediação. Características aprendidas pela experiência, mas a postura firme na atuação também é requisito importante.

3“Un curriculum de aprendizaje consiste en oportunidades situadas (incluyendo así ejemplares de varias clases a menudo pensados como “metas”) para el despliegue improvisado de práctica nueva. Un curriculum de aprendizaje es un campo de recursos de aprendizaje de la práctica diaria visto desde la perspectiva de los aprendices. Un curriculum de enseñanza, por el contrario, se construye para la instrucción de los novatos” (LAVE; WENGER, 1991).


 Trabalho produzido na disciplina Educação e Pesquisa Sociológica – PGE 410131, ministrada pela Professora Dra. Ione Ribeiro Valle, semestre 2014-2.


O ideal burguês na educação moderna

 



        O filósofo Marshall Berman (1940-2013) em seu livro Tudo que é sólido desmancha no ar (1986), faz apontamentos sobre a modernidade, identificando no Manifesto do partido comunista (2007) de Marx e Engels, a presença de um caráter de modernização e de modernismo. O autor descreve como modernização as transformações políticas e econômicas, e como modernismo as mudanças na arte, na sensibilidade e na cultura. Elas simbolizam o que acontece com a sociedade ocidental durante os séculos XVIII, XIX e meados do XX.

        As mudanças na ordem macro e também nas subjetividades, mostram a passagem de uma situação social sólida com instituições conservadoras e hierarquizadas, para uma nova ordem social que pautada na mudança constante atribui outro ritmo às relações sociais e de produção. Assim o Fausto de Goethe de acordo com autor representa as tensões que os indivíduos sofrem com o abalo das estruturas sólidas que agora se desmancham, mas não simplesmente ficam em ruínas, algumas somem para dar lugar a algo novo como se desfizessem no ar.

        O texto está subdividido em cinco itens e uma conclusão, neles são apresentadas as características que fazem dos ideais burgueses os promotores da modernidade, consequentemente, do capitalismo.

       O breve ensaio, aqui proposto para disciplina Educação e Pesquisa Sociológica, pretende com base no texto de Marshal Berman articular as transformações na sociedade sentidas em uma das instituições que promove a transmissão dos valores e que se torna um vetor do ideal burguês, a escola.

        A maneira de figurar as transformações na alegoria da solidez e desmanche no ar parece ser uma passagem muito breve ou rápida. No entanto, as características físicas de um material seguem uma ordem de acontecimentos, como no exemplo da água que em estado sólido, passa a líquida até se evaporar no ar. Um processo com início e fim que não acontece instantaneamente. Desta maneira, a passagem do sistema feudal em que trabalho, política e religião estavam muito ligados e solidificados, sofre o derretimento lento e gradual com novos questionamentos de ordem religiosa e política, que afetam a cultura da época com a inserção de uma nova classe, a burguesia, que por meio do trabalho procura criticar e justificar novos valores. As transformações deram sequência no âmbito da vida rural e urbana relacionadas aos sentidos do trabalho, seu espaço e modos de produção.

        No primeiro momento o artesão tinha em sua casa uma família que trabalhava unida, ou um local em que todo o processo de produção se articulava com a vida familiar. O derretimento da estrutura aconteceu com a implantação de novos espaços e equipamentos, as fábricas e o maquinário. Este degelo lento e gradual fez com que se produzisse mais em menos tempo e com menor investimento, os resultados foram produtos mais baratos do que a produção artesanal. Isso foi um fator que levou a não ser mais viável produzir por si, logo, o mesmo efeito é sentido na zona rural, fazendo com que as cidades sejam aglomerados de multidões que entram na nova esfera, o proletariado trabalha nas mais diversas fábricas.

Ao mesmo tempo, em que acontece o derretimento gradual, abalando aquilo que se conhecia como certo e verdadeiro, perfazendo a passagem de um “eu comunitário” para um “eu individualista” com novas perspectivas e visões de mundo, as mudanças no espaço urbano também podem ser encaradas como extraordinárias. As grandes construções, a pavimentação de estradas, as formas de comunicação, os transportes, a capacidade de mudar o curso de rios e etc., significam uma vida nova e de crescimento das capacidades da humanidade de realizar transformações também na geografia de uma área. Nesta dialética constante, as mudanças internas no homem afetam as mudanças externas do homem, que por sua vez alteram novamente no interno. No texto de Marshall Berman (1986, p. 88) ele diz que o “manifesto comunista expressa algumas das mais profundas percepções da cultura modernista e, em simultâneo, dramatiza algumas de suas mais profundas contradições internas”.

Apesar dos avanços e conquistas ressaltados, a diluição do sólido se dá no momento em que ao realizar seus empreendimentos os objetivos finais sejam sempre o acumulo de capital. O foco no acúmulo de capital provoca uma corrida desenfreada como no carro de Jagrená de Anthony Giddens (1991) que foge ao controle, não sendo capaz uma previsão dos resultados.

Este fim, o acúmulo de capital, mais que um meio, excluí o reconhecimento de títulos de nobreza ou de linhagem de sangue. Para a burguesia os novos valores são pautados no que é feito e não nas honrarias do passado. O reconhecimento de linhagem de sangue, patriarcal ou de títulos nobres não são validados, e outro ideal orienta o reconhecimento pessoal, o mérito (re)surge indicando os feitos no presente.

A diluição se completa no instante em que a instituição escolar passa a significar a porta do mérito e êxito pessoal. Anteriormente, os títulos de nobreza marcavam a posição social, agora os títulos acadêmicos demarcaram uma nova configuração social, a partir da valorização do esforço e realizações pessoais. A educação escolar passa a ser o meio que proporciona o conhecimento necessário para assumir determinada posição na sociedade supostamente garantindo qualificação necessária para o sucesso profissional. A escola passa a ser a instituição que melhor representa o que o individuo pode então fazer.



A instituição do mérito pessoal para reconhecimento no ideal burguês impulsiona um segundo efeito, a competição entre indivíduos e a necessidade de aperfeiçoamento constante. Anteriormente, o reconhecimento adquirido permanecia com o indivíduo até sua morte ou ao ser revogado por alguma razão de ordem “política”. Durante a diluição, o reconhecimento pessoal é feito nas realizações do presente, e as mesmas precisam ser revalidadas constantemente em novos resultados. Por esse motivo, a necessidade de aperfeiçoamento constante passa a representar esse ideal, pois as mudanças acontecem cada vez mais rápido, sendo importante acompanhá-las. Neste ímpeto o aperfeiçoamento e reconhecimento não são distribuídos de forma igualitária, portanto, o desejo de conquista pessoal faz o aperfeiçoamento servir como baliza para uma competição entre os homens. Todos passam a competir uns com os outros, mesmo em uma sala de aula onde o conhecimento é supostamente ofertado de forma universal, o objetivo está em passar no vestibular e atingir os melhores postos de trabalho, para isso alguns dedicam-se mais que outros em uma incansável procura por superar o adversário/colega ao lado.

O aperfeiçoamento constante do indivíduo e da sociedade esconde um fator de transformação tão cristalizado no século XXI, expresso na capacidade de inovar, ou como nas palavras de Berman uma autodestruição.

Não obstante, a verdade é que, como Marx o vê, tudo o que a sociedade burguesa constrói é construído para ser posto abaixo. Tudo o que é sólido – das roupas sobre nossos corpos aos teares e fábricas que as tecem, aos homens e mulheres que operam as máquinas, às casas e os bairros onde vivem os trabalhadores, às firmas e corporações que os exploram, às vilas e cidades, regiões inteiras e até mesmo as nações que as envolvem – tudo isso é feito para ser desfeito amanhã, despedaçado ou esfarrapado, pulverizado ou dissolvido, a fim de que possa ser reciclado ou substituído na semana seguinte e todo o processo possa seguir adiante, sempre adiante, talvez para sempre, sob formas cada vez mais lucrativas. (BERMAN, 1986, p. 96)

Está maquinaria social pautada na inovação, remete a uma autodestruição de tudo aquilo construído. A mobília de uma residência, as paredes de um imóvel, os bens materiais diversos e o próprio individuo deve estar pronto a sofrer alterações, se transformar em algo novo e “melhor”. Este lema extrapola o aperfeiçoamento pessoal, sendo necessário aperfeiçoar as coisas no mundo exterior. Mais uma vez a escola tem papel fundamental na propagação deste ideal, pois a ciência é o instrumento de tal mudança. As pesquisas de materiais e novos procedimentos alimentam a chama que aquece aquilo que tenta se solidificar, significando uma obsolescência existencial para continuar a desenvolver e construir.

A ciência que ocupa lugar de destaque na pulverização dos valores burgueses atinge esta posição no momento em que o degelo incide sobre as crenças humanas que justificavam poderes sobrenaturais capazes de controlar a natureza. A descrença nos seres misticos, como um desencantamento do mundo, colocou a ciência no pedestal de autoridade reconhecida. O niilismo deu ao homem o poder de pôr si só controlar a natureza, por isso, Berman (1986) ressalta que o feiticeiro burguês de Marx descende do Fausto de Goethe, e também de outra figura literária que eletrizou a imaginação de seus contemporâneos: o Frankenstein de Mary Shelley, são dois personagens que representam o esforço dos poderes humanos em expandir-se através ciência e da racionalidade. Infelizmente, os resultados não significam o controle pleno das ações planejadas e projetadas, muitas vezes resultam em inúmeros horrores. Posso então entender, com base na leitura, que a modernidade é expressa no modernismo, como uma arte de criação, mas que em sua dialética produz injustiças, temores e a morte.

A descrença contribui para no espaço escolar ser mobilizado para implantação de uma escola laica, pois a mesma significava a solidez das crenças religiosas que norteavam a vida social anterior, estipulando o que deve ou não ser ensinado. Esta mudança favorece a ciência que então encontra sua morada permanente. A escola passa a ser um local de extrema importância, pois na história o grupo social que detinha o conhecimento se caracterizou como dominante. No projeto burguês envolve, niilismo, aperfeiçoamento, competição e mérito, o espaço escolar representa o vetor da ideologia e do objetivo da modernidade.

O degelo nas relações sociais e principalmente nas hierarquias sociais pode ser representado na nudez expressa por Marx. As roupas têm o corpo como inscrição de valores aceitos na sociedade. Os panos e tecidos nobres, indicavam um local de pertencimento e posição. Despir o corpo passa a significar a ausência de reconhecimento eclesiástico ou nobre, dando ao homem seu teor de natureza. Ao reconhecer a si mesmo como corpo nu e não coberto com a máscara de papel social, seria então capaz de chagar a realidade. Não vivendo mais de ilusões da máscara de identidade, pode então ter uma postura crítica e não mais de acomodado no consolidado. O homem desacomodado se despiu da religiosidade e das tradições do passado, se colocou como homem puro capaz de enfrentar as intemperes da natureza pensando coletivamente. Entendo, que se equipara a um pensamento contratualista, que na base se ampara na proteção do coletivo a partir do momento que o homem aceita sua real condição. E também se assemelha ao que J. J. Rousseau escreve sobre o bom selvagem, ao ser a sociedade que corrompe o homem, portanto quanto mais natural mais próximo da realidade.

A burguesia mobilizou os esforços no degelo das estruturas sociais que limitavam a ação do homem, que chegou ao extremo de desmanchá-lo no ar. As questões de autonomia pessoal fizeram o homem transmutar-se em mercadoria. Agora ele mesmo se vende no mercado sendo comprado pelo valor de sua honra, dignidade e mérito. Os valores do ideário burgues instituem um modo civilizado de ser, para pertencer você precisa ter. Ter acesso à informação, ter escolarização, ter feitos pessoais, ter bens que simbolizam o mérito, assim o individuo é medido e recebe um valor na sociedade ocidental de livre troca e livre competição.As velhas formas de honra e dignidade não morrem: são, antes, incorporadas ao mercado, ganham etiquetas de preço, ganham nova vida, enfim, como mercadorias” (BERMAN, 1986, p. 107). Novamente, a escola aparece como cenário para difundir estes valores, nos rótulos de alunos e na valorização de conteúdos, os quais possibilitam marcar dois grupos, os honrados e os medíocres.

Interessante é perceber que, ao mesmo tempo, em que a escola valorizou o ideal e a vida ativa burguesa, a mesma como uma instituição sólida sofreu com os efeitos do degelo e também se desmanchou no ar. A figura do professor que guardava uma aura santificada de mestre e transmissor de conhecimento se esvai com a perda do halo. Os professores agora também surgem como trabalhadores influenciados pelo mercado. O capitalismo torna a vida desencantada, neste sentido os professores que anteriormente recebiam respeito e honrarias na sociedade perdem tal representação, e em muitos casos são comparados a funcionários em uma linha de produção. No entanto, nenhum professor aceita ser comparado a um funcionário em uma fábrica. No Brasil, este fato é muito peculiar, e os professores, independente do grau de atuação, se reconhecem como pertencentes a classe média ou em alguns casos como intelectuais. Acabam por guardar o halo pessoal, no sentido de vocação e pertencimento a uma suposta classe média. Buscam não se caracterizar como trabalhadores assalariados por estarem identificados com a cultura valor aceita como definidora de distinção, se comparados a outros trabalhadores. Entretanto, Marshall Berman nos alerta que “tudo é modo de produção, mesmo a cultura, a burguesia controla os meios de produção da cultura, como em tudo o mais, e quem quer que pretenda criar deve operar em sua órbita de poder” (1986, p. 112). O sociólogo Pierre Bourdieu descreve melhor essa relação de reprodução da escola e seus mecanismos por meio do poder simbólico.


        Marx diz que todos agora se confrontam no mesmo patamar, a verticalidade se desmanchou e colocou todos no mesmo plano horizontal, com supostas chances iguais e condições de pôr si só conquistar os objetivos almejados de sempre se aperfeiçoar e desenvolver a humanidade, custe o que custar, pois, o retorno do investimento é sempre garantido. As mudanças não terminam aqui, mas o que anteriormente se fazia necessário com braços e pernas fortes, agora é feito por meio da exploração dos cérebros.

Vendendo-se peça por peça, eles vendem não apenas sua energia física, mas suas mentes, sua sensibilidade, seus sentimentos mais profundos, seus poderes visionários e imaginativos, virtualmente todo o seu ser. (BERMAN, 1986, p. 113)

Assim, eles só escreverão livros, pintarão quadros, descobrirão leis físicas ou históricas, salvarão vidas, se alguém munido de capital estiver disposto a remunerá-los. Mas as pressões da sociedade burguesa são tão fortes que ninguém os remunerará sem o correspondente retorno - istó é, sem que o seu trabalho não colabore, de algum modo, para incrementar o capital. (BERMAN, 1986, p. 112)

O ideal burguês, professado na capacidade de derreter estruturas sólidas, está organizado no mérito pessoal, no desejo de aperfeiçoamento, no espírito competitivo, no niilismo e no desencantamento de posições. Tudo canalizado para o desejo de progresso continuo, que no indivíduo fica representado na mobilidade e ascensão social. Estas ideias presentes no projeto de modernidade em conjunto com os valores burgueses transformaram e vem transformando a sociedade ocidental durante todo o século XX. A grande questão na atualidade está em questionar se o que foi sólido, derreteu e evaporou, se algum dia voltará a ser líquido e novamente sólido?

O que se pode garantir até aqui é que enquanto o conhecimento tiver um valor de troca valorizado na sociedade, a escola permanecerá como vetor do projeto futuro, representando os ideais do grupo então dominante.


Referências:

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: Marx, modernismo e modernização. In:___. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. SP: Companhia das Letras, 1986. p. 85-125.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. SP: Editora UNESP, 1991.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. SP: Martin claret, 2007.


Trabalho produzido na disciplina Educação e Pesquisa Sociológica – PGE 410131, ministrada pela Professora Dra. Ione Ribeiro Valle, semestre 2014-2.


A miopia social e o papel da educação

 


Nas últimas semanas, foi necessário atualizar meus óculos, avaliar o grau da miopia (enxergar longe) e astigmatismo (enxergar nem perto e nem longe). Trata-se de um procedimento que deve ser realizado com certa frequência por ter origem em uma doença degenerativa. Sua correção só pode acontecer com intervenção cirúrgica, em alguns casos com lentes de contato e, mais comumente, com o uso de óculos. 

Minhas falhas de visão foram observadas por uma dedicada professora quando eu tinha 11 anos. Escrita errada, leitura equivocada e olhos quase fechados ao dirigirem-se ao quadro dispararam o alerta. Alguns familiares usavam óculos, um histórico de doenças da visão existia, mas a família, no primeiro momento, preferia aceitar que os erros eram justificados por outros motivos reconhecidos hoje nas mais diversas síndromes e que, na época, facilmente eram atribuídos a um retardo, má vontade ou falta dela, tachando-me de adjetivos que identificavam os erros pessoais na escola. 

A partir da observação de uma professora sensível aos dilemas de seu estudante, uma nova realidade me foi apresentada. O desconforto dos óculos foi rapidamente superado pelos benefícios que proporcionavam. A pretensão em fazer esse breve relato é para destacar o papel dos professores que atuam sem estar restritos ao ensino do conteúdo, também dedicando atenção aos educandos de maneira singular. Um agradecimento deve ser feito a eles. A experiência com a atualização das lentes dos meus óculos possibilita, igualmente, pensar que a vida em sociedade, sua realidade, precisa de tempos em tempos passar por correção, para não ficarmos com um olhar desfocado, distorcido ou embaçado.

CONTINUAR LENDO EM:

http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/a-miopia-social-e-o-papel-da-educacao/


O alambrado que separa também marca ausência e sonho

 


A pandemia tirou os torcedores dos estádios, a proibição de aglomeração de pessoas mudou a maneira como assistimos aos jogos, especificamente, de como os ouvimos. Os potentes microfones captam os sons das falas, elogios, gritos e xingamentos. As conversas ao pé do ouvido ficaram audíveis e revelam muito da dinâmica e sociabilidade futebolística em campo.

Em alguns jogos, as crianças até precisam sair da sala. Não que o futebol deva pregar um moralismo beático, porém sempre surpreende ver pessoas exercendo sua profissão e os palavrões servirem como adjetivação e motivação. Lembro que o técnico Abel Ferreira, contratado pela Sociedade Esportiva Palmeiras/SP, em coletiva após sua expulsão de um jogo destacou que futebol não é igreja. Concordo com ele, mas isso não quer dizer que aceito seu argumento como justificativa, pois escola também não é igreja e, se eu como professor proferir um palavrão para adjetivar um educando, o que irá acontecer? Interessante refletir sobre que linha tênue dá liberdade para proferir xingamentos sem ser enquadrado como assédio moral (conversa para outro momento).

Enquanto passamos a ouvir mais sobre o jogo de futebol em campo, também começamos a perder detalhes que agora estão mediados pela transmissão dos jogos. Estar no estádio é acompanhar as partidas sem replay, o que exige outra sensibilidade. São cheiros, sons e uma vidência que permite observar a movimentação dos jogadores em todo o campo, o movimento das torcidas, as disputas por espaços, a participação dos técnicos, dos suplentes no banco de reserva, dos dirigentes, a movimentação da segurança (polícia) e muitos outros detalhes que widescreen não pode captar integralmente.

Minha proposta não é discutir sobre os efeitos positivos ou negativos a respeito de como assistir aos jogos, preferências e gostos impactam na subjetividade do sujeito que decide como pretende acompanhar esse momento festivo. Pretendo pontuar sobre a ausência dos torcedores nos estádios, de maneira específica a respeito de um elemento na estrutura do jogo que perdeu seu sentido, o alambrado.

(...)

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https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/o-alambrado-marca-ausencia-e-sonho/


Futebol sem fronteiras, ídolo não tem nacionalidade: Andrés D’Alessandro é mais um exemplo

 


Não recordo quando passei a ser torcedor do Sport Club Internacional. Natural de Pelotas, interior do estado do Rio Grande do Sul, a primeira opção era escolher um dos clubes da cidade, a segunda tendia a ser escolha por um clube da capital para torcer. Meu pai e parte da família acompanhavam o lado azul e meu avô materno, o Seu Machado (1923-2013), tinha preferência pelos ‘encarnados’, como ele gostava e dizer.

Meu avô, sempre saudosista, comentava sobre alguns jogadores que vestiram a camisa vermelha e ganharam sua admiração, entre eles, Tesourinha (temporadas 1939-1949), Larry (1954-1961), Figueiroa (1971-1977), Falcão (1973-1980) e Manga (1974-1976). Muitos outros nomes eram lembrados, mas esses eram repetidos sempre que precisava justificar seu pertencimento ao clube que tem a cor do sangue e do coração, dizia ele. Por essa razão, falava com certa satisfação dos encarnados.

As muitas histórias sobre jogadores que Seu Machado tinha para contar eram, em parte, mediadas pelas transmissões radiofônicas e pelo imaginário criado a partir das narrativas de narradores e comentaristas. Nos anos finais de sua experiência terrena, meu avô já não acompanhava os jogos com a mesma lucidez. Talvez nem tenha percebido quando um novo estrangeiro, como tantos que brilham no Inter, um argentino de nome Andrés D’Alessandro, foi contratado.

Acredito que meu avô teria gostado do empenho e dedicação que o jogador D’Ale demonstrava em campo e também fora dele. Em campo, sua visão e capacidade de ler o jogo renderam o apelido El Cabezón. O trabalho coletivo foi seu diferencial, mesmo sendo ele a diferença em campo. Fora dele, viveu a cidade frequentando não só os espaços mais requintados, sempre que possível participou de atividades voluntárias palestrando, visitando lugares com pessoas que precisavam de apoio e inspiração; também realizou grandes eventos solidários mobilizando seu nome de atleta para levar seu exemplo de cidadania.

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A questão racial é uma oportunidade para falar sobre os alunos

 


Quero refletir a respeito da formação de professores e a necessidade dos currículos incluírem disciplinas que abordem a questão racial, uma vez que observo uma resistência ao tema em todos níveis de ensino. Recentemente, ao ler o livro Na minha pele (Objetiva, 2017), do escritor, ator e diretor Lázaro Ramos, uma passagem chamou minha atenção. Ela destaca a palavra identidade, que segundo o autor passamos a escutar com maior frequência, o que o fez ponderar que o debate racial não é uma questão dos negros, chegando, então, à conclusão de que se trata de “uma questão de qualquer cidadão brasileiro, ela diz respeito ao país, é uma questão nacional. Para crescer, o Brasil precisa potencializar seus talentos, e o preconceito é um forte empecilho para que isso aconteça” (RAMOS, 2017, p. 12).

Concordo com ele, o preconceito é um empecilho que institui barreiras que separam os sujeitos e as oportunidades. Uma das barreiras está relacionada ao constrangimento que impede a inclusão do tema e de conversas sobre ele em sala de aula. Afinal, temos tanto a falar sobre a estrutura escolar, seus espaços, processos, documentos, metodologias, abordagem, conteúdos, avaliações internas e externas etc. Realmente, não sobra tempo!

Mas, acontece que os números da desigualdade racial no país são alarmantes e, infelizmente, refletem parte do que a população negra vivencia em seu cotidiano. Um dos dispositivos para propor rupturas ou a mínima garantia dos direitos está na legislação, isto é, na criação de leis. As leis significam passos importantes na busca por transformação, entretanto, também atestam nossa falha civilizatória que exige uma legislação para nos lembrar o que não queremos ver, Lei 7.716/1989 – crime de racismo; Lei 9.459/1997 – crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional; Lei 10.639/2003 – estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira; Lei 11.645/2008 – obrigatoriedade da temática história e cultura afro-brasileira e indígena; Lei 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade Racial; e, Lei 12.711/2012 – regulamentação das ações afirmativas em universidades e institutos federais.

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A racialização das práticas esportivas e a triste invisibilidade

 


Fiquei pensando sobre o título da mesa [1] que diz Vidas negras importam e o racismo nas práticas esportivas. Posso retornar as duas sentenças, primeiro, vidas negras importam com uma interrogação, será que importam? Uma postagem nas redes sociais, que utilizo em tom provocativo, diz ser o esporte um espaço onde as vidas negras mais importam.

“O maior no golfe? O maior no basquete? A maior no tênis? O maior da F1? O maior do atletismo? O maior do boxe? A maior na ginástica? A maior no futebol? O maior no futebol? A maior no vôlei? São pretos e pretas”.

Parece paradoxal que com essa notoriedade, os feitos e as realizações desses atletas ainda tenhamos que falar sobre racismo que sofrem. Então, assim chegamos a segunda sentença: o racismo nas práticas esportivas. Em outras palavras, vamos conversar sobre os motivos para permanência ou persistência do racismo mesmo com o reconhecimento dos atletas negros/pretos no esporte.

Nessa caminhada que proponho, gostaria de afirmar que vidas negras importam, e não estamos falando de vidas mais importantes que outras, pois é evidente que todas as vidas importam, estamos falamos de morte porque algumas pessoas morrem com mais facilidade, isto é, são mais desprezadas que outras.

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A desigualdade educacional em meio a promessa do mérito

 


A educação institucionalizada propaga muitos valores (morais, éticos, conhecimentos e saberes) de dada sociedade que tem na escola um veículo ideológico de excelência. Um espaço institucionalizado capaz de disseminar os ideais da modernidade e orientar sobre o comportamento civilizatório mais aceitável. Por essa razão, a escola faz parte dos projetos nacionais e, atualmente, transnacionais que orientam seus objetivos para uma formação voltada ao mundo do trabalho, identificando como prioritários para o desenvolvimento da sociedade que hoje é pensada no modelo global.

Ao proferir essa afirmativa, entendo que o papel da escola não parece ter mudado, apenas a magnitude das suas ações deixaram de ser locais para ganhar um sentido global, em um mundo supostamente sem fronteiras, pelo menos, quando falamos de produtos e mercadorias, bem como, dos que participam do meio virtual e das suas atividades correlatas. Devemos ponderar sobre a sociedade e a sua ampliada divisão social do trabalho, acrescentando ao jogo das relações comportamentos que reproduzem a manutenção dos privilégios, da desigualdade social e da falta de oportunidades. Então, será que podemos identificar a nossa sociedade brasileira como republicana? Parece ficar claro que não, porém um princípio mascara ou amortece essa realidade, tirando o foco dos problemas ou das suas incongruências. O mérito como apresentado por Roxana Kreimer no livro Historia del mérito (2000) parece cumprir o papel de projetar os sonhos e metas de uma vida melhor, isto é, uma busca constante por reconhecimento e as suas benesses. A sua aceitação ou convencimento está atrelado ao individualismo e na capacidade de adiar a recompensa. “É porque o mérito é a única maneira de combinar a igualdade e a liberdade numa sociedade onde reina a divisão do trabalho que esse princípio de justiça é tão fundamental quanto a igualdade” (DUBET, 2014, p. 27).

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O vírus do racismo se manifesta como modelo mental

 


BOLETIM A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL EM TEMPOS DE CRISE | N. 16

No Boletim 16, Daniel Machado da Conceição (UFSC) faz um paralelo entre a manifestação do racismo na sociedade brasileira e a propagação de um vírus, evidenciando como o racismo estabelece modelos mentais capazes de orientar ações da pessoa que o manifesta e impactar efetivamente a pessoa e/ou o grupo social vitimada(o), inclusive determinando suas condições de vida (e de morte) na sociedade.

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A pandemia que enfrentamos tem trazido muitas reflexões que sugerem questionar a sociedade e o modo de vida que escolhemos seguir. Estamos confrontando valores que são paradoxais, entre eles, manter uma vida desenvolvimentista ou optar pela reclusão. Na sociedade em que a divisão social do trabalho definiu as relações orientadas na solidariedade, no atual momento, o sentido de dependência do outro está mais relacionado ao distanciamento, ao afastamento como verdadeiro símbolo de coletividade.

O momento estimula a pensar sobre as mazelas dessa sociedade, pois algumas se mostram muito presentes; são como outras pandemias que continuam a contaminar e disseminar muitas enfermidades sociais. Uma das patologias sociais que segue a contabilizar vítimas tem origem em um vírus que corrói a sociedade diminuindo não sua imunidade, mas sua humanidade. Essa patologia é anterior a sociedade moderna e não se restringe às transformações no espaço urbano e aos novos aglomerados. Um vírus que atravessa a história da humanidade e que sofre mutações de tempos em tempos, adquirindo maior letalidade durante nosso processo civilizatório de mundialização.

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http://www.anpocs.com/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientistas-sociais/2450-boletim-a-questao-etnico-racial-em-tempos-de-crise-n-16


http://anpocs.com/images/stories/boletim/boletim_CS/Boletim_ER_016.pdf

A construção da empregabilidade por meio da formação de jovem aprendiz




Resumo: Acreditar na aprendizagem, acreditar que por meio do emprego uma nova condição de vida possa ser atingida, estimula o sacrifício de moldar o próprio corpo de acordo com o ethos profissional. Na vida de grande parte dos jovens o fato de começar a trabalhar exige empenho no ajuste dos horários pessoais, no aprendizado de regras e códigos de sociabilidade, na postura corporal, na linguagem e até mesmo nos cuidados com a higiene pessoal. A ideia nesse breve ensaio foi refletir sobre a socialização profissional e a aquisição de uma formação que deve ser expressa no comportamento que significa ações atitudinais (empreendedoras). Os conceitos de “socialização profissional” e de “mérito” serão centrais para o desenvolvimento dos argumentos que envolvem a experiência do aprendiz e a construção de um “eu profissional”. Busco identificar quão influente o discurso do mérito pessoal parece favorecer o processo de socialização profissional, o que supostamente garante uma futura contratação ou uma maior empregabilidade.   

Palavras chave: Competência; Empregabilidade; Jovem Aprendiz; Mérito; Socialização Profissional.

 

A CAPACITAÇÃO DO JOVEM APRENDIZ 

Ao iniciar um novo processo de pesquisa, esse fato requer a busca de uma  outra  inserção  em  conceitos,  terminologias,  categorias,  expressões  e porque  não  dizer  um  novo  olhar.  As  lentes  são  renovadas  para  analisar  a capacitação de jovens aprendizes que começam sua atividade profissional no mercado  de trabalho. A  capacitação  profissional em vigor com respaldo legal permite acesso ao primeiro emprego, a aquisição de experiência e contato com um mundo muitas vezes distinto da realidade de algumas famílias habituadas a atividades subalternas sem a necessidade de maior escolarização.  

O interesse em pesquisar o tema do estudante-trabalhador esteve sempre paralelo  a  estudos  desenvolvidos  sobre  o  estudante-atleta.  As  condições  de formação, ou melhor, o tempo de investimento em treinamento e nas atividades profissionais  parecem  se  assemelhar.  O  não  conjugar  carreira  esportiva  e carreira  profissional  com  a  educação  escolar  parece  ser  um  ponto  com propensão a uma diferenciação entre as formações, pois o capital escolar afeta diretamente  a  habilitação  para  exercer  os  postos  de  melhor  remuneração  no mercado, situação que no esporte não demonstra ser preponderante. A escola também se mostra como elemento importante para abordagem, pois ambos, o jovem trabalhador e o jovem atleta tem a obrigatoriedade de estar matriculado em algum programa de educacional até a conclusão do Ensino Médio. Em razão do  recorte  etário  e  populacional,  os  jovens  estudam  em  escolas  públicas  e buscam atividades formativas que garantam uma renda imediata ou um melhor futuro. O adolescente tem dois caminhos institucionais para obter a qualificação profissional: a aprendizagem escolar e a aprendizagem empresária (OLIVEIRA, 2009).  Perceber  aproximações  ou  distanciamentos  na  relação  do  jovem  com escola e com o trabalho laboral ou esportivo é uma das justificativas em dedicar esforços na compreensão de uma realidade vivida por inúmeros jovens no Brasil.  

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https://drive.google.com/file/d/1ONomkuYxooKfHL9GJzc88nc_ahqIDdPD/view

http://revista.ucpparana.edu.br/index.php/Trivium/issue/view/10

Entrevista Manuela Linhares Francisco - PROJETO APRENDIZ FAEPESUL

 Iniciar o itinerário formativo não parece ser algo fácil quando falamos do primeiro emprego. Muitas mudanças podem ser observadas e, em alguns casos, pode significar um choque cultural aprender o comportamento esperado dentro de uma ética do trabalho. Pensando nessa situação o PROJETO APRENDIZ FAEPESUL, busca em seus encontros proporcionar ao jovem a motivação necessária para encarar as transformações que serão impostas a sua nova rotina familiar, escolar e profissional. Além de indicar maneiras que facilitem a organização de suas atividades. Sem esquecer a exigência do desenvolvimento de competências e habilidades que objetivam sua formação profissional resguardando seu protagonismo como agente transformador de sua história. 

Venha ser parceiro da aprendizagem, venha fazer parte do Projeto Aprendiz FAEPESUL.


DISPONÍVEL EM:

https://www.youtube.com/watch?v=QImkH76bLh8&feature=youtu.be

Lembrar da escola não se restringe ao desempenho, são relações…

 



Estou nesse texto expressando os meus sentimentos sobre um dos espaços de socialização de grande importância para sociedade, no caso, desejo falar sobre a escola que aparece e favorece na transição entre a vida familiar (privada) e o mundo (público). Na escola criamos relações que se orientam a partir de encantos, espantos, experiências e encontros, seja com colegas, professores, ou famílias e, obviamente, com o conhecimento. Ao refletir sobre as minhas memórias na escola fiquei pensando sobre esse espaço único e que não podemos apenas reduzir aos saberes transmitidos dentro dos seus muros. Pensar a escola é refletir sobre os significados que cada indivíduo atribui a esse espaço de socialização, mesmo quando as avaliações de desempenho passam a representar seu único propósito.

Saudosismo ou não, ao pensar na escola, mais precisamente, no meu Ensino Fundamental, lembrei que além das matérias e dos conteúdos, estar no espaço escolar também envolveu sentimentos e emoções que se materializavam em conquistas que não estavam reduzidas à aprovação no final do ano. A escola permite criar um mundo cheio de códigos estudantis e regras de sociabilidade próprias, que podem ser observadas na sala de aula, pátio e corredores.

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Escola Estadual de 1º e 2º Grau Cassiano do Nascimento.




Vidas negras importam ou não importam?

 



Nos últimos meses algo tem incomodado muito uma parcela da população mundial, principalmente, assim como parte da população brasileira. Durante a pandemia se acirraram as desigualdades, e tem sido um momento para olhar mais para si permitindo aflorar diversos sentimentos. Algumas pessoas mobilizam sentimentos otimistas e coletivos, pois visualizam uma transformação no mundo capaz de o deixar mais harmonioso, igualitário e empático. Outros, mergulham em um looping vertiginoso de temor e medo do futuro e se agarram ao passado que parece mais confortante, assim procuram evitar encarar a si mesmos e dar os passos necessários em direção oposta à segurança da sua bolha.

As pessoas pertencentes a esse segundo grupo tendem a refletir sempre com base no mérito pessoal, na busca e manutenção de privilégios, por fim, se relacionam com o mundo a partir do seu individualismo, dizendo: se eu posso, todos os outros podem! Justificam que o sol nasce para todos, mas esquecem dos contextos em que esse sol se faz presente. Mesmo o sol como metáfora de uma igualdade ou democracia da natureza que rege todas as coisas, ainda assim a sua incidência é afetada por questões geográficas e geológicas. O sol nascer para todos parece ser uma premissa verdadeira, mas precisamos estar cientes que ele não se faz igual para todos.

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O direito à informação como Direito Humano (Autor: Cristiano Mezzaroba)


        Muito se tem falado sobre fake News (notícias falsas) e sobre o quanto elas têm dificultado processos que ocorrem no interior das dinâmicas sociais, políticas, comunicacionais e culturais desse nosso modo moderno de viver. Também ouvimos quanto às abordagens dos veículos midiáticos, sejam eles “tradicionais” (como mídia impressa, rádio, televisão) ou “digitais” (a partir das múltiplas possibilidades que a internet proporciona em aglutinar todas as outras mídias), suas supostas neutralidades, suas posições ideológicas e seus interesses mercadológicos.

Se há algo não conflitante nesse debate e nessas compreensões, é que sabemos que as informações produzidas e veiculadas pelo conjunto dessas mídias participa ativamente da configuração de modos de conhecimento e subjetivação, ajudando-nos a formar imagens e representações das questões que envolvem a vida, as “coisas”, as relações, o mundo de forma geral.


Quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), proposta pela ONU – Organização das Nações Unidas, em 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial, foi elaborada, a sua conotação bastante humanista preponderava em seus artigos, pregando, entre outros “direitos”, a liberdade, a justiça, a paz e a dignidade. A Assembleia Geral da ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos “[...] como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional” (DUDH, 2020).

Não sejamos totalmente ingênuos em relação aos propósitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, porque a pretensão de universalidade (algo comum) a todos homens e todas mulheres esconde a possibilidade de respeitar todas as diferenças quando identificamos particularidades nos povos humanos existentes, ou seja, a valorização da diversidade cultural. Se houver imposição de determinados valores, supostamente “universais”, a outros povos (diferentes da “minha cultura”), estaremos realizado um ato de etnocentrismo, determinando que todos os demais devem se basear em um “padrão” particular. Ou seja, tratar a cultura como algo universal é algo questionável, visto que as culturas são singulares, são particularidades, fazem parte de determinados povos (têm um significado relacionado) – para analisá-las, não precisamos “ter a mesma cultura”, mas sim “compreendê-las”, entendê-las como algo diferente (mas nem por isso, melhor ou pior).

Passadas mais de oito décadas da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e com o mundo mais globalizado, midiatizado e tecnologizado, a rapidez do trânsito de informações apresenta-se como algo ambíguo: ao mesmo tempo que nos ajuda em muitos aspectos, também se coloca como um novo problema a enfrentarmos, ou seja, é necessário que pensemos no direito à informação como um direito humano também!

Assim, opto por tecer algumas breves reflexões em torno de uma educação em direitos humanos (EDH) e possibilidades que a minha inserção profissional, como docente e pesquisador do campo da educação e comunicação me permite, pensando na (boa) informação como direito humano.

Pensar a educação em direitos humanos é trazer à discussão questões que envolvem minorias étnico-raciais, gênero, crianças, jovens, adultos, idosos etc., enfim, aquilo que se configura enquanto princípios fundamentais que configuram a EDH, que, segundo as Diretrizes Nacionais da EDH (2002), envolve: dignidade humana; igualdade de direitos; reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; laicidade do Estado; democracia na educação; transversalidade, vivência e globalidade; e, sustentabilidade socioambiental.

Detenho-me àquilo ao qual estudo cotidianamente, que é pensar que, atualmente, o direito à informação vem se configurando também como um direito humano. Assim, pensamos a mídia como um espaço estratégico dentro dessa modalidade educacional, ou seja, as relações que envolvem o campo comunicacional com o campo educativo devem ser valorizadas no sentido de uma educação que considere os veículos midiáticos, enquanto produtores e veiculadores de produtos culturais que implicam em símbolos e significados que (des)educam a sociedade de modo geral.

Orofino (2005), em seu livro “Mídias e mediação escolar – Pedagogia dos meios, participação e visibilidade”, defende que pensar e atuar no contexto educacional requer conhecer teorias sobre mídia e comunicação, compreendendo que os processos realizados pela cultura midiática se caracterizam como um processo sócio-histórico.

Primeiramente é preciso reconhecer que todo lugar é lugar de EDH (não apenas o espaço formal da educação, como escolas e universidades), e o reconhecimento de articulações que envolvem a transversalidade no contexto educativo são construções históricas a partir de lutas sociais, envolvendo afirmações de valores que envolvem dimensões ética, política e social.

Certamente a proposição de Orofino (2005), quanto a uma pedagogia dos meios, baseada na pedagogia freireana de “leitura do mundo”, envolvendo uma alfabetização midiática que permita aos sujeitos não apenas consumirem o que é ofertado pela mídia, mas sentirem-se produtores ativos, reflexivos e criativos de produtos audiovisuais/textuais no sentido de transformação de seus universos socioculturais, envolve redimensionar a ideia que temos de protagonismo e de democratização da informação no contexto escolar.

Enquanto dimensão dos direitos humanos, entender a complexidade que envolve o aparato midiático, a construção e veiculação da informação, as ideologias presentes nos produtos culturais produzidos pela mídia em seu conjunto, possibilitará exercer o direito à cidadania, não de maneira ilusória ou na forma de uma democracia meramente representativa, mas devolvendo o aspecto participativo à democracia.

O momento em que vivemos no Brasil, de domínio da extrema-direita, sua política de destruição de direitos e de estimulação de conflitos de toda ordem, executados de forma diária pelos mais diversos sujeitos/poderes do Estado nacional, exige que aprendamos e valorizamos de forma cada vez mais intensa todos os princípios que envolvem os direitos humanos. E aos “donos da mídia” cabe também a reflexão de suas responsabilidades quanto ao papel que desempenham na sociedade: adiantará, depois de muito sofrimento, muita destruição e muitas mortes, elaborar editoriais (décadas depois) assumindo mea culpa pelas suas omissões?


*As reflexões foram possíveis pela minha participação na Jornada “Educação em Direitos Humanos”, realizada pela EaD Freireana, do Instituto Paulo Freire, realizada no mês de maio de 2020.


REFERÊNCIAS:

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language.aspx?LangID=por. Acesso em: 11 out. 2020.

OROFINO, Maria Isabel. Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e visibilidade. São Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire, 2005.


CRISTIANO MEZZAROBA

Com formação em Educação Física e também em Ciências Sociais, ambos pela UFSC; mestrado em Educação Física (UFSC, 2006-2008) e doutorado em Educação (UFSC, 2014-2018), é professor, desde 2010, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe, onde também atua, desde 2019, no Programa de Pós-Graduação em Educação (Linha Educação e Comunicação). Criou e coordena o GEPESCEF - Grupo de Estudos e Pesquisas Sociedade, Cultura e Educação Física (DEF/CCBS/UFS) e tem participado do Laboratório de Pesquisas Sociológicas Pierre Bourdieu (LAPSB/UFSC) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq).



O saber escolar, um quebra-galho árduo dentro e fora do futebol

 


No Brasil, em meio às mudanças e adequações que o futebol sofre em razão da pandemia do COVID-19, um jogador tem recebido destaque e diferentemente das carreiras meteóricas, essa é cheia de desafios e decisões que, em geral, não são apresentadas com clareza no noticiário esportivo. Uma carreira que desabrocha e amadurece, não mais com 20 poucos anos, mas na casa dos 30 e com data de término definida.

Enquanto escrevo, os debates esportivos estão falando desse jogador, um grande quebra-galho e árduo atleta – com perdão do péssimo trocadilho. O profissional em questão é Thiago Galhardo, jogador do Sport Club Internacional, artilheiro do campeonato brasileiro da Série A em 2020, até o momento.

Galhardo, assim ele é conhecido pelos torcedores, tem uma carreira distinta daquela que o imaginário popular espera. O mito de origem sobre a família paupérrima que se dedica para entrar e permanecer nas categorias de base de um grande clube de futebol, não se sustenta sequer em aparência. Thiago é representante de um grupo social pertencente às classes populares, com limitações de acesso e que vivencia a desigualdade social presente no país, mas a narrativa de que o esporte é a única opção de sucesso na vida não é evidente, pois uma dupla carreira sempre fez parte de seu projeto familiar.

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Entrevista com o Educador Social Sérgio Oliveira Junior, Projeto Aprendiz FAEPESUL

O Educador Social Sérgio Oliveira Jr (Mano), atua na capacitação profissional junto as turmas de jovens aprendizes na cidade de Tubarão/SC. Durante a entrevista, o Educador, fala sobre sua trajetória docente, experiências profissionais, seu trabalho no Projeto Projeto Aprendiz FAEPESUL e apresenta algumas dicas para os jovens que desejam entrar ou permanecer no mundo do trabalho.

Venha ser FAEPESUL!!!

ASSISTIR EM:

https://www.youtube.com/watch?v=8bd7MN_soyc&feature=youtu.be

Lazer e ativismo: LGBTs desafiam homofobia no futebol (Reportagem de Lucas Koehler)


No esporte mais popular do Brasil, gays e bissexuais tentam quebrar domínio heterossexual.

Para muitos homens, jogar o futebol é o principal lazer da semana, quase um ritual. Conhecidas como “peladas”, as partidas são os momentos para se divertir com amigos da faculdade, reunir a família e organizar colegas de trabalho para chutar uma bola e reclamar dos problemas que teve com o chefe da empresa.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015, 38% da população brasileira com mais de 15 anos praticava algum esporte ou atividade física, sendo que 59% eram homens. Entre as modalidades, o futebol é o favorito para 15,3 milhões de pessoas, representando 40% dos praticantes de algum esporte.

Mas entre os seus colegas de time, existem algum que seja homossexual? Quantas vezes você já jogou futebol com um gay? Afinal, como é para gays e bissexuais praticarem o esporte mais popular do país em partidas compostas, em sua maioria, por heterossexuais?

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https://omirantejoinville.com.br/2019/02/28/lazer-ativismo-lgbts-desafiam-homofobia-no-futebol/

Fantasia F.C.: a desilusão no futebol da garotada (Repórter Natan Cauduro)


Pesquisadores e análise de dados revelam a realidade do estudante-atleta dentro e fora do Brasil.

Ser jogador profissional de futebol é um sonho que marca golaço na cabeça de milhares de jovens pelo mundo. Viver do esporte, jogar nos melhores clubes, ganhar dinheiro e fama e ver a torcida vibrando na hora do gol são imaginários que rondam a mente desses adolescentes. A ideia, por si só, é carregada de fascinação, e pode justificar a busca incessante por uma carreira dentro e fora do país.

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